sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

CAÇADOR DE MIM

Em 1981, vivia um de meus infernos astrais. A vida é feita deles. Quem não termina o ano, o mês ou o dia, não se achando, aborrecido e ao mesmo tempo em busca de saídas. Estava desempregado, não tinha grana nem pro rolezinho. Estava com dezenove anos, e prestava o serviço militar obrigatório. Foi dureza, fazer seis de tiro de guerra. Não via e não vejo nenhuma razão para se obrigar um jovem ao alistamento militar. Quem decide pela carreira, ainda tem sentido.

Vivia momentos afirmação de personalidade. Sofria de Amor constantemente. Mas a barra estava pesada. Ficar sem emprego, é não conseguir vislumbrar futuro algum. Minha vida limitava-se a turma do Bairro, na mesma situação que a minha. Isto trazia um certo conforto. Quando se é Jovem, é comum milhares de questionamentos existenciais. Me debatia com eles, sofria toda a vez que não encontrava as respostas. A música como já revelei aqui, era o elixir, capaz de me acalmar e ir buscando alternativas reais para o inferno astral.

Ao ouvir Caçador de Mim, do Luís Carlos Sá, parceiro do Guarabira, com o músico Sergio Magrão, em uma destas noites de insônia, ouvi a letra e cantei a melodia. Um exercício que aprendi, desde aqueles tempos. É quando você não cantarola, deixa a letra penetrar nos ouvidos e atingir o coração. Quando seu corpo reage aquelas palavras e aquela melodia que você sussurra para ti mesmo. Sai daquela experiência querendo ouvir outras canções e outros discos da mesma forma.

Sempre gostei de Milton Nascimento, como compositor e como interprete. Milton escreve o interior humano, com tinturas de realidade. E mesmo quando a canção não é escrita por ele, é como se o poema fosse escrito pelo cara. Ouvi de um dos últimos discos do Bituca E a gente Sonhando. Neste discão Milton volta as origens dos tempos de sua cidade Natal Três pontas. E também faz a sua versão de o Sol do Jota Guest. Querem saber melhor que o original. Ouçam aqui: http://zip.net/bql7Lf .

Caçador de Mim, traz as duvidas de um personagem. Sua incessante incomodacão com o fato de tentar seu espaço na vida. A constante busca por uma identidade. Um ser humano que aceita a dialética da vida, que sabe que terá amores e os perderá. Um ser que admite ser manso e também ser feroz. Mas que não teme a luta, embora tenha medo. Um ser que acredita nos sonhos e no viver a sonhar.

Vejo que somos constantemente caçadores de nós mesmos. Todos querem ser felizes, não há uma forma ou modelo para ser feliz. Por isto corremos atrás, somos seres em mutação. O ser humano é capaz de romper lógicas, formulas prontas, porque é um ser criativo e por isto sempre em transformação.

O disco de 1981, fez grande sucesso, inclusive esta obra prima. Clic e ouça: http://zip.net/bql7Lm .

Caçador de Mim
Por tanto amor
Por tanta emoção
A vida me fez assim
Doce ou atroz
Manso ou feroz
Eu caçador de mim
Preso a canções
Entregue a paixões
Que nunca tiveram fim
Vou me encontrar
Longe do meu lugar
Eu, caçador de mim
Nada a temer senão o correr da luta
Nada a fazer senão esquecer o medo
Abrir o peito a força, numa procura
Fugir as armadilhas da mata escura
Longe se vai
Sonhando demais
Mas onde se chega assim
Vou descobrir
O que me faz sentir
Eu, caçador de mim


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