domingo, 13 de outubro de 2013

TANTO MAR

Quem não conhece a História do Brasil e do Mundo, basta ouvir a obra musical de Francisco Buarque de Holanda e saberá tudo o que aconteceu nos últimos 60 anos. Os principais fatos, são narrados por Chico, com uma poesia digna de uma Camões e de um Pessoa. Sua capacidade de interpretar a História sob a ótica não dos poderosos, mas da massa pobre e trabalhadora é fascinante. Combinar os arranjos com as quadras poéticas, é único na MPB. Chico é insuperável no domínio da língua portuguesa.

A História narrada assim, discorreu sobre diversos assuntos e temas. Do operário (Pedro Pedreiro, Construção), da TV como veiculo de manipulação das massas (Roda Viva), homenagens á personalidades da Música e do Mundo (Paratodos, Angélica), contra a Ditadura no Brasil então, imensas canções (Apesar de Você, Cálice, Acorda Amor). Retratou outros Países, como Angola na figura de uma Mulher (Morena de Angola) e foi em Yolanda na parceria com o cubano Plabo Milanés, faz sua Ode a Cuba. Clic aqui e ouça Yolanda: http://brzu.net/04lnz .

Em 1975, Chico Buarque faz sua homenagem e retrata o que foi a Revolução dos Cravos. Foi em um Show com Maria Bethania, que Tanto Mar foi apresentada pela primeira vez. Na plateia estava um censor, um ex. Zagueiro da Seleção Brasileira de 1950, aquela que perdeu a copa em pleno Maracanã para o Uruguai. A canção não pode ser gravada com letra, toda censurada pela Ditadura. A canção original foi gravada naquele ano em Portugal em um compacto duplo, e no disco gravado com Bethania, apenas o Instrumental. Clic e ouça a versão instrumental: http://brzu.net/04lo1 .

A Revolução dos Cravos, tratou-se na verdade, de uma articulação (alguns chamam de golpe), entre Militares, Estudantes e Sindicalistas, que derrubou sem disparar mais do que meia dúzia de balas, a Ditadura de Salazar, que dominava o poder desde 1933. O Salazarismo, era a versão fascista de Mussolini, em Portugal. Com a Revolução, ocorre um ineditismo, naquele período. Pela primeira vez, as forças armadas são protagonistas de um movimento para restabelecer a democracia.

Tanto Amar narra na primeira versão o ocorrido, quase que em tempo real. O povo nas ruas em um 25 de Abril em plena Primavera na Europa. A Segunda versão é como uma critica aos resultados da Revolução. Os Versos já murcharam sua festa pá, mas certamente esqueceram uma semente, aponta para uma certa desilusão do autor com os frutos da Revolução, mas nunca a esperança de que ela pode dar certo.

Um fado, este é o arranjo, teve a segunda letra, para o disco Chico Buarque de 1978. A linda canção pode ser ouvida aqui: http://brzu.net/04lo2 .

1975
(primeira versão)* 
Sei que estás em festa, pá
Fico contente
E enquanto estou ausente
Guarda um cravo para mim
Eu queria estar na festa, pá
Com a tua gente
E colher pessoalmente
Uma flor do teu jardim
Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei também quanto é preciso, pá
Navegar, navegar
Lá faz primavera, pá
Cá estou doente
Manda urgentemente
Algum cheirinho de alecrim 
* Letra original,vetada pela censura; gravação editada apenas em Portugal, em 1975. 

1978
(segunda versão)

http://www.chicobuarque.com.br/img/ponto_verde.gif

 
Foi bonita a festa, pá
Fiquei contente
E inda guardo, renitente
Um velho cravo para mim
Já murcharam tua festa, pá
Mas certamente
Esqueceram uma semente
Nalgum canto do jardim
Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei também quanto é preciso, pá
Navegar, navegar
Canta a primavera, pá
Cá estou carente
Manda novamente

Algum cheirinho de alecrim 

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