Em 1971, a barra estava
pesada no Brasil. O regime militar endureceu, o pau literalmente comeu. A
censura estava muito mais cruel que no período anterior ao AI5. As denuncias de
torturas, desaparecimentos, assassinatos eram frequentes, mesmo com a imprensa
amordaça. O País vivia dias dúbios. Um País retratado na propaganda ufanista e
de crescimento na telinha da globo. E o País real, da total falta de Liberdade
e Democracia.
Chico Buarque voltava de seu
exilio na Itália. Apesar de lá nascer sua primeira filha e ter tido uma
produção artística, Chico sabia que enfrentaria o terror no Brasil e era aqui
que deveria viver e claro cantar. A fase Lírica de Chico parece que já tinha
chegado ao fim. Apesar de Você, que a Ditadura levou um tempo para descobrir
que não se tratava de uma canção de Amor, alçava o compositor ao sucesso e novamente
ao dialogo com o povo.
Chico vai adotar como forma
de relação com seu público, a linguagem cifrada, simbólica e de metáforas.
Precisava disto para driblar a censura e fazer com que sua mensagem fosse
refletida e debatida. Usando e abusando da língua portuguesa, o compositor
chegou muitas vezes a perfeição.
Cotidiano, este samba, pode
ser interpretado de duas maneiras. A primeira como se lê. Trata-se do dia a dia
de uma mulher e seu casamento. A narração é Masculina. A esposa dedicada,
pronta desde as primeiras horas do dia a servir seu homem. A velha formula do
casa, cama, mesa e banho. Aqui a questão de Gênero é explicita. A cultura da
seleção natural, onde a mulher tem o papel de cuidar do marido, quanto a ele o
de sustenta-la.
A segunda, mais metafórica
ainda, pode denotar uma critica aqueles dias de chumbo. O companheiro tentando
se comunicar com sua companheira. Transpor a ela suas angustias e medo e ela o
acolhe, cuida e o orienta. Protege dos perigos, do mal, da exploração patronal,
da policia. Aqui o papel da Mulher, com sua sensibilidade a flor da pele, capaz
de promover o sossego do Homem, o recarregar as energias para enfrentar o
Cotidiano.
Cotidiano, esta no LP
Construção de 1971.
Link do Vídeo: http://zip.net/bjmXtF
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