terça-feira, 21 de maio de 2013

PARALELAS


Em meados de 1975, sintonizei pela primeira vez em um radio em minha casa, a Super Radio Tupi do Rio de Janeiro, da rede Associadas. Naquele tempo, como já disse em vários textos ouvia muito rádio e sempre tive um espirito bem garimpeiro, até hoje. Nas garimpagens, descobri o programa A Turma da Maré Mansa. Um programa de humor, que esteve no ar na Radio Tupi, entre os anos 70 e 80 do século passado.

Um programa leve que era dividido em esquetes curtos, que depois foram copiados em programas de TV, como Viva o Gordo e Chico City. Nele trabalharam grandes nomes do humor Brasileiro: Chico Anísio, Geraldo Alves, Orlando Drummond, Zezé Macedo, Rogério Cardoso, Brandão Filho, Zé Trindade e muitos outros. O programa era alternado, entre um quadro humorístico e uma música Brasileira. Eram os tempos em que as rádios tocavam muita musica estrangeira.

Foi numa desta noites (o programa ia ao ar das 21 ás 22h), que ouvi pela primeira vez Paralelas de Belchior. A interprete era Vanusa, da qual já conhecia dos cadernos de cifras do Tio Joaquim e dos Programas Populares da TV. A canção foi digamos a primeira do compositor Cearense que tocou em rádios com um relativo sucesso, embora ele não fosse ainda conhecido. Belchior terá sua consagração com Elis Regina.

Vanusa grava Paralelas no disco Amigos Novos e Antigos de 1975, uma de suas primeiras incursões pela chamada MPB, que além de Belchior traz João Bosco e Aldir Blanc e claro seu então marido Antônio Marcos. Com um inicio na Jovem Guarda, penso que Vanusa sempre foi uma injustiçada pela critica que insistiu (e insiste) em rotula-la como comercial demais. Sua obra é linda, com canções importantes, entre elas Manhãs de Setembro, Rotina e Mudanças.

Paralelas em seu conteúdo marca as reflexões de Belchior sobre o ser humano e seu cotidiano. Ela é uma critica ao cidadão moderno e mediano que se rende ao vil metal e fecha os olhos para os problemas da humanidade. Letra simples e profunda, é quase que uma confissão um arrependimento do personagem que se encantou com as vantagens do Capitalismo e que agora tenta se afastar. A canção também pode ser encontrada no disco Alucinação de 1976 de Belchior, na voz do autor em um arranjo de balada para dançar. Por enquanto vejam aqui o vídeo com Vanusa:

Paralelas

Dentro do carro
Sobre o trevo
A cem por hora, ó meu amor
Só tens agora os carinhos do motor
E no escritório em que eu trabalho
e fico rico, quanto mais eu multiplico
Diminui o meu amor
Em cada luz de mercúrio
vejo a luz do teu olhar
Passas praças, viadutos
Nem te lembras de voltar, de voltar, de voltar
No Corcovado, quem abre os braços sou eu
Copacabana, esta semana, o mar sou eu
Como é perversa a juventude do meu coração
Que só entende o que é cruel, o que é paixão
E as paralelas dos pneus n'água das ruas
São duas estradas nuas
Em que foges do que é teu
No apartamento, oitavo andar
Abro a vidraça e grito, grito quando o carro passa
Teu infinito sou eu, sou eu, sou eu, sou eu

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