No finalzinho da década de
1970, dividi com um locutor de radio, do qual não me lembro mais o nome, a
animação do sistema de som das Quermesses da Comunidade de Santa Luzia no JD.
Vista Alegre em Limeira. A igreja ainda estava em construção, no alicerce. As festas
eram realizadas, em cima da laje onde se construiria mais tarde o templo. Ficávamos
em uma barraca, com uma iluminação bem fraquinha, uma mesa de som antiguíssima e
um único microfone. Era o tempo do Vinil. Os membros da comunidade contribuíam,
emprestando os bolachões. Eu mesmo levava os meus, que quase nunca eram
tocados. Atendíamos pedidos e o que se tocava, eram musicas dos Bregas da
época, meus discos eram considerados “cabeça” demais para o povão.
Mas entre os Lps, muitos
deles riscados e quase sem condições de uso, estava os de Raul Seixas. O Maluco
Beleza eram um dos mais tocados. Não vencíamos os pedidos para executar os mega
sucessos do cara. Eu não prestava muito á atenção em Raul. Vi nele muito
comercialismo, e pouco engajamento social. Eram os tempos das manifestações
públicas contra a ditadura, tempos da Teologia da Libertação e eu já andava com
Marx e Leonardo Boff debaixo do Braço.
Fui me ater á Raul um pouco
mais tarde, quando estudei sua obra. Raul Seixas, tinha na mística, sua oração
de vida. Suas canções não se furtavam a reclamar da condição da juventude,
naqueles duros anos 70. Conseguia Raulzito unir, a ideia da transcendência,
como um modo de vida alternativo. Foi esta concepção que o fez desagradar os
militares. Com base na filosofia do ocultista Britânico Aleister Crowley, que Raul Seixas criou a
Sociedade Alternativa. Algo que o próprio Raul não sabia explicar o que seria
de fato. A Sociedade lhe custou um exílio forçado ao Estados Unidos em 1974. Os
militares não estavam gostando nada da coisa de uma cidade das Estrelas. Nome que
Raul e Paulo Coelho dariam á Sociedade Alternativa e seria em Minas Geraes.
Ao retornar do Exílio Raul
e Paulo, vieram cheios de projetos, entre eles o novo disco. Aí surgiu, Gita,
no final de 74. Este disco será definitivamente o boom da carreira do cantor e
compositor. O mais vendido, com mais de 600mil cópias, tocou em todas rádios e
programas de Televisão. A capa um primor. Raul Seixas de boina vermelha e
guitarra em punho, em uma representação de um guerrilheiro em luta contra o
regime. O LP é um desfile de Hits de Raul: Medo da Chuva, Trem das sete,
Sociedade Alternativa e claro Gita.
Sem dúvida Gita é o maior e
talvez uma das melhores letras do cara. Nós dos tempos das Quermesses, achávamos
que Raul Seixas falava de Deus. De certa forma sim. Ela é baseada no Bhagavad-Gitã, parte do Mahabarata, que
seria a "bíblia" da religião hindu de Krishna. Um guerreiro hindu questiona quem seria o Krishna, o Deus da Religião
Oriental.
Raul
Seixas, mesmo após a sua morte atravessa como ídolo de antigas e novas
gerações. Seus discos continuam a vender. Artistas Roqueiros em especial,
continuam se influenciando por sua obra, seu estilo de juntar Luís Gonzaga com
Elvis Presley. A mania dos Covers começou com os de Raul. Em vários eventos
musicais, se ouve constantemente o Toca Raullllllllll.
Nós também vamos
pedir um Toca Raul. Veja e ouça Gitã aqui: http://migre.me/ePdNh
.
Gita
- Eu que
já andei pelos quatro cantos do mundo procurando, foi justamente num sonho que
Ele me falou:
Às vezes
você me pergunta
Por que é que eu sou tão calado,
Não falo de amor quase nada,
Nem fico sorrindo ao teu lado.
Por que é que eu sou tão calado,
Não falo de amor quase nada,
Nem fico sorrindo ao teu lado.
Você
pensa em mim toda hora.
Me come, me cospe, me deixa.
Talvez você não entenda,
Mas hoje eu vou lhe mostrar.
Me come, me cospe, me deixa.
Talvez você não entenda,
Mas hoje eu vou lhe mostrar.
Eu sou a
luz das estrelas;
Eu sou a cor do luar;
Eu sou as coisas da vida;
Eu sou o medo de amar.
Eu sou a cor do luar;
Eu sou as coisas da vida;
Eu sou o medo de amar.
Eu sou o
medo do fraco;
A força da imaginação;
O blefe do jogador;
Eu sou!... Eu fui!... Eu vou!...
A força da imaginação;
O blefe do jogador;
Eu sou!... Eu fui!... Eu vou!...
Gita!
Gita! Gita!
Gita! Gita!
Gita! Gita!
Eu sou o
seu sacrifício;
A placa de contra-mão;
O sangue no olhar do vampiro
E as juras de maldição.
A placa de contra-mão;
O sangue no olhar do vampiro
E as juras de maldição.
Eu sou a
vela que acende;
Eu sou a luz que se apaga;
Eu sou a beira do abismo;
Eu sou o tudo e o nada.
Eu sou a luz que se apaga;
Eu sou a beira do abismo;
Eu sou o tudo e o nada.
Por que
você me pergunta?
Perguntas não vão lhe mostrar
Que eu sou feito da terra,
Do fogo, da água e do ar!
Perguntas não vão lhe mostrar
Que eu sou feito da terra,
Do fogo, da água e do ar!
Você me
tem todo dia,
Mas não sabe se é bom ou ruim.
Mas saiba que eu estou em você,
Mas você não está em mim.
Mas não sabe se é bom ou ruim.
Mas saiba que eu estou em você,
Mas você não está em mim.
Das
telhas eu sou o telhado;
A pesca do pescador;
A letra "A" tem meu nome;
Dos sonhos eu sou o amor.
A pesca do pescador;
A letra "A" tem meu nome;
Dos sonhos eu sou o amor.
Eu sou a
dona de casa
Nos pegue pagues do mundo;
Eu sou a mão do carrasco;
Sou raso, largo, profundo.
Nos pegue pagues do mundo;
Eu sou a mão do carrasco;
Sou raso, largo, profundo.
Gita!
Gita! Gita!
Gita! Gita!
Gita! Gita!
Eu sou a
mosca da sopa
E o dente do tubarão;
Eu sou os olhos do cego
E a cegueira da visão.
E o dente do tubarão;
Eu sou os olhos do cego
E a cegueira da visão.
Eu!
Mas eu sou o amargo da língua,
A mãe, o pai e o avô;
O filho que ainda não veio;
O início, o fim e o meio.
O início, o fim e o meio.
Eu sou o início,
O fim e o meio.
Eu sou o início
O fim e o meio.
Mas eu sou o amargo da língua,
A mãe, o pai e o avô;
O filho que ainda não veio;
O início, o fim e o meio.
O início, o fim e o meio.
Eu sou o início,
O fim e o meio.
Eu sou o início
O fim e o meio.
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