Se Vinicius de Moraes,
estivesse entre nós completaria no dia de hoje, seu centenário de vida. Uma
vida bem vivida. Sua História de dedicação, a poesia, considerando, sempre seu
cotidiano, em uma linguagem voltada ao Amor, a Paz e a Solidariedade. Vinicius
viveu varias fases em sua obra. Escreveu sonetos e versos falam do Amor Carnal,
do transcendental. Respirou momentos de reflexão sócio politica, Rosa de
Hiroshima e as canções de protesto contra a ditadura ou o poema dialético
classista, lido em 1979, em um Estádio de Vila Euclides, lotado de
trabalhadores do ABC Paulista. Com o Operário em Construção, o poetinha transcendia
o mágico para atingir o real.
Ontem assisti ao espetáculo “Arca
de Noé”, versão de música e dança, feita pela Orquestra Sinfônica de Limeira,
sob a regência do Maestro Rodrigo Muller. O Teatro Vitória, lotado de adultos
que eram crianças ou adolescentes, quando o disco lançado em 1980, mostrou a
poesia de Vinicius para crianças. Repleto esta também o teatro de crianças,
filhos e netos daquela geração. Levei minha filha e meu neto Pietro de quatro
anos. Minha filha, conheceu as músicas logo em seu nascimento. Pietro dormia já
aos dois meses, aos som de o Pato. Clic aqui e ouça: http://brzu.net/04o01
.
Meu neto vibrou e vidrou, na
coreografia da Companhia Limeirense de dança da minha amiga Glaucia Bilatto. A
visão futurista da Arca, com um cenário, fixo e virtual, casou bem com o
figurino, de uma peça só, colando no corpo, com riscos e desenhos, lembrando
animais da Arca. A maquiagem das Bailarinas e Bailarinos, trouxe a leveza do
mundo animal para o palco. Os movimentos clássicos, se encaixaram perfeitamente
na melodia popular dos arranjos da Vila Jazz e do Maestro. O momento de maior
perfeição, foi a canção “A Foca”. Clic aqui: http://brzu.net/04o03
.
Os poemas da Arca de Noé,
foram escritos ao longo da vida de Vinicius. Eles eram feitos para seus filhos,
Suzana e Pedro de Moraes. Feitos e guardados, sem intenção de publica-los. Em
1970, vivendo na Itália, resolveu reuni-los em um livro. E aí foi lançado lá e
posteriormente no Brasil naquele ano. Foi em terras Italianas que Vinicius de
Moraes, foi apresentado a um grande músico, amigo de Chico Buarque de Holanda,
exilado que estava por lá. Toquinho vai se transformar durante os últimos dez
anos da vida do Poetinha seu parceiro musical (o maior) e amigo. Com o
paulistano Toquinho o carioca Vinicius, irá colocar música nos poemas. Clique
aqui e ouça “A Casa”: http://brzu.net/04o04 .
Só dez anos depois um pouco
antes de sua morte, em 1980, que a obra completa, letra e melodia. E aí saí
dois discos, com o titulo “A Arca da Noé”. Neste disco, um seleto grupo de
artistas da MPB, vão emprestar sua vóz, aos maravilhosos arranjos, entre eles
de Rogério Duprat. Só para ficar em alguns: Elis Regina (Corujinha), Walter
Franco (O Relógio), Marina Lima (A Gata), Ney Mato Grosso (São Francisco). Mas
a faixa titulo, é brilhantemente interpretada por Milton Nascimento e Chico
Buarque. Ouça aqui: http://brzu.net/04o05 .
A Arca de Noé
Vinicius de Moraes
Sete em cores, de repente
O arco-íris se desata
Na água límpida e contente
Do ribeirinho da mata
O arco-íris se desata
Na água límpida e contente
Do ribeirinho da mata
O sol, ao véu transparente
Da chuva de ouro e de prata
Resplandece resplendente
No céu, no chão, na cascata
Da chuva de ouro e de prata
Resplandece resplendente
No céu, no chão, na cascata
E abre-se a porta da arca
Lentamente surgem francas
A alegria e as barbas brancas
Do prudente patriarca
Lentamente surgem francas
A alegria e as barbas brancas
Do prudente patriarca
Vendo ao longe aquela serra
E as planícies tão verdinhas
Diz Noé: que boa terra
Pra plantar as minhas vinhas
E as planícies tão verdinhas
Diz Noé: que boa terra
Pra plantar as minhas vinhas
Ora vai, na porta aberta
De repente, vacilante
Surge lenta, longa e incerta
Uma tromba de elefante
De repente, vacilante
Surge lenta, longa e incerta
Uma tromba de elefante
E de dentro de um buraco
De uma janela aparece
Uma cara de macaco
Que espia e desaparece
De uma janela aparece
Uma cara de macaco
Que espia e desaparece
"Os bosques são todos meus!"
Ruge soberbo o leão
"Também sou filho de Deus!"
Um protesta, e o tigre - "Não"
Ruge soberbo o leão
"Também sou filho de Deus!"
Um protesta, e o tigre - "Não"
A arca desconjuntada
Parece que vai ruir
Entre os pulos da bicharada
Toda querendo sair
Parece que vai ruir
Entre os pulos da bicharada
Toda querendo sair
Afinal com muito custo
Indo em fila, aos casais
Uns com raiva, outros com susto
Vão saindo os animais
Indo em fila, aos casais
Uns com raiva, outros com susto
Vão saindo os animais
Os maiores vêm à frente
Trazendo a cabeça erguida
E os fracos, humildemente
Vêm atrás, como na vida
Trazendo a cabeça erguida
E os fracos, humildemente
Vêm atrás, como na vida
Longe o arco-íris se esvai
E desde que houve essa história
Quando o véu da noite cai
Erguem-se os astros em glória
E desde que houve essa história
Quando o véu da noite cai
Erguem-se os astros em glória
Enchem o céu de seus caprichos
Em meio à noite calada
Ouve-se a fala dos bichos
Na terra repovoada
Em meio à noite calada
Ouve-se a fala dos bichos
Na terra repovoada