terça-feira, 7 de janeiro de 2014

EDUARDO E MÔNICA

Existe um dito popular, que afirma que os opostos se atraem. Que as diferenças de personalidade, comportamento e intelecto, são fundamentais, para uma relação amorosa ser saudável e duradoura. As vezes acredito nesta tese. Vejo por mim. Minha mulher e eu vivemos juntos há 23 anos. Somos diferentes em muita coisa. Quando nos conhecemos, achávamos que estas diferenças atrapalhariam um relacionamento mais duradouro. O tempo provou que onde há amor, não há diversidade capaz de complicar uma relação.

Renato Russo, escrevia sobre sua geração (minha também). Uma geração que ele mesmo chamava de filhos da Revolução (Golpe) de 1964. Uma juventude que nasceu e cresceu sob o signo do medo, do terror. Tudo era proibido, inclusive expressar diferenças. Ser diferente naquele tempo, era pedir para ir pra cadeia. Um abismo entre ricos e pobres, se criou não só no aspecto econômico social, mas cultural. Quem imaginaria um garoto de periferia de caso com uma garota Classe Média?.

Mas a ditadura foi perdendo a força. O povo começou reaprender a botar para fora, suas diferenças. Como sempre a musica foi e ainda é o caminho, para traduzir o que se pensa, o que se faz. A distancia entre o menino do subúrbio, com a menina dos Jardins, começa a encurtar na vida e na música. O diferente provoca seu oponente, com suas preferencias artísticas, culinárias, da moda enfim, a reciproca também é verdadeira.

No filmaço Todos Somos Jovens, que conta a vida de Renato Russo até a formação da Banda Legião Urbana, tem detalhes fantásticos na forma de criar do poeta. Renato como todo Jovem tem sua turma. Ela é os filhos dos políticos e funcionários públicos de Brasília. Este era o seu mundo, seu universo. Dele o líder da Legião buscou conteúdo para sua obra.

Um determinado momento, Renato Russo, compra um gravador e o coloca escondido todas as vezes, que esta em conversas com seus amigos. Em uma delas Dinho Ouro Preto do Aborto Elétrico e depois do Capital Inicial, vai comunicar a Renato que irá se casar com sua namorada. Os dois são completamente diferentes. Dinho o Playboy descompromissado com as coisas do mundo, ela compenetrada na literatura de primeiro nível. Nasce Eduardo e Mônica.

Uma das canções mais emblemáticas do repertório da Legião Urbana. Lançado no disco 2, foi a faixa que mais tocou nas rádios em 1986. Um Blues todo ritmado pelo violão, Eduardo e Mônica, faz casais refletirem e darem gargalhadas juntos pela semelhança de muitos com a letra da canção. Nos Shows da Banda, era a mais cantada e pedida pelo público.

No dia 07 de Junho de 2011, Eduardo e Mônica completaram 25 anos, em que foram criados por Renato Russo. A Operadora Vivo, para comemorar este aniversário e homenagear os Namorados, no dia deles, fez um clipe moderno e mercadológico da música. Vivemos as Diferenças. Ouça esta Versão: http://brzu.net/04xpi .

Eduardo e Mônica
Quem um dia irá dizer
Que existe razão
Nas coisas feitas pelo coração?
E quem irá dizer
Que não existe razão?
Eduardo abriu os olhos, mas não quis se levantar
Ficou deitado e viu que horas eram
Enquanto Mônica tomava um conhaque
No outro canto da cidade, como eles disseram
Eduardo e Mônica um dia se encontraram sem querer
E conversaram muito mesmo pra tentar se conhecer
Um carinha do cursinho do Eduardo que disse
"Tem uma festa legal, e a gente quer se divertir"
Festa estranha, com gente esquisita
"Eu não tô legal, não agüento mais birita"
E a Mônica riu, e quis saber um pouco mais
Sobre o boyzinho que tentava impressionar
E o Eduardo, meio tonto, só pensava em ir pra casa
"É quase duas, eu vou me ferrar"
Eduardo e Mônica trocaram telefone
Depois telefonaram e decidiram se encontrar
O Eduardo sugeriu uma lanchonete
Mas a Mônica queria ver o filme do Godard
Se encontraram, então, no parque da cidade
A Mônica de moto e o Eduardo de camelo
O Eduardo achou estranho e melhor não comentar
Mas a menina tinha tinta no cabelo
Eduardo e Mônica eram nada parecidos
Ela era de Leão e ele tinha dezesseis
Ela fazia Medicina e falava alemão
E ele ainda nas aulinhas de inglês
Ela gostava do Bandeira e do Bauhaus
Van Gogh e dos Mutantes, de Caetano e de Rimbaud
E o Eduardo gostava de novela
E jogava futebol-de-botão com seu avô
Ela falava coisas sobre o Planalto Central
Também magia e meditação
E o Eduardo ainda tava no esquema
Escola, cinema, clube, televisão
E mesmo com tudo diferente, veio mesmo, de repente
Uma vontade de se ver
E os dois se encontravam todo dia
E a vontade crescia, como tinha de ser
Eduardo e Mônica fizeram natação, fotografia
Teatro, artesanato, e foram viajar
A Mônica explicava pro Eduardo
Coisas sobre o céu, a terra, a água e o ar
Ele aprendeu a beber, deixou o cabelo crescer
E decidiu trabalhar (não!)
E ela se formou no mesmo mês
Que ele passou no vestibular
E os dois comemoraram juntos
E também brigaram juntos muitas vezes depois
E todo mundo diz que ele completa ela
E vice-versa, que nem feijão com arroz
Construíram uma casa há uns dois anos atrás
Mais ou menos quando os gêmeos vieram
Batalharam grana, seguraram legal
A barra mais pesada que tiveram
Eduardo e Mônica voltaram pra Brasília
E a nossa amizade dá saudade no verão
Só que nessas férias, não vão viajar
Porque o filhinho do Eduardo tá de recuperação
E quem um dia irá dizer
Que existe razão
Nas coisas feitas pelo coração?
E quem irá dizer
Que não existe razão?



Nenhum comentário: