As concessões estatais para Rádios
de frequência modulada no Brasil, ocorrem a partir dos inicio dos anos de 1970.
Mas vai ser, a partir da segunda metade da década que estas rádios irão chegar
até o cidadão de classe média baixa, primeiro depois das elites a ter contato
com esta nova tecnologia. A programação era digamos um pouco mais refinada, em
relação ao que se apresentava na frequência de AM. Se nas segundas, era o
popular em relação a música, como o Brega e uma invasão de canções
estrangeiras, as FM, vão privilegiar a MPB, os clássicos como Chico, Caetano,
Milton e outros e as novas tendências Brasileiras.
Meu Pai, sempre gostou de
consumir eletro eletrônicos, principalmente as novidades no mercado. Na época,
os toca rádios de carro eram o boom da moda. Mesmo sem ter veiculo, João Lopes
Gonçalves, comprava e o adaptava dentro de casa. Os aparelhos vinham com
compartilhamento, para as famosas fitas cassetes. Com espirito garimpador como
sempre tive, sintonizava nas para mim novas estações de rádio. Duas em
especial: Radio Andorinhas e Rádio Morena, ambas de Campinas/SP. Elas traziam
as novidades na música Brasileira.
Foi aí que tive meu primeiro
contato com Zé Ramalho. Vila do Sossego do primeiro álbum do cara de 1978, foi
a primeira de que gostei. Alias para registro, a uma gravação de Cassia Eller,
de um disco lançado após sua morte, da canção em um arranjo fantástico. Clic
aqui para ver e ouvir http://migre.me/f2ftL
. O disco do Zé ainda tem preciosidades como, Avolhai,
Bicho de 7 Cabeças, e um
dos maiores Hits do Paraibano, Chão de Giz.
Zé Ramalho, apareceu para o
grande público, no Festival Abertura da TV Globo, acompanhando no violão Alceu
Valença. Gravou em 1975, com Lula Cortez uma obra Cult da pisicodelia
Brasileira, o disco Paêbirú, até hoje peça de colecionador. Com varias
influências musicais que vão de Luiz Gonzaga, o folclore Nordestino, o Rock
Progressivo, Beatles e em especial Bob Dylan. Estudioso do ocultismo e da
filosofia Grega e Oriental, Zé trabalhava a mistura musical, com temas
metafóricos e subliminares. Seu jeito de cantar é de um trovador nordestino,
muito próximo do que Dylan faz.
Admirável Gado Novo, esta no
disco que colocou definitivamente o compositor entre os grandes da nossa
música. A Peleja do Diabo com o Dono do Céu, é quase uma versão do Sertanejo,
do encontro de Cristo com o Demônio na Bíblia. Este trabalho é todo inspirado
na literatura de cordel, com arranjos de voz dos grandes Trovadores da idade
média. Vários destaques do disco: A faixa Titulo, Beira Mar, Jardim das Acácias
e Frevo Mulher, imortalizada na voz de Amelinha sua esposa na época.
Admirável, é uma leitura do
cenário do Brasil daqueles tempos de Ditadura. A opressão aos pobres, é
relatada não só no aspecto sócio econômico, mas também cultural. A visão do
poeta sobre seu povo, que “mesmo marcado” é “feliz”. Alias isto lembra a frase
do General mais violento do Regime Militar Médici: “Somos um País abençoado por
Deus. Aqui não tem Guerras, não tem terremotos” e outras besteiras mais.
Admirável Gado Novo,
estourou nas rádios e nas vendagens. Curte esta canção fantástica: http://migre.me/f2hIC .
Admirável
Gado Novo
Zé
Ramalho
Vocês que fazem parte dessa massa que passa nos projetos
do futuro
É duro tanto ter que caminhar e dar muito mais do que receber
E ter que demonstrar sua coragem à margem do que possa parecer
E ver que toda essa engrenagem já sente a ferrugem lhe comer
É duro tanto ter que caminhar e dar muito mais do que receber
E ter que demonstrar sua coragem à margem do que possa parecer
E ver que toda essa engrenagem já sente a ferrugem lhe comer
Ê, ô ô, vida de gado, povo marcado, ê, povo feliz
Lá fora faz um tempo confortável, a vigilância cuida do
normal
Os automóveis ouvem a notícia, os homens a publicam no jornal
E correm através da madrugada a única velhice que chegou
Demoram-se na beira da estrada e passam a contar o que sobrou
Os automóveis ouvem a notícia, os homens a publicam no jornal
E correm através da madrugada a única velhice que chegou
Demoram-se na beira da estrada e passam a contar o que sobrou
Ê, ô ô, vida de gado, povo marcado, ê, povo feliz
O povo foge da ignorância apesar de viver tão perto dela
E sonham com melhores tempos idos, contemplam essa vida numa cela
Esperam nova possibilidade de verem esse mundo se acabar
A arca de noé, o dirigível, não voam nem se pode flutuar
E sonham com melhores tempos idos, contemplam essa vida numa cela
Esperam nova possibilidade de verem esse mundo se acabar
A arca de noé, o dirigível, não voam nem se pode flutuar
Ê, ô ô, vida de gado, povo marcado, ê, povo feliz