sábado, 19 de outubro de 2013

A ARCA DE NOÉ

Se Vinicius de Moraes, estivesse entre nós completaria no dia de hoje, seu centenário de vida. Uma vida bem vivida. Sua História de dedicação, a poesia, considerando, sempre seu cotidiano, em uma linguagem voltada ao Amor, a Paz e a Solidariedade. Vinicius viveu varias fases em sua obra. Escreveu sonetos e versos falam do Amor Carnal, do transcendental. Respirou momentos de reflexão sócio politica, Rosa de Hiroshima e as canções de protesto contra a ditadura ou o poema dialético classista, lido em 1979, em um Estádio de Vila Euclides, lotado de trabalhadores do ABC Paulista. Com o Operário em Construção, o poetinha transcendia o mágico para atingir o real.

Ontem assisti ao espetáculo “Arca de Noé”, versão de música e dança, feita pela Orquestra Sinfônica de Limeira, sob a regência do Maestro Rodrigo Muller. O Teatro Vitória, lotado de adultos que eram crianças ou adolescentes, quando o disco lançado em 1980, mostrou a poesia de Vinicius para crianças. Repleto esta também o teatro de crianças, filhos e netos daquela geração. Levei minha filha e meu neto Pietro de quatro anos. Minha filha, conheceu as músicas logo em seu nascimento. Pietro dormia já aos dois meses, aos som de o Pato. Clic aqui e ouça: http://brzu.net/04o01 .

Meu neto vibrou e vidrou, na coreografia da Companhia Limeirense de dança da minha amiga Glaucia Bilatto. A visão futurista da Arca, com um cenário, fixo e virtual, casou bem com o figurino, de uma peça só, colando no corpo, com riscos e desenhos, lembrando animais da Arca. A maquiagem das Bailarinas e Bailarinos, trouxe a leveza do mundo animal para o palco. Os movimentos clássicos, se encaixaram perfeitamente na melodia popular dos arranjos da Vila Jazz e do Maestro. O momento de maior perfeição, foi a canção “A Foca”. Clic aqui: http://brzu.net/04o03 .

Os poemas da Arca de Noé, foram escritos ao longo da vida de Vinicius. Eles eram feitos para seus filhos, Suzana e Pedro de Moraes. Feitos e guardados, sem intenção de publica-los. Em 1970, vivendo na Itália, resolveu reuni-los em um livro. E aí foi lançado lá e posteriormente no Brasil naquele ano. Foi em terras Italianas que Vinicius de Moraes, foi apresentado a um grande músico, amigo de Chico Buarque de Holanda, exilado que estava por lá. Toquinho vai se transformar durante os últimos dez anos da vida do Poetinha seu parceiro musical (o maior) e amigo. Com o paulistano Toquinho o carioca Vinicius, irá colocar música nos poemas. Clique aqui e ouça “A Casa”: http://brzu.net/04o04 .

Só dez anos depois um pouco antes de sua morte, em 1980, que a obra completa, letra e melodia. E aí saí dois discos, com o titulo “A Arca da Noé”. Neste disco, um seleto grupo de artistas da MPB, vão emprestar sua vóz, aos maravilhosos arranjos, entre eles de Rogério Duprat. Só para ficar em alguns: Elis Regina (Corujinha), Walter Franco (O Relógio), Marina Lima (A Gata), Ney Mato Grosso (São Francisco). Mas a faixa titulo, é brilhantemente interpretada por Milton Nascimento e Chico Buarque. Ouça aqui: http://brzu.net/04o05 .


A Arca de Noé

Vinicius de Moraes

Sete em cores, de repente
O arco-íris se desata
Na água límpida e contente
Do ribeirinho da mata
O sol, ao véu transparente
Da chuva de ouro e de prata
Resplandece resplendente
No céu, no chão, na cascata
E abre-se a porta da arca
Lentamente surgem francas
A alegria e as barbas brancas
Do prudente patriarca
Vendo ao longe aquela serra
E as planícies tão verdinhas
Diz Noé: que boa terra
Pra plantar as minhas vinhas
Ora vai, na porta aberta
De repente, vacilante
Surge lenta, longa e incerta
Uma tromba de elefante
E de dentro de um buraco
De uma janela aparece
Uma cara de macaco
Que espia e desaparece
"Os bosques são todos meus!"
Ruge soberbo o leão
"Também sou filho de Deus!"
Um protesta, e o tigre - "Não"
A arca desconjuntada
Parece que vai ruir
Entre os pulos da bicharada
Toda querendo sair
Afinal com muito custo
Indo em fila, aos casais
Uns com raiva, outros com susto
Vão saindo os animais
Os maiores vêm à frente
Trazendo a cabeça erguida
E os fracos, humildemente
Vêm atrás, como na vida
Longe o arco-íris se esvai
E desde que houve essa história
Quando o véu da noite cai
Erguem-se os astros em glória
Enchem o céu de seus caprichos
Em meio à noite calada
Ouve-se a fala dos bichos
Na terra repovoada


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