domingo, 19 de maio de 2013

COMO NOSSOS PAIS


Esta canção ouvia muito nas rádios AM inclusive por volta de 1976. Elis Regina já fazia parte de meu imaginário, pré adolescente. Já a conhecia, pela Revista Intervalo, descoberta na casa de minha avó. Não sabia que a música que fazia sucesso, era de um compositor Cearense, lançado por Elis no disco Falso Brilhante. A cantora desde seu primeiro trabalho, tinha a grata mania de lançar novos compositores. Só para citar alguns: Edu Lobo, Ivan Lins, João Bosco e Aldir Blan, Claudio Nucci e muitos outros.

Belchior já tinha lançado um disco, com relativa repercussão, mais em Fortaleza de que no Sul/Sudeste Maravilha. Figura o bigodão como parceiro de Fagner, em canções como Mucuripe, A Palo Seco. Frequentador de Festivais daqueles anos 70, venceu com Na Hora do Almoço no IV Festival Universitário da Canção no Rio de Janeiro.

Mas é Elis Regina quem vai coroar Belchior como um dos mais importantes nomes da música naqueles anos setentistas. O Show Falso Brilhante de temporada recorde em um só local (Dois anos e meio no Teatro Bandeirantes), é que revelaria para o mundo sua obra. Tanto no disco, como no Show, há duas canções de Belchior, esta e Velha Roupa Colorida. As duas serão gravadas no LP Alucinação, o segundo do cantor e compositor Cearense.

Como Nossos Pais, é uma leitura daqueles tempos difíceis de Ditadura Militar e de perspectivas para a Juventude. Belchior é o compositor que mais traduz o cotidiano e o sentimento do Latino Americano. O refrão muito forte, delineia o que frequentemente ouvimos na fase adulta, muita gente dizer “Eu quando Jovem também queria mudar o mundo”. Se dar bem, cuidar da vida, sendo atraído pelo vil metal, pressupõe uma dicotomia de abandonar os sonhos as utopias.

A letra é uma critica a cooptação de antigos ídolos que se renderam ao sistema. Uma critica ao comodismo e ao fechar de olhos para as angustias do mundo coletivo. Belchior passeia por uma analise de consciência de sua própria geração, esmagada pelas botas dos Generais. É uma critica ao conformismo. Muito atual, a música um Blues Rock no arranjo do Cesar Camargo Mariano para a Elis, é uma Balada Blues na voz do compositor, nos faz refletir sobre o conformismo de muitos em relação ao mundo do século XXI.

Tanto o Disco Falso Brilhante da Elis Regina, como o Alucinação de Belchior, são de 1976. Eu cheguei a ter os dois em vinil, são imperdíveis. A mais recente regravação da canção, esta no ótimo disco da filha da Elis, Maria Rita, o CD “Redescobrir”, com faixas de músicas cantadas e consagradas pela maior cantora do Brasil.

Aqui deixo o link para o vídeo da música http://migre.me/eCobS  e a letra abaixo.


Como Nossos Pais

Não quero lhe falar, 
Meu grande amor, 
Das coisas que aprendi 
Nos discos...

Quero lhe contar como eu vivi 
E tudo o que aconteceu comigo 
Viver é melhor que sonhar 
Eu sei que o amor 
É uma coisa boa 
Mas também sei 
Que qualquer canto 
É menor do que a vida 
De qualquer pessoa...

Por isso cuidado meu bem 
Há perigo na esquina 
Eles venceram e o sinal 
Está fechado prá nós 
Que somos jovens...

Para abraçar seu irmão 
E beijar sua menina na rua 
É que se fez o seu braço, 
O seu lábio e a sua voz...

Você me pergunta 
Pela minha paixão 
Digo que estou encantada 
Como uma nova invenção 
Eu vou ficar nesta cidade 
Não vou voltar pro sertão 
Pois vejo vir vindo no vento 
Cheiro de nova estação 
Eu sei de tudo na ferida viva 
Do meu coração...

Já faz tempo 
Eu vi você na rua 
Cabelo ao vento 
Gente jovem reunida 
Na parede da memória 
Essa lembrança 
É o quadro que dói mais...

Minha dor é perceber 
Que apesar de termos 
Feito tudo o que fizemos 
Ainda somos os mesmos 
E vivemos 
Ainda somos os mesmos 
E vivemos 
Como os nossos pais...

Nossos ídolos 
Ainda são os mesmos 
E as aparências 
Não enganam não 
Você diz que depois deles 
Não apareceu mais ninguém 
Você pode até dizer 
Que eu tô por fora 
Ou então 
Que eu tô inventando...

Mas é você 
Que ama o passado 
E que não vê 
É você 
Que ama o passado 
E que não vê 
Que o novo sempre vem...

Hoje eu sei 
Que quem me deu a idéia 
De uma nova consciência 
E juventude 
Tá em casa 
Guardado por Deus 
Contando vil metal...

Minha dor é perceber 
Que apesar de termos 
Feito tudo, tudo, 
Tudo o que fizemos 
Nós ainda somos 
Os mesmos e vivemos 
Ainda somos 
Os mesmos e vivemos 
Ainda somos 
Os mesmos e vivemos 
Como os nossos pais...

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