terça-feira, 16 de julho de 2013

FAZ PARTE DO MEU SHOW

Cazuza e Renato Russo, são dois poetas da Música Brasileira, cuja trajetória artística e de vida, são muito semelhantes. Ambos se consideravam filhos da Revolução de 64, e rejeitavam esta condição, de alienados políticos e presos em sua infância e adolescência aquele mundo de censuras e repressão. Os dois foram testemunhas daqueles tempos de liberdades restritas. Cazuza filho de um casal de classe média alta, cujo pai João Araújo, alto executivo, da Gravadora Som Livre, do grupo Globo, portanto em contato direto com a politica de conluio das empresas Marinho com os Militares. Russo, de classe média baixa, filho de um funcionário público de uma Brasília, fervescente de burocracia da repressão. Os dois tinham influencias musicais muito próximas. Cazuza ouvia muito Bossa Nova, Ângela Maria, Dalva de Oliveira. Mas gostava de Rock. Russo e Agenor, eram poetas do Amor, mas como toda a sua geração, indignados com a falta de liberdade.

Agenor de Miranda Araújo Neto, teve tudo o que um garoto daqueles tempos duros, gostaria de ter. Não seria leviano de minha parte dizer que era um filhinho de papai (ao contrario de Renato Russo). Filho único, bem protegido pela mãe, que escondia suas artes do pai. Mas Cazuza, nasceu transgressor, sexo, drogas e Rock In Rool, eram sua tônica.  Barbarizava as noites cariocas e lá conhecia pessoas e elaborava suas poesias que virariam música. Podemos dividir a vida e a carreira de Cazuza, dos tempos do Barão Vermelho, onde o Rock Blues da Banda se constatava com a vida desregrada de seu vocalista. Depois da fase do Barão, com a descoberta da AIDS, e sua necessidade de continuar a busca da Liberdade.

Foi este amor pela Liberdade, que o fez enfrentar a doença, em um tempo, que ao descobri-la era a certeza da morte. Hoje pode-se prolongar muito á vida e morrer inclusive de velhice e não de AIDS. Este enfrentamento foi público. Os Anos 80, mostraram com o HIV, todo o terror e o medo. Não era só a doença que incomodava ou trazia maiores dores. O preconceito e a exclusão eram estas sim fatal para o soropositivo. Não sei se foi Cazuza, que quebrou este paradigma. Mas sei que ele foi o primeiro ídolo nacional, a revelar a doença. Não pedia piedade para ele, pelo contrario, fez do tempo que lhe restava, para denunciar a segregação, cobrar das autoridades politicas públicas e se voltou para falar mais do Amor e das causas sociais e politicas.

Em 1987, ano da descoberta da AIDS, Cazuza, grava um de seus maiores discos. Ideologia vai ser lançado em 1988 é uma obra, onde o cantor compositor vai detalhar suas angustias, sua concepção de vida. Vai falar sobre politica em Brasil, de sua geração sem perspectivas na Faixa Titulo e do Amor. Faz parte do Meu Show, era uma das canções de meu repertório pessoal, ao lembrar do Amor da vida. Minha esposa Nadir, na época tinha descoberto esta paixão. Cazuza, a fez em parceria com o músico Renato Ladeira. Uma Bossa Nova, acho que em homenagem a João Gilberto uma de suas influências. O compositor á apresentou pela primeira vez, em um especial da Globo, já neste momento em uma cadeira de rodas. Veja aqui uma das melhores canções românticas de todos os tempos: http://migre.me/fvgrS .

Faz Parte Do Meu Show
Te pego na escola e encho a tua bola com todo o meu amor
Te levo pra festa e testo o teu sexo com ar de professor
Faço promessas malucas tão curtas quanto um sonho bom
Se eu te escondo a verdade, baby, é pra te proteger da solidão
Faz parte do meu show
Faz parte do meu show, meu amor
Confundo as tuas coxas com as de outras moças
Te mostro toda a dor
Te faço um filho
Te dou outra vida pra te mostrar quem sou
Vago na lua deserta das pedras do Arpoador
Digo 'alô' ao inimigo
Encontro um abrigo no peito do meu traidor
Faz parte do meu show
Faz parte do meu show, meu amor
Invento desculpas, provoco uma briga, digo que não estou
Vivo num 'clip' sem nexo
Um pierrot retrocesso
meio bossa nova e 'rock'n roll'
Faz parte do meu show
Faz parte do meu show, meu amor

Meu amor, meu amor, meu amor...

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