segunda-feira, 10 de junho de 2013

TIGRESA

Em 1978, eu e o Brasil inteiro assistindo uma das melhores audiências de novelas da TV Globo. Escrita por Gilberto Braga, Dancing Days, traduzia aquele final de anos 70. Momento da abertura lenta e gradual, iniciada por Geisel, retomada das lutas sociais, entre elas a eclosão das greves do ABC. Foi o ano da volta dos exilados, da Anistia mais ou menos ampla. A censura aos meios de comunicação e as artes já não eram mais tão brutas e violentas. Já se respirava um pouco mais. As reuniões de oposição e protesto ainda eram reprimidas mas não com a intensidade no pós AI5. Lembro de meus primeiros contatos com a Teologia da Libertação, e com as lutas por Democracia no Brasil.

O enredo da novela, trabalha um drama pessoal. Sonia Braga encarnando a personagem principal, é Júlia, recém saída da cadeia por atropelar um assaltante de banco. Volta e tenta ficar perto da filha que vive com a irmã uma socialite, preconceituosa ao extremo. Para não atingir o Status da família da mana, Julia esconde sua identidade e histórico de ex presidiaria da filha e de todos. Roteiro próprio daqueles tempos, a novela atingi o sucesso, não só pela trama de choros e tragédias, mas pela atmosfera da época. A juventude da novela, curte seu enredo, na famosa discoteca Dancing Days, com a trilha daquele tempo, dance music, funk e soul.

Alias a trilha sonora é de arrebentar. Entre as internacionais, tem Macho Man do Vilage People, Santa Esmeralda e Commodores, só para ficar com algumas. Na trilha Nacional, Luiz Wagner, Lady Zú e petardos da MPB, como Jorge Ben Jor, Rita Lee, Nara Leão Gal Costa que canta Tigresa tema de Júlia e outros. Mas foi a música de abertura que estorará nas paradas de sucesso. A faixa Dancig Days, com as Frenéticas. Me perguntava mais quem são?. As seis mulheres lindas que vao formar este grupo de musica pop e dançante, eram mais uma do produtor Nelson Motta, proprietário da Dancing Days, já citada aqui. Elas eram garçonete da boate onde vips e gente da Burguesia Carioca frequentava. Em um determinado momento, elas abandonavam as mesas e iam ao palco cantar.

Foi nesta boate e neste clima de festa, que Caetano Veloso, se inspirou para escrever Tigresa. Segundo ele, via mulheres maravilhosas dançarem na pista da casa de espetáculos, e surgia assim a imagem de uma canção sensual e em homenagem a uma delas. A escolhida, claro Sonia Braga. Assim nasceu uma das músicas mais sexuais da carreira de Caetano. Houve um tempo em que tinha a informação, de que a Tigresa, se tratava de um travesti. Até porque falar de sexo em meio a ditadura já era um desafio, e se seria maior ainda se o personagem fosse um homossexual.

Tigresa foi gravada pela primeira vez no disco Caras&Bocas, de Gal Costa, em 1977. Ouça este Jazz de preferencia com seu bem: http://migre.me/eXm2Z .


Tigresa

Caetano Veloso

Uma tigresa de unhas
Negras e íris cor de mel.
Uma mulher, uma beleza
Que me aconteceu.
Esfregando a pele de ouro marrom
Do seu corpo contra o meu
Me falou que o mal é bom e o bem cruel.
Enquanto os pelos dessa
Deusa tremem ao vento ateu,
Ela me conta, sem certeza,
Tudo o que viveu:
Que gostava de política em mil
Novecentos e sessenta e seis
E hoje dança no Frenetic Dancin? Days.
Ela me conta que era atriz
E trabalhou no Hair.
Com alguns homens foi feliz,
Com outros foi mulher.
Que tem muito ódio no coração,
Que tem dado muito amor,
Espalhado muito prazer e muita dor.
Mas ela ao mesmo tempo diz
Que tudo vai mudar,
Porque ela vai ser o que quis
Inventando um lugar
Onde a gente e a natureza feliz,
Vivam sempre em comunhão
E a tigresa possa mais do que o leão.
As garras da felina
Me marcaram o coração,
Mas as besteiras de menina
Que ela disse, não.
E eu corri pra o violão num lamento
E a manhã nasceu azul.
Como é bom poder tocar um instrumento.



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