quinta-feira, 30 de maio de 2013

SONHO IMPOSSIVEL

Caetano Veloso em seu livro auto biográfico, Verdade Tropical de 1997, trabalha em vários capítulos seu amor e admiração por sua irmã, Maria Bethânia. Mais nova que ele, foi Caetano que a incentivou a cantar. Foi o próprio que a estimulou a descobrir no teatro, as performances dramáticas que a cantora vai adotar em seus Shows. Que alias como diz o artista e Vereador de Limeira, José Farid Zaine são verdadeiros espetáculos de poesia.

A primeira incursão de Bethânia, foi exatamente nas artes cênicas. Na Bahia já tinha participado em vários espetáculos, emprestando sua voz, para textos como Boca de Ouro de Nelson Rodrigues. Mas vai ser no Show Manifesto Opinião, no Rio de Janeiro, que a irmã de Caetano vai se apresentar para o Brasil. Substituindo Nara Leão, que se afastou por motivos de saúde, Bethânia se junta ao cantor do nordeste João do Vale e ao sambista dos morros cariocas e canta em 1965, “Carcará pega, mata e come”.

A capacidade da cantora, em interpretar canções, com fortes elementos teatrais é algo que atinge a alma, faz todos os sentidos humanos virem a tona. Não tive ainda o privilégio de ver ao vivo, Maria Bethânia. Invejo o mesmo Farid, por ter não só assistido a um Show, mas a de ter feito uma canção “Mulher que Canta”, que esta no CD do Grupo Avena “Línguas”. Bethânia também fez parte de meu imaginário juvenil. A ouvia muito nas rádios nos anos 70, principalmente na radio Tupi do Rio.

Sonho Impossível, esta no disco “Chico Buarque & Bethânia ao Vivo”. O LP é resultado do Show de 1975 em temporada na famosa casa de espetáculos do Canecão do Rio de Janeiro. Show inclusive de enorme sucesso. Maria Bethânia se junto a Chico, outro amante do Teatro que já tinha uma relação estreita com o palco, escrevendo não só canções, mas Histórias, como Calabar, Gota d’agua e outras.

A canção fez parte da trilha de “O Homem de la Mancha”, uma versão de peça da Broadway de 1966, em parceria com Ruy Guerra. Foi a primeira de Chico fazendo versões. O espetáculo é de 1972, mas só gravado no Show com Bethânia. Eram os tempos de Ditadura, censura prévia, torturas, amigos sumindo, depoimentos no Dops, e gente indo direto para o Galeão. O ritmo uma balada, a letra uma primazia, que parece coisa de Dom Quixote, Utopia ou Sonho mesmo. A letra exatamente uma leitura fiel daqueles tempos, que a esperança parecia ser impossível.

Em 2010, escrevi um esquete para homenagear o Professor e amigo Joaquim Lazari, no qual incluí esta canção no encerramento do espetáculo.
Abaixo a letra magnifica de chico e o link com a interpretação de Bethânia: http://migre.me/eNsBW .


Sonho Impossível

Chico Buarque

Sonhar
Mais um sonho impossível
Lutar
Quando é fácil ceder
Vencer
O inimigo invencível
Negar
Quando a regra é vender
Sofrer
A tortura implacável
Romper
A incabível prisão
Voar
Num limite improvável
Tocar
O inacessível chão
É minha lei, é minha questão
Virar esse mundo
Cravar esse chão
Não me importa saber
Se é terrível demais
Quantas guerras terei que vencer
Por um pouco de paz
E amanhã, se esse chão que eu beijei
For meu leito e perdão
Vou saber que valeu delirar
E morrer de paixão
E assim, seja lá como for
Vai ter fim a infinita aflição
E o mundo vai ver uma flor
Brotar do impossível chão

          

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