domingo, 30 de março de 2014

MULHERES DE ATENAS

Li certa vez que a Grécia antiga, a primeira a falar de Democracia, tinha particularidades culturais, que fazem qualquer feminista ou qualquer discussão de gênero, concluir o machismo daquela sociedade e a submissão das Mulheres. A Grécia vivia em Guerras. Por isto o Guerreiro era tido como o Top daquele tempo. Viviam mais tempo guerreando do que em seus lares.

Para aqueles soldados, mais valia a eles uma relação com homens do que com Mulheres. A Sociedade Grega, cultuava a relação homo afetiva, ela dava status. Já as Mulheres, tinha papel secundário. Reprodutora, de preferência de Meninos, senhora do lar. Valiam menos do que um cavalo. Ficam em casa a espera de seus homens e prontas para servir.

Augusto Boal escreveu e montou a peça Mulheres de Atenas em 1976. Sua intenção era retratar a partir da mitologia grega o universo daquelas mulheres. Chico em parceria com Boal, fez este fado português com arranjos medievais, esbanjando no final de cada frase, as Helenas, Falenas, Cadenas, Atenas e por aí vai. Era o Chico redondilhas, como ficou famoso na época.

Os movimentos feministas caíram de pau em Francisco. O acusara de promover o Machismo, a submissão, a violência. Chico em entrevista na época, disse: Você não entenderam nada. O Mire-se no Exemplo, é para ser entendido como o contrario não façam e não sigam o exemplo das Atenienses.

Polêmica a parte, Mulheres de Atenas, é fantástica, na capacidade melódica, histórica e claro reflexiva, inclusive nos dias atuais. A canção esta no disco Caros Amigos de 1976.


Link do Vídeo: http://zip.net/bhmXRd .

GENI E O ZEPELIM

Chico Buarque ao conceber o texto da peça a Ópera do Malandro em 1978, talvez não teria a dimensão de que os fatos ali narrados, são muito atuais. O personagem Duram um cafetão se envolve no mundo dos negócios escusos, naquele Brasil dos anos 40, do jogo do bicho, da contravenção, da prostituição e dos cassinos.

Transportado para os dias atuais, vamos nos deparar com o crime organizado, mantido por policiais, empresários e políticos corruptos. O crime organizado não é mais peça de ficção e sim realidade. A Ópera do Malandro teve direção de Luiz Carlos Martinez Corrêa e foi baseada na Ópera dos Mendigos e a Ópera dos Três vinténs.

Quando a música começou a tocar no rádio, ninguém percebeu que a Geni da Música não era uma Mulher. As pessoas só se aperceberam quando viram na peça se tratar de um Travesti.
Chico vai trabalhar na canção, o tema do preconceito á prostitutas e aos Homossexuais. Vai traçar o plano de uma cidade e suas elites em explorar e excluir os pobres e desvalidos da terra. Transformam-se quando o novo aparece na cidade, o senhor do Zepelim, tal como o Salvador, decidi destruir com todos. Porem seriam salvos se Geni aceita-se ser a dama da noite do Senhor.

Geni e o Zepelin coloca novamente a discussão de Gênero, incluindo os Gays neste universo. 
A trilha sonora do espetáculo foi lançada em 1977. O interessante a censura nada viu.

Link do Vídeo: http://zip.net/bxmYtL .


FOLHETIM

Tratar de temas polêmicos, como Homossexualidade, Aborto e outros tem sido difícil e conflituoso nestes tempos de democracia. A resistência conservadora e moralista, bem como preconceituosa, rebaixa o debate e não faz avançar a sociedade no tema de defesa de que todos tem direitos, inclusive o de se prostituir e fazer disto uma profissão.

Agora imagine a dificuldade de oferecer temas como estes durante o regime militar. Os Militares eram moralistas ao extremo, utilizavam deste expediente para justificar suas atitudes e ações autoritárias e repressoras. É a concepção do militarismo que confunde disciplina com moral.

Folhetim foi composta para a peça Opera do Malandro, onde é trilha para um dos personagens. Ambientada nos anos 30, o roteiro conta a História de dois malandros e suas gangues em disputa, no submundo da contravenção, onde a Prostituição é um artigo comercializado.

Chico Buarque mais uma vez, escreveu pensando em uma interprete que desse delicadeza a canção. A letra navega pela História de uma Prostituta e seu dia de trabalho. Contada com ternura e viés poético acende sem dúvida, o debate sobre a profissionalização da atividade. Não poderia ser outra cantora a gravar esta linda canção, senão Gal Costa.

No LP gravado entre 1977 e 1978, é Nara Leão que empresta sua voz a Trilha do espetáculo.


Link do Vídeo: http://zip.net/bwmXny .

O MEU AMOR

Uma das cenas mais impactantes da peça a Opera do Malandro de Chico Buarque, é o duelo entre as personagens Teresinha e Lucia, pelo Amor do malandro Max Overseas. A primeira personalizada por Marieta Severo e a segunda por uma Elba Ramalho, jovenzinha, mas linda e já cantando como nunca.

O Meu Amor, tem a estrutura de um desafio, um repente nordestino. As duas atrizes dialogam cantando ou melhor brigam e ao mesmo tempo demonstram seu jeito de amar. Tudo isto na presença do Amante. A letra traz os argumentos das duas mulheres. Delicada como quase todas as canções de Chico sobre as Mulheres, a letra se torna sensual pacas.

A música aparece pela primeira vez no LP Chico Buarque de 1978, aquele da capa onde o compositor aparece atrás de uma samambaia.


Link do Vídeo: http://zip.net/bymX99 .

SONHOS SONHOS SÃO

Estava com um projeto de escrever um livro de ficção, sobre a História de minha cidade, lá pelo ano de 2007. Não consegui até hoje. Mas ao conversar com várias pessoas sobre o assunto, um destes papos ficou gravado. Foi com um Jornalista, que me indicou como laboratório para escrever a obra, o disco A Cidades, do Chico. Quando de seu lançamento, em 1998, ouvi o CD. Fiquei encantado.

Chico ficou sem gravar por vários anos. E aí aparece com um disco todo autoral, que chama a atenção já pela capa, onde vários Chicos são apresentados, travestidos com vestes típicas de varias nações. Na contra capa, é o indicio de que o disco, trabalha realidade com utopia. Imagens de locais reais, se confundem com locais imaginários. Meu amigo Jornalista, chamava a atenção para o que eu não tinha visto, nas audições do disco.

O imaginário na obra Buarquiana. Mas não como fantasia e sim como Utopia, possível. Fica claro em varias composições de Chico Buarque, sua predileção pelo Realismo Fantástico ou Mágico de um Garcia Marquez. A canção Sonhos, Sonhos São, traz o Narrador falando com seu Amor, e revela seus sonhos, em relação ao Mundo. Expõem a conjuntura de crise econômica da época, gerando fome e miséria no mundo e diz qual seu sonho. Metaforicamente, passeia entre a possibilidade da conquista amorosa e um mundo melhor, mais igualitário.

Chico apesar de utópico nesta canção não é otimista. Tanto que a ultima estrofe revela seu pessimismo (pelo menos naquele momento), de que Sonhos São, tanto em relação á melhora da humanidade, como na conquista da Mulher da letra.


Link do Vídeo: http://zip.net/bvmX5Y .

PEDAÇO DE MIM

Dia 15 de março minha mãe completariam 74 anos de vida. Seu falecimento, acometida de um câncer, nos fez ter um sentimento nos primeiros anos de perda de um pedaço do corpo. Como se mãe e filhos fossem uma única pessoa, constituída de todos os órgãos do corpo humano.

Chico Buarque, escreve nesta canção, este misto de dor, saudade, este arrancar, um nabo de carne, em especial o que nos mantem vivos. A perda na música, pode ser interpretada de varias formas e jeitos. A poesia Buarquiana e sua capacidade de construir metáforas, é genial.

Podemos olhar o contexto em que a obra foi feita e chegar a conclusão, que Chico fala dos filhos da Classe Média, mortos pela Ditadura Militar. Ainda o sentimento da morte de Zuzu Angel, dois anos antes. A estilista era muito amiga do compositor. Outra possibilidade, é a critica ao Regime, que tirou a Liberdade, a metade adorada de mim, como diz a letra.

Mais uma vez Chico, escreve com alma feminina, pois só as mulheres, tem a capacidade de enxergar uma perda desta forma, como se um pedaço do que foi gerado, fosse tirado, violentado, rasgado do útero. Pedaço de Mim, esta na Trilha de Opera do Malandro, mas foi lançada no disco do Chico Buarque de 1978.


Link do Vídeo: http://zip.net/bjmXt4 .

TERESINHA

Quem quando menina (meninos também), não brincou cantando: Terezinha de Jesus de uma queda foi ao chão, acudiram três cavaleiros, todos de chapéu na mão. A canção infantil, prossegue revelando quem são os cavaleiros. O primeiro o Pai, o segundo seu irmão e o terceiro, aquele que Tereza lhe deu a mão.

Tal qual estas quadras do cancioneiro infantil, Chico Buarque, que com certeza cresceu vendo suas irmãs, cantarem Terezinha, se inspirou para escrever esta valsa linda, singela e delicada, como pede as canções de amor.

A Teresinha de Chico foi feita, para personagem de mesmo nome da peça Ópera do Malandro. Filha de um deles se apaixona por um contraventor com fortes ligações com a policia. Um malandro, mulherengo que vai destruir o coração da menina frágil do espetáculo.

Mas Teresinha a canção, não apresenta uma mulher submissa, nem tão pouco fraca. Os amores passavam por sua vida, com suas Histórias e estratégias para conquista-la. Ela serena e decidida, avalia cada um deles. Descarta o que com dinheiro a quem comprar (o primeiro), igualmente diz não ao segundo que com violência e obsessão a tenta domar.

Mas foi terceiro, sem nada nos bolsos, afetuoso, carinhoso e participativo, sem promessas é que ela vai dizer sim. A canção aponta mais uma vez para questão de Gênero, da mulher como parte da sociedade, como gente em uma relação. Sai o objeto, e entra a Mulher.

Teresinha foi lançada no disco da Trilha Sonora da Ópera do Malandro, em 1977.


Link do Vídeo: http://zip.net/bnmXyB .