sábado, 30 de novembro de 2013

REFAZENDA

Aprendi que é preciso sempre fazer revisões. A expressão em sí, chama talvez a um reformismo e não a mudanças profunda nas coisas e na vida. Quem ao menos uma vez por ano, não mexe naquela gaveta velha, naquele armário de entulho, ou na prateleira repleta de livros. Na maioria das vezes o objetivo é se desfazer do que não serve mais para nosso cotidiano. Nessa de revisitar nossa coisas entulhadas em um local, revemos Histórias.

Nesta revisão, quase sempre há um que de saudades. Mas há também, a necessidade de afirmar, poderia ser diferente, ou posso resgatar esta ideia, ela ainda é atual, encaixa nos meus projetos do presente e do futuro. Karl Marx, ao escrever o método cientifico do materialismo dialético, coloca ser a analise da História fundamental para se pensar o presente e o futuro. Marx ao se apoiar na dialética de Hegel, ele mesmo refaz a teoria de seu professor, revendo-a e a aprimorando.

Gilberto Gil em uma Biografia autorizada, Gilberto Bem de Perto, de Regina Zappa, afirma ser Metafisico e não dialético. Não concordo com o artista. Sua obra o desmente. Não vejo nada que confirme uma obsessão pelo não mudar, pelo tempo do aqui e agora. Pelo contrario. A dialética é viva no conjunto do trabalho de Gil. Quando desponta para música, era um bossa novista, mas já com tinturas próximas da música de protesto. Aí ele se reinventa e reinventa a MPB com o Tropicalismo. Esta reinvenção é regra em Gilberto Gil.

Em 1975, estava com doze anos. A MPB já tinha entrado na veia. Não ouvia ou via muito da chamada MPB, até porque as rádios eram inundadas de um estrangeirismo escandaloso. Mas o pouco que tinha contato já bastava. Para mim, a primeira faixa do disco Refazenda, chamava-se Abacateiro. Esta canção foi a mais tocada nas rádios naquele tempo. Só fui descobrir, o titulo correto, uns três anos depois, quando ouvi o disco todo.

Refazenda, é o LP, que inicia uma trilogia que o próprio Gil afirmou na época que faria. E os objetivos estavam claros, no disco e nas declarações do compositor. Dizia Gilberto Gil, a época: Cansei de ser Vanguarda, é preciso voltar ao que já fiz, recontar minha História. Mal sabia Gil, que mais uma vez estava no Vanguardismo da Música Brasileira. Refazenda inaugura ou consolida, a ideia dos discos temáticos, tão utilizados no Rock Progressivo.

E Refazenda, é a volta ao sertão, á roça, a caatinga do nordeste, as coisas simples do sertanejo. É Gil falando de suas origens no interior da Bahia, contando a História de sua Família, do Nordestino. O disco é para Dominguinhos, o cara esta em todas as faixas, além de ter Eu tenho Sede e Lamento Sertanejo no Setlist do discão. Clic e ouça Lamento Sertanejo: http://brzu.net/04tnz .

Portanto Refazenda, a música é a tradução deste revisitar o Brasil Sertanejo, em um tempo de desenvolvimento industrial e êxodo no campo. Clic e ouça Refazenda: http://brzu.net/04to0 .

Refazenda
Abacateiro acataremos teu ato
Nós também somos do mato como o pato e o leão
Aguardaremos brincaremos no regato
Até que nos tragam frutos teu amor, teu coração
Abacateiro teu recolhimento é justamente
O significado da palavra temporão
Enquanto o tempo não trouxer teu abacate
Amanhecerá tomate e anoitecerá mamão
Abacateiro sabes ao que estou me referindo
Porque todo tamarindo tem o seu agosto azedo
Cedo, antes que o janeiro doce manga venha ser também
Abacateiro serás meu parceiro solitário
Nesse itinerário da leveza pelo ar
Abacateiro saiba que na refazenda
Tu me ensina a fazer renda que eu te ensino a namorar
Refazendo tudo
Refazenda
Refazenda toda
Guariroba


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