domingo, 23 de agosto de 2009

SÉRIE: MÚSICA QUE INSPIRA UM CONTO III


O DIA EM QUE CARLITOS DESCOBRIU A ALEGRIA

Para Ruani e Pietro

Carlitos não tinha tempo nem para respirar. As engrenagens, o painel com botões, o consumiam, nem se lembrava de seu nome ou vida fora dali. A monotonia, a rotina, não o incomodava, porque não a percebia. Mas a cada parada, seus olhos se afundavam na tristeza. Se bem que, Carlitos e outras aventuras, mesmo engraçadas, guardava nos fundos das retinas, um triste olhar. Talvez indignado com a individualidade reinante entre as pessoas? Talvez porque pouco ele e os seus tinham para comer, vestir? Talvez amores perdidos, não correspondidos?. As respostas ficam para a eternidade, nunca são reveladas, nem tão pouco SMILE, é herança para dirimir estas dúvidas cruel.

Nosso Carlitos, tinha segredos, os quais nunca aguçaram nossas curiosidades, pois não tínhamos tempo para isto, pois sua arte e graça nos completavam. Mas só para titulo de registro, alguns destes segredos: Porque usava fraque, terno, cartola e bengala? Ainda por cima da cor preta?. Carlitos não tinha sobrenome, porque? Nem mulher, nem filhos, apenas esporádicos. O olhar triste é então o maior destes segredos.

Naquele dia, Carlitos conseguiu parar. Uma indisposição, o fez deixar o monstro de aço e ir até o repouso das tiriricas. Lá ajeitou-se e ficou a pensar, longe, perto, não importa, ficou a pensar. Vida, vida, chata e pesada que vivia, não era feliz. Nem chorar conseguia mais, nem se recorda quando foi a última vez, que lágrimas rolaram pela sua face. Nem quando um alemão adepto do Partido Nacional, o agrediu: Judeu de merda, morte a ti. Nem raiva sentiu, não tinha tempo para estas frivolidades, típicas dos fortes, dos poderosos. Pobres e ainda por cima operários, não tem este luxo.

A sirene terrível, tocou, quase arrancando seus tímpanos. Não tinha forças para correr e se ver livre daquele ambiente hostil e carniceiro, pois a cada fim de dia sentia-se como que parte de suas carnes foram ali destroçadas. Mas com muito custo, chegou ao trocador e colocou sua roupa. O fraque, a cartola, o sapato brilhando e é claro a bengala. Apesar das tormentas e do caos, Carlitos nunca perdeu a pose, ou quem sabe a esperança. As roupas simbolizavam isto?. Foi um dos últimos a sair, até porque raça pura não se mistura com o povo de Israel. Não queria ir para casa. Decidiu andar pelas ruas, quase desertas.

Andar, andar, andei, era a ordem da consciência Carlitista. È como se a senhora de nossos atos, estivesse querendo fazer previsões, de que algo inusitado poderia vir a acontecer. Carlitos caminhava, tentando esquecer os relinchos e gritos do monstro, ou os bla, bla blas, dos homens de capa. Não se atentou que se distanciava, em muito de seu caminho diário. Começava a não reconhecer onde estava. Casas simples, mas lindas. Ruas claras e limpas, onde circulavam, pretos, amarelos, vermelhos, brancos, Judeus, Cristãos, Budistas e outros. Reparou que não havia chaminés, muito menos carros rasgando avenidas e quase atropelando pessoas. Viu animais das mais variadas espécies. Ouviu música, de ritmos mil. Carlitos amava música, tanto que nunca dispensou de suas Histórias mesmo quando não sabia falar, um bom músico. Foi seguindo a trilha das canções: era Jazz, Blues, Gospel, Fox Trote, Tango, Valsa. As pessoas tinham rostos pintados e roupas coloridas e largas. E dançavam, exalando um perfume com gosto de alegria.

Carlitos continuava a andar, e cada vez mais um som lhe chamava a atenção, vinha de uma pequena viela. O ritmo, moderno com um arranjo de grandes espetáculos da arte da lona. Nosso Judeu, estava embevecido com aquela música. Atentou-se para trechos da canção: Solta a prosa presa , a luz acesa, já se abre um sol em mim maior. Correu, como a muito não fazia,. Chegou na viela. Nao acreditou no que via. Era fascinante, uma surpresa, daquelas de cair o queixo, até de um palhaço, experimentado e não se deixar abater, apesar dos olhos tristes. Mas alí não era abatimento, nem sofrimento, era deslumbramento. Pura poesia.

Ela era linda, jovem, com uma vestimenta toda colorida, com uma saia a rodar. Ele um molequinho, ao contrario de Carlitos, seus sons saiam e ele sorria, no colo de sua progenitora. Eles dançavam, ela cantava a canção do Poeta e Palhaço Pena, como se mostra-se a ele que o mundo é bom, é magia, é emoção. Ele agitava-se em seus braços, como que aceitando a apresentação ali feita. Eles não viam Carlitos.

Nosso Palhaço Poeta, estava petrificado. Percebeu que amava aquela menina negra. Não um Amor carnal, mas afetuoso. O molequinho, ele nem sabia a dimensão que seu coração estava a sentir. O vazio, a rotina, a chatice, iam embora. Eram substituídos, pela força daqueles seres, felizes a dançar e cantar, como a descobrir o Nirvana. Atingir Deus, assim pensava Carlitos, ao ver aquela cena maravilhosa.

Aos poucos juntavam-se a mãe e seu filho, malabaristas, mágicos, equilibristas, outros dançarinos, bonecas de pano e palhaços, tal qual Carlitos, que neste momento, sentava ao meio fio da calçada, e estava em prantos. Um choro de gozo e não de angustia. O Palhaço chorou e alegrou-se, como se a vida resumi-se aqueles momentos de extase, catarse. Mas se não se limita, uma coisa Carlitos teve a certeza, seus olhar não será mais triste.

Pena

O Teatro Mágico
Composição: Fernando Anitelli e Maíra Viana

O poeta pena quando cai o pano
E o pano cai
Um sorriso por ingresso
Falta assunto, falta acesso
Talento traduzido em cédula
E a cédula tronco é a cédula mãe solteira

O poeta pena quando cai o pano
E o pano cai
Acordes em oferta, cordel em promoção
A Prosa presa em papel de bala
Música rara em liquidação

E quando o nó cegar
Deixa desatar em nós
Solta a prosa presa
A Luz acesa
Lá se dorme um Sol em mim menor

Eu sinto que sei que sou um tanto bem maior (4x)

O palhaço pena quando cai o pano
E o pano cai
A porcentagem e o versorifa, tarifa e refrão
Talento provado em papel moeda
Poesia metamorfoseada em cifrão

O palhaço pena quando cai o pano
E o pano cai
Meu museu em obras, obras em leilão
Atalhos, retalhos, sobras
A matemática da arte em papel de pão

E quando o nó cegar
Deixa desatar em nós
Solta a prosa presa
A luz acesa
Já se abre um sol em mim maior

[Eu sinto que sei que sou um tanto bem maior] (4x

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

A POESIA COMO PONTO DE EVOLUÇÂO HUMANA


O tempo para o poeta, praticamente não existe. A poesia não é um produto que se faz em grandes quantidades, para alimentar um mercado ou parte de uma linha de montagem. O poeta é o Senhor de seu tempo e no espaço de sua criação de seu mundo muito particular. Ali ele passeia por pensamentos e fantasias, vividas e sonhadas. A Poeta não esta morto e nunca morrerá, afirma o Jornalista de formação, mas poeta de opção, Otacílio César Monteiro.

Uma delicia de Entrevista. Muito lúcido, este Araraquarense, mas Limeirense por vocação, nos faz caminhar com ele sob opiniões e concepções acerca da Literatura e sua importância, para não só o conhecimento das Pessoas, mas para o próprio crescimento delas no caráter, para assim mudar o mundo.

Conheci Otacílio, quando juntos fizemos o antigo Ginásio na Escola Trajano Camargo. Lá ele já desenvolvia seus dotes de escritor. Com uma analise fraterna, mas franca, Otacílio, discorre sobre a Academia Limeirense de Letras, e mesmo tendo restrições, deseja que a ALL, possa contribuir para o conhecimento intelectual de nosso povo.

Por fim, com onze livros publicados e dezenas de atividades ligadas a arte de escrever, Otacílio, demonstra o quanto é um dos maiores artistas de nossa cidade.

1. O que você acha da máxima do Carlos Drummond: “10% de Inspiração e 90% de Transpiração?

Otacílio: A relação é mais ou menos essa. Escrever é um ato intelectual e não sentimental.
É claro que se você está inspirado, isto é, realmente interessado num tema ou espiritualmente propenso a fazer algo de que gosta (e todo escritor gosta de escrever, assim como o futebolista gosta de jogar), a obra tende a ser mais bem elaborada. Mas escrever é muito mais trabalho que fruição, muito mais técnica que devaneio.

2. Como você se define no mundo da Poesia? Tem alguma corrente poética que te atrai?

Otacílio: Isso talvez choque as pessoas que confiam no meu trabalho, mas apesar de ter lido razoavelmente nunca me aprofundei no estudo das escolas literárias. A Poesia que me atrai é a contemporânea, mas não sou chegado a modismos. Gosto do verso livre e também aprecio construções mais elaboradas, como um bom soneto. Eu diria que sou um viúvo da Poesia de Quintana, Vinícius, Cecília.

3. Fale um pouco de sua obra. Quantos livros? Quais os Gêneros? Qual mais gosta?

Otacílio: São onze livros, sendo dez em Poesia e um em Prosa.
Dos livros de Poesia, um é infantil. Chama-se Pau, Pau, Pedra, Pedra e conta a história de Paulo Pedro, um menino perfeccionista e turrão, que melhora a postura ao final do poema.
Gosto de todos os meus livros, mas confesso que atualmente estou apaixonado por este infantil, que está na segunda edição e já vendeu 3.500 exemplares, quase todos entregues na mão do leitor com o meu autógrafo. Escritor independente não vende em livrarias, tem que dar a cara pra bater. E a surpresa boa: leitor não bate, dá carinho. Criança, então, nem se fale.

4. Outra frase, a qual gostaria de saber sua opinião. Em tempos de Globalização Econômica, “O Poeta está Morto”?

Otacílio: Não, o poeta não está morto e jamais vai morrer. O que está em constante mutação é o meio de exposição e venda, e não a atividade fim. A atividade fim do poeta é escrever poemas. Isso nunca morrerá. E, seja de forma independente ou através de editoras, o poeta mostrará sua obra, em livros impressos, Cd’s, dvd’s ou o raio que o parta

5- Limeira tem uma Academia de Letras. Você não é membro. O que acha desta instituição? Ser imortal traz que tipo de contribuição a sociedade? Não acha ser a Academia algo elitizante, e excludente?

Otacílio: Começando pelo fim da pergunta, o ser imortal em questão pode contribuir, sim, no sentido de enaltecer e registrar para sempre obras e indivíduos de incontestável contribuição cultural e artística. A Academia deveria mesmo ser elitizante, no sentido de reunir a nata da intelectualidade, gente com obras, publicadas ou não, de muito peso.
Mas com todo respeito aos literatos vivos e falecidos de nossa cidade, é muito fácil de se notar que não temos 40 acadêmicos incontestáveis, nem quando juntamos vivos e mortos. Por isso fui contrário à fundação da academia, pois entendo que o rótulo é muito forte.
Quero, entretanto, deixar claro que não me interesso em ficar criticando essa entidade e espero que ela traga a sua contribuição cultural. Evito me manifestar publicamente a respeito, pois tenho vários amigos lá e não quero perdê-los. Principalmente, agora, que são imortais. Seria um carma e tanto.

6. A SOLL não é uma Academia, certo. Mas quais são as finalidades desta entidade?

Otacílio: A SOLL _ Sociedade Literária Limeirense é uma associação que congrega escritores, poetas e amantes da Literatura. Nossa intenção é propiciar ao associado crescimento cultural e intelectual na área de Literatura. No momento, estamos empenhados em finalizar a Coleção Maria Paulina, que prevê o lançamento de 10 livros de bolso, dos quais quatro já foram lançados. O grande diferencial da coleção é lançar obrigatoriamente autores inéditos. Acreditamos que isso seja uma boa contribuição para a cidade, pois propicia a aparição de autores novos.


7. Até meados dos anos 60 do século XX, a literatura poética, tinha espaço no Jornalismo dito comercial. Vários veículos tinham páginas dedicadas a poemas, contos, crônicas e outros. Grandes mestres ocuparam grandes jornais, com seus escritos: Raquel de Queiroz, Carlos Drummond de Andrade, Fernando Sabino, Rubem Braga, Nelson Rodrigues e tantos outros. Hoje para ser publicado uma vertente literária, só o acaso. Pergunto, a emoção da literatura foi substituída pela concepção de Jornalismo frio, seco e voltado para o lucro? Como define isto?.

Otacílio: A Imprensa sempre esteve voltada para o lucro e interessada na queda de braço do Poder, mesmo no tempo do jornalismo romântico. Talvez a diminuição da frequência dos grandes mestres nos jornais impressos também se deva ao surgimento de novas mídias, como a Internet, e ao crescimento da TV. Quero dizer que o mundo mudou e o Jornalismo também se embruteceu mais. Mas o jornalismo não é mesmo lugar de literatura. Exceto para alguns gênios que, talvez, estejam em falta.


8. O Argentino nosso ilustre vizinho lê em média, 10 livros por ano. O preço médio de uma obra lá gira em torno de quinze reais, mesmo em crises bravas. Aqui a média entre os que têm acesso a leitura é de três anualmente e o preço médio do livro é de 40 reais. Quais em sua opinião as razões para esta situação?

Otacílio: Um dos grandes problemas é que as pessoas não têm consciência do custo editorial, principalmente agora que o governo fornece muitos livros de graça, e nem sempre livros de qualidade. Tudo o que vem fácil demais não tem sabor. Por outro lado, se houvesse mais subsídios, talvez o preço de capa fosse mais baixo e isso incentivasse mais as vendas. Agora, o cerne da questão está na educação infantil, certamente. Ler por obrigação tem sido o grande problema. As crianças deveriam ler por prazer e aprender que por trás de um livro tem um trabalho de pesquisa, além do escritor, ilustrador, arte finalista, diagramador, gráfico, livreiro e uma série de outros profissionais, sem falar nas máquinas e na matéria-prima. Em suma, os livros não brotam na prateleira da biblioteca ou da livraria. Eu acho que los hermanos sabem disso.


9. Você desenvolve projetos voltados a literatura, com crianças, certo. Quais são e como as pessoas podem participar?

Otacílio: Atualmente, realizo a palestra “Palavra, ferramenta de trabalho, em que falo de meus 20 anos como escritor e da importância da palavra como uma ferramenta de trabalho na vida familiar, estudantil e profissional de qualquer pessoa. Ao final, falo do meu livro e o autografo para as crianças que adquirirem. Com o apoio de várias empresas, colocaremos em ação a campanha “Um presente para Paulo Pedro”. Crianças de 7 a 12 anos de qualquer escola poderão participar e concorrerão a muitos prêmios. Os detalhes estão no blog http://www.aventurasdepaulopedro.blogspot.com/ .
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10. Ziraldo disse certa vez que, para escrever é preciso ler. E quem lê pode fazer Revolução, certo?

Otacílio: Sim, para escrever é preciso ler. E isso já é uma grande revolução e uma grande evolução. Para mim, a grande revolução é a evolução individual de cada um. Não acredito mais em pessoas que desejam mudar o mundo e continuam a roer unhas. Se o cara não se transforma a si mesmo, não faz revolução.

11. Qual sua opinião da Política Cultural de nossa cidade?

Otacílio: Ela inexiste. Temos um excepcional agente cultural, o atual vereador Farid Zaine, que é meu amigo particular, grande artista e grande homem público. A cada vez que ele assume a Secretaria da Cultura, os projetos fluem. Quando sai, mínguam.
Isso prova que não há uma política cultural de continuidade. Talvez a pressão dos artistas, que agora formaram uma associação, possa dar resultado. Pena que não chamaram representantes da área literária, sob alegação de já existirem a SOLL e a Academia. Mas tá valendo. O fato do nosso prefeito também ser um artista, com dois livros publicados, deve ajudar no diálogo.

12. Qual o novo projeto?

Otacílio: Meu novo projeto, que depende de São Patrocínio, protetor de todos os artistas, é fazer uma exposição sobre meus 20 anos de Literatura, durante a qual pretendo lançar meu novo livro, que está pronto, com cem poemas inéditos e o título “Contradança”.

13. Poderá nos brindar com um poema inédito?


Com muito prazer, aí vai o mais recente:

Felino


A outra face da foto-

o fotógrafo-
fareja, fita e fixa

algum momento fugaz.


O fino flash, no ato,

captura a nova cena,

emoldura mais um fato.


De seu observatório,
a um poema da presa,
o criador se revela.

Otacílio Cesar Monteiro

quarta-feira, 29 de julho de 2009

PAULO SÈRGIO: NUNCA SERÁ A ULTIMA CANÇÃO


“Meu filho Deus que lhe proteja e onde que que esteja eu rezo por vocêEu adoro ver você sorrindo, seu sorriso faz de tudo eu esquecer”. Cansei de ouvir este refrão da canção “Meu Filho Deus que lhe proteja”, grande sucesso de Paulo Sérgio. O leitor entre 10 a 30 anos, deve estar se perguntando: Quem?. Mas se a pessoa que ler tiver mais de 40 anos, com certeza, se lembra de quem estou falando. Certo e errado. Certo porque o Capixaba Paulo Sergio, oriundo da mesma Cachoeiro do Itapemirim, cidade natal do Rei Roberto Carlos, fez enorme sucesso, entre as décadas de 60 e 70, do século passado, sendo tocado muito nas Radios AM deste País, e visto por milhões de pessoas em programas populares de TV, como Chacrinha, Bolinha, Silvio Santos e outros. Errado porque parte dos leitores quarentões, cinquentões, ignoraram este artista, por consideraram ser brega, cafona, detentor de um repertório alienante e adesista, principalmente em tempos de Ditadura Militar e se esforçaram ao longo dos tempos para esquecer e fazer com que as novas gerações sequer ouvíu falar deste icone das empregadas domésticas e porque não o que as elites chamam de povão.

È este povão, que todo o dia de Finados, lotam a quadra 14, tumulo 30.831, do cémiterio do Cajú, um dos mais famosos do Rio de Janeiro, por abrigar entre seus moradores, ilustres politicos como Presidentes da República (Hermes da Fonseca e Prudente de Moraes), atores como Procópio Ferreira e Oscarito, e verdadeiras pérolas de nossa musica como Noel Rosa, Dolores Duran, Cartola, Jackson do Pandeiro, Tim Sindico Maia, e bem defronte ao de Paulo Sérgio, o cantor das multidões, Orlando Silva, que nas décadas de 40 e 50, foi amado e cultuado, tanto quanto seu vizinho de cemiterio, pelas massas populares.

Mas ao contrario do cantor de a Ultima Canção, Orlando Silva, não recebe tantas visitas, como o seu companheiro de viagem eterna. Em todo o dia 02 de Novembro, desde o dia 29 de Julho de 1980, quando Paulo Sergio, adentrou o Cemitério do Cajú, para ir morar no cèu, que sua jazida, é cultuada, por fãs de todo o Brasil, de todas as idades, e cores, e principalmente, por empregadas domésticas, pedreiros, baconistas, catadores de papel, ou seja os pobres, a massa, a favela, o cortiço, a periferia. São pessoas simples e em sua maioria anonimas, que frequentam o tumulo, levando flores, discos, cds, faixas, fotos, recortes de revistas e jornais. Enfim tudo sobre o idolo, alem é claro de passarem o dia todo ouvindo musicas, do Cantor, que em 1968, ameaçou o trono de Roberto Carlos.

Surgiu como um autentico cantor Romantico, Paulo Sergio encantou a midia, que queria um motivo para uma disputa, entre dois idolos da juventude, que nunca, cairam nesta cilada. Embora uma outra mídia, a chamada da tal MPB de fato, criticou Paulo Sergio, dizendo que era um imitador barato do Rei, inclusive na voz.. Mas eles, sempre se respeitaram. Só para ter uma idéia do que representou o cantor, naquele final dos anos 60, seu compacto com a musica “A Ultima Canção”, vendeu em três semanas, mais de 60mil cópias, que para os padrões da época, só Roberto Carlos, vendia desta forma. Foram 13 LPs, gravados, e algumas colêtaneas, dos quais lhe rendeu mais de 8milhões de discos vendidos, até a sua morte.

Mas sua trajetória, como de todos os cantores, da chamada música brega, não foram e não são reconhecidos, como parte da MPB. Na maioria dos livros sobre a História da Música Brasileira, Paulo Sergio tem sua História excluída ou na melhor das hipoteses, um verbetizinho, quase inexpressivo. Tal qual a imensa maioria dos pobres, estes compradores e admiradores de sua música, o artista de Cachoeiro, é cortado, quase que como um cancêr ou uma praga, dos meios literarios, e musicais. Poucos são os artistas que ousam lhe fazer tributos, fora do circulo dos bregas&cafonas.

A tese de que somos um povo que não discrimina, já caiu por terra, milhões de vezes. Somos um País, que o Racismo existe, a Homofobia é violenta, as mulheres ainda são tratadas como sexo fragil e de cama e mesa, que a questão social é condição para estabelecer privilégios na sociedade, as artes tambem não são excessão á regra. Para artistas do naipe de Tim Maia, Elis Regina, Cazuza e tantos outros, que não estão mais neste mundo, os espaços para a preservação da memória de suas vidas e obra, são diversos: tocam nas radios, seus discos são reeditados, há tributos, regravações, livros, filmes e espetaculos teatrais. Mas para a Dona Maria, a Zefa, o diogo sapateiro, a amélia cobradora de onibus, o passoca, reciclador de lixo, só a um espaço de culto a um artista como Paulo Sérgio, seu tumulo.

Paulo Sergio de Macedo, morreu em um domingo, após cantar no programa do Bolinha, da TV Bandeirante e de se apresentar, em um dos palcos, onde o “povão” sempre esta, o circo. Um aneurisma cerebral, interrempeu a carreira, de um dos maiores nomes do cancioneiro popular. Uma tradução das amarguras, desilusões, alegrias, aventuras, dos pobres deste multicolorido Brasil, como gosta de dizer, o plural Darci Ribeiro. Paulo Sergio, foi ao lado de Odair José, Waldick Soriano, Nelson Ned, Agnaldo Timotéo e outros, a voz dos que estavam á margem do que acontecia nos porões da Ditadura, as margens de uma moradia e emprego decente, mas que viam neste universo musical, uma identidade com estes cantores, que como o “povão”, vieram da lama, do caos, como cantava Chico Science.

E eu me rendo á arte de Paulo Sergio, que hoje completa 29 anos de sua partida.

RECOMENDAÇÃO DE LEITURA SOBRE PAULO SÉRGIO E A MÚSICA BREGA:

Eu não sou cachorro não

Autor: Paulo César Araujo

Editora: Record

Onde encontrar: http://www.tfm-online.de/ - Consulte preços

Para Ler na Rede:
http://www.orkut.com.br/Main#CommMsgs.aspx?cmm=31666653&tid=5335414993148625859&na=1&nst=1 .

sexta-feira, 26 de junho de 2009

O ARTISTA VAI ONDE O POVO ESTA


A Arte não pode estar descolada da sociedade. Qualquer obra, necessita não só falar do universo em que se vive, como ser uma fonte para construir cidadania e preservar tradições de um povo. O artista que não segue este preceito é constantemente levado pelo Deus Mercado e as ilusões do Show Business. Foi por conta desta concepção, que fiz esta Entrevista.


Conheci o Percussionista, formado em Administração de Empresas, Marco Lima, no II FESTIAFRO em 2006, apesar de ser vizinho dele. Não só conheci o maravilhoso som que ele tira de alfaias, tambores, e outros instrumentos, como o seu Projeto que originou a Banda Toc Percussivo.


De forma discreta, se propôs desde 2002, ensinar de graça a arte Africana e Brasileira do Batuque, á crianças pobres da periferia. Tudo isto, sem nenhum apoio institucional ou privado. È um Bandeirante da cultura, toca no mundo alternativo e não da nenhuma bola pro vil metal. Hoje é Presidente da recém criada ACARTE- Associação Cultural dos Artistas e Técnicos de Limeira- uma de suas iniciativas, provando que acredita ser a organização dos trabalhadores, a única forma de conquista de melhores condições de vida. O conteúdo da Entrevista é uma delicia, tenho certeza que os leitores do Blog vão concordar comigo. Marco Lima é destes Heróis anônimos que salvam vidas, sem querer recompensas. Sua arma é a Música.


1. Qual sua satisfação com o Projeto Toc Percussivo?

A grande satisfação não é ver as crianças entrando no Projeto e sim saindo do Projeto. Nosso intuito é ensinar a tocar percussão e vê-los por aí participando em bandas e se dedicando á arte musical. De vez em quando encontro alguns deles pelos festivais de música, convidados por músicos experientes e realizando seus trabalhos com competência. Alguns até já dão aulas. Deste projeto, surgiu a Banda Toc Percussivo na qual hoje participam 3 garotas que começaram com 6 e 8 anos de idade: Fernanda Cordaço 6, Rafaela Cordaço 8 e Laís Andrade 8, que hoje estão com 13 e 15 anos. São meu orgulho! Outro orgulho foi a honra do Toc ter participado da Virada Cultural Paulista 2009.

2. Como ele teve inicio e o que motivou sua criação?

O Projeto Toc Percussivo teve início em 2002 na Igreja São Francisco de Assis, no Jd. Independência. Fui convidado pelo ator Manoel Andrade a dar aulas de música para as crianças desta comunidade. No início éramos: Eu e Isabel Andréa (Professora de musicalização Infantil, hoje trabalhando na Secretaria da Cultura da Praia Grande – S.P.). Começamos com 12 crianças desta comunidade e depois de 06 meses abrimos vagas para mais 15 crianças dos Jardins Morro Branco e Abílio Pedro. Funcionou assim durante 05 anos. Hoje o projeto funciona de forma diferente. Temos feito parcerias com a Secretaria da Educação e de Cultura e levamos este projeto para Escolas Municipais na forma de oficinas de Rítmos para despertar na criançada o gosto pela música regional e folclórica.

3. Quem se apaixonou primeiro, você pela Percussão ou ela por você? Quando este casamento teve inicio e o porque do interesse?

Na verdade eu creio que não foi paixão e nem houve casamento. Somos “Siameses”, nascemos grudados. Creio que já nasci batucando no meu berço (risos). Sempre tive interesse por sons desde que me conheço por gente. Meu pai é músico “tocador de músicas de raiz” e desde criança na minha casa sempre teve visita de músicos. Minha primeira participação em uma Banda foi aos 12 anos de idade. Era uma banda da Comunidade de Jovens da Igreja São Benedito. Já nessa época participávamos de Festivais de músicas pelo Estado de São Paulo. A partir daí não parei mais. Já são 31 anos de música. Nooosssaaa como o tempo passa! (risos)..


4. O que é largar a profissão de Administrador de Empresas, para seguir o caminho da Música?

Bom.. Na verdade eu não abandonei a profissão de Administrador de Empresas. Eu ainda administro várias Empresas: Minha Banda Toc Percussivo, Minha Lutheria de Instrumentos de Percussão, A Associação Cultural dos Artistas e Técnicos de Limeira, o Projeto Toc Percussivo e minhas Oficinas de Artes. Quando comecei, a música era uma atividade paralela, hoje tenho o privilégio de fazer da Arte minha principal atividade.


5. Quais são suas influências Musicais?

Minhas influências musicais são muitas: Primeiro as músicas de raiz que me acompanharam na infância, depois como todo garoto rebelde ouvi muito as grandes Bandas de Rock dos anos 60 a 80. A partir dos nos 80 comecei a tocar MPB, mas as grandes influências que carrego hoje, vieram mesmo das experiências em Festivais de Música. Este meio musical é o celeiro dos maiores músicos do Brasil. Foi nestes Festivais que conheci as músicas regionais e tive a oportunidade de ouvir e de tocar com grandes interpretes e grandes músicos. Hoje a Banda Toc Percussivo é um pouco de tudo isso, além de Antonio Nóbrega, Nação Zumbi, Ânima, Cordel do Fogo Encantado etc.


6. È verdade que você é um artesão? Como é isto? O que você produz?

Sim.. Mas quem te contou ? (risos) Bom... eu crio os meus próprios instrumentos percussivos, faço esculturas com talheres, faço trabalhos com aramados, entre outras coisinhas..Na verdade eu gosto mesmo é de estar produzindo arte. É um vício que tenho! Faço muitas coisas com sucatas e sementes. Dificilmente jogo coisas no lixo. Tenho um espaço na minha casa onde tem de tudo um pouco (risos)... Minha sorte é a minha adorada esposa ainda não ter me jogado no lixo .. (risos)


7. Alem do Toc, onde mais você toca?

Hoje eu me dedico além do Toc Percussivo á Banda Avena, dou aulas de música pela Escola Popular de Música de Limeira, dou aulas particulares, faço Oficinas de Rítmos pela Secretaria do Estado e ás vezes toco na noite com alguns músicos Limeirenses.

8. Toca por prazer ou por sobrevivência?

Sempre toquei por prazer e com muito prazer. É claro que toda arte tem que ter sua recompensa monetária para poder se manter, mas a remuneração é sempre um segundo plano. Sou como o Oswaldo Montenegro conta também em uma entrevista que vi. Não sou muito bom em cobrar pelos meus trabalhos artísticos, vou muito pela emoção de produzir e subir em um palco. Muitos dos meus trabalhos faço de forma gratuita ou cobro o mínimo necessário para a manutenção e se ficarem me devendo, tenho dificuldade em cobrar.

9. Quer ser famoso ou contribuir para tirar uma criança das ruas?

Famoso? Não sei.. Mas ter o trabalho reconhecido é muito bom. É por isso que fazemos ARTE. Não há nada mais prazeroso do que você estar em um palco e receber os aplausos pelo trabalho realizado. Isso é o nosso combustível. Tirar as crianças da rua é uma tarefa que não depende só da nossa vontade. Depende também de apoio financeiro para você manter um Projeto. Ser voluntário é mais do que doar tempo e dedicação. A gente muitas vezes tira dinheiro do bolso pra manter um projeto voluntário. O que já fiz muito! Hoje procuro elaborar projetos em parceria com o Estado e Município para viabilizar esse tipo de atividade.

10. Como você vê as políticas públicas na área Cultural em Limeira?

Nosso grande problema é que a política pública cultural não é constante. Temos grandes épocas de atividades culturais durante os tempos de “vacas gordas”, mas é só o mercado financeiro “balançar” e cadê as atividades culturais? Cadê o investimento nas crianças? A cultura é uma das primeiras a ser afetada no orçamento anual em tempo de crise. Depois de um tempo vem todo mundo correndo atrás do prejuízo, com os discursos: “Vamos acabar com os pichadores!”, “Vamos tirar as crianças da rua!”, “Vamos ensinar música nos presídios!” e etc. etc etc. Como se nós artistas fossemos mágicos ou a fórmula da salvação.

11. O Artista pode ter engajamento político e social?

O artista por si só, mesmo sem saber já é um agente político e social. Muitos não querem assumir um lado politizado, mas isso é extremamente necessário. Ser politizado não quer dizer ser político e sim saber expressar suas idéias e ideais, cobrar pelas necessidades pelas quais acredita, independente de partido político e contribuir para o meio em que vive.

12. Como vê a classe artística na cidade?

A classe artística de Limeira é super dividida. Muitos nem se conhecem e não tem o costume de se unirem. Há três meses, nós artistas de Limeira vimos nos reunindo para discutir o assunto e há um mês fundamos a “ACARTE” Associação Cultural dos Artistas e Técnicos de Limeira na qual fui eleito Presidente. Estamos procurando reverter este quadro e lutar por melhores oportunidades, além de contribuir para a formação e bem estar da classe artística de Limeira.

13. Quais os projetos para o futuro?.

Estou tentando viabilizar alguns projetos Culturais, tentando patrocínio para gravar o CD da Banda Toc Percussivo, buscando espaços para shows, quero também buscar fortalecer a classe artística de Limeira através da ACARTE, pela qual tenho o sonho de uma sede própria com espaço para apresentações culturais e prosseguir com minha luta em prol da cultura.

Para encerrar, gostaria muito de agradecer ao meu grande amigo Janjão, pelo convite, pela oportunidade de poder falar mais um pouco sobre minhas atividades e pelo carinho para com o meu trabalho e do Toc Percussivo.
Grande abraço a todos vocês e até uma próxima oportunidade.

Abaixo a Agenda de atividades deste Fantástico Artista e do Projeto Toc Percussivo:

Agenda de Shows do Toc Percussivo:

Dia 09 de Agosto Participação no Teatro Vitória do Encontro de Artistas Limeirenses.

Dias 20 e 21 de Agosto Show em Cosmópolis

Dia 22 de Agosto na Festa do Morango em Limeira

Agenda Pessoal:

Oficina de Construção de Instrumentos na Praia Grande – S.P. dias 16, 17 e 18
de Julho

Oficina de Sonoplastia Teatral nos dias 13/9 A 18/10 em Mogi Mirim

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SÉRIE: A MÚSICA INSPIRA UM CONTO- II


CARNAVAL


Hoje acordei no horário de costume, as seis da manhã. Já não durmo quando tinha, 20 ou 40 e até 50 anos, minhas noites tem sido encurtadas para o sono. Levanto faço o café, o qual aprendi bem tarde a faze-lo, até pouco, Maria é quem fazia. Alias tudo fazia, eu não sabia nem fritar ovos, quem dera então cozinhar o básico, feijão, arroz e bife. O pão costumo buscar mais tarde na padaria do seu Nico, mesmo porque nesta refeição e nas outras a única companhia que tenho é Marcellus um gato que ganhei de minha neta, Sonia que pouco a vejo. O nome do bichano foi uma de minhas distrações. Busquei no baú velho, as revistas de um semanário dos anos 50, intitulado Cinelândia. Lá comecei a procurar nomes de personagens de fitas da sétima arte. Encontrei em o Manto Sagrado. Era o nome do Centurião Romano, interpretado por Richard Burton. Este filme é um de meus favoritos, o preservo em VHS, uma das cópias que fiz nos anos 90, antes do advento do DVD.

Há anos que minha rotina tem sido, a de após o café e a compra de pães, ir a banca de jornal localizada no farol de cruzamento de duas avenidas, e papear com os “velhinhos”, meus amigos de conversas, sobre o Palmeiras, a falta de dinheiro, a Aposentadoria de fome, as dores físicas e só. Nem sei porque freqüento estas rodas, elas colocam qualquer sujeito no maior baixo astral. Mas prosseguindo a vidinha (que não pedi a Deus). Depois dos papos pra lá de entendiantes, faço um ritual desnecessário. O de ir até o banco onde recebo minha aposentadoria e retiro o extrato da conta. Só um dia do mês ela tem saldo, mas me diverte o fato de nunca ter dinheiro.


Antigamente me revoltava este fato, pois pensava que políticos e patrões ganhavam rios de dinheiro explorando os pobres mortais. Porem me da alivio de consciência, pois tudo o que ganhei e ganho foi com honestidade e muito trabalho. Volto para casa, da mesma forma que fui. Ônibus, graças ao beneficio da gratuidade para os mais de 65 anos de idade. Chego e esquento o que sobrou da janta no único pertence que sobreviveu, após a ida de minha esposa, o microondas.


Assisto esportes do meio dia, fico entristecido com a ignorância de nossos meios de comunicação, que não informam, deformam. Depois, me resta a Sesta, que não dura mais que quinze minutos. Fico mais tempo na cama, mas de olhos bem abertos, pensando o quanto minha vida é interessante. No fim de tarde, recebo uma visita, é a vizinha, que passa minhas roupas. Ela é viúva, conservada e acho que me procura todo dia, para um romance. Finjo que nada vejo. Pra falar a verdade, não me interessa, desde..... A vizinha fica o tempo suficiente, para que eu a dispense com desculpas do tipo, preciso tomar banho(quando é visível que já o fiz), ou vou sair (estou quase sempre de pijamas neste horário). E pra terminar, talvez o único prazer: Ler as obras de Garcia Márquez. Seus escritos principalmente, Amor nos Tempos do Cólera e Memórias de Minhas Putas tristes, falam de recomeço ou um novo começo para o velho.

Estas leituras, não servem para nenhuma lição ou dica de futuro. Mas são nelas que encontram o Nirvana. Chego a ter ereções, ao imaginar a putinha de memórias ou a Fermina do cólera. O ambiente épico e latino Americano de Garcia Marques, contribuiu para um erotismo, desprovido de pornografia, mas cheio de malicia e sacanagem. Isto me faz recordar as noites de caricia e ternura, com minha Maria. A primeira, foi temida e tímida, até apressada. Mas com o tempo, parecíamos dois personagens do Kama Sutra. Ela me completava, ao me deixar entrar dentro, vivíamos uma explosão de cosmos e estrelas. Os suores e o cheiro de porra, davam o perfume de nosso coito. Deixo o livro e termino me masturbando e chorando.

Mas hoje, parece que não to afim de cumprir a jornada diária. Algo me picou.

Faz dez anos, que Maria partiu. Fiquei literalmente encerrado em casa, durante dois anos. Não saia pra nada. Minha filha é quem trazia comida, roupa lavada, a qual não comia e não trocava. Queria morrer, não me matar, sou cristão. Um dia vi que a melhor forma de me juntar a minha amada é viver e não viver. Fazer as coisas mecanicamente, cair na monotonia sem motivo algum. Mas me dou conta neste momento que apesar da tristeza, não estou a morrer. Percebo que ao contrario do que pensei, algo me dá energia para continuar. È como se cada coisa que faço, é o sentido perdido á uma década.

Um fogo sai de minhas entranhas, percorre o sangue em minhas veias. To renascido? Não sei. Só sei que não quero partir, nem espiritualmente, nem tão pouco carnalmente. Sacudir a poeira? Não sei. Fazer algo diferente? Casar? Não sei de nada, ainda. Só sei que quero viver, buscar o caminho das pedras, das montanhas, dos mares. Buscar o caminho da volta, do passado, presente, futuro.

Hoje 23 de Junho, completo Setenta Carnavais e é isto que quero na vida: CARNAVAL.

Começar De Novo
Ivan Lins
Composição: Ivan Lins / Vitor Martins

Começar de novo e contar comigo

Vai valer a pena ter amanhecido

Ter me rebelado, ter me debatido

Ter me machucado, ter sobrevivido

Ter virado a mesa, ter me conhecidoT

er virado o barco, ter me socorrido

Começar de novo e só contar comigo

Vai valer a pena ter amanhecido

Sem as tuas garras sempre tão seguras

Sem o teu fantasma, sem tua moldura

Sem tuas escoras, sem o teu domínio

Sem tuas esporas, sem o teu fascínio

Começar de novo e só contar comigo

Vai valer a pena já ter te esquecido

Começar de novo...

EM TEMPO: Este texto é dedicado ao meu Pai, que fez 70 anos no dia 23 de Junho.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

SÉRIE: A MÚSICA INSPIRA UM CONTO- I



ROSALIA

Foi o dia mais feliz de minha adolescência. Não esqueço jamais. Se um dia for escrever um livro de memórias, sem duvida este fato será tido como o mais importante, não para minha formação de caráter, mas para o conhecimento do afeto e do carinho. Naqueles tempos, as casas de mulheres, de divertimentos masculinos ou zona do meretrício, eram raras nas cidades, no máximo uma. A curiosidade em conhecer estas sedes do prazer dos homens, se disseminava entre os garotos de minha idade, a maioria se descobrindo para o sexo. A punheta, era o máximo que muitos entre nós chegou de uma relação. Claro que os famosos trocas-trocas existiam, mas ninguém em sã consciência admitia esta experiência. Todos se diziam machos e contavam historias de aventuras com mulheres, as quais era difícil de provar. A vontade mesmo, estava em conhecer a Casa de dona Concha, cujo apelido era em função de suas curvas um pouco gordurosas.

O acesso a casa, era difícil. Primeiro pelo fato de que menor de idade não podia freqüentar o estabelecimento, só acompanhado pelo Pai e mesmo assim depois de muita negociação com a gerente do negocio. Segundo, que o imóvel, ficava bem distante da cidade, onde poucos entre nós conhecíamos o caminho para lá chegar. Terceiro e principal motivo, era muito caro, passar uma hora com as deusas que fantasiávamos após o futebol no campinho.

Um dia Joaquim Barriga D’Água, era chamado assim, porque se falava que teve esquistossomose quando tinha sete anos, chegou e disse que devíamos invadir a casa de Dona Concha. Ele não aquentava mais de ansiedade, dizia- Não que eu precise, vocês sabem, eu tenho garotas a hora que quiser, mas é pra prestar um favor, aos amigos que só transam com eles mesmos-, o pau comeu, todos demos uns petelecos no barrigudo. Mas resolvemos leva-lo a sério. Mas você sabe onde fica a casa? Perguntou o Titão- Sei meu irmão que lá esteve me disse-. Bom se é assim, então podemos ir, dissemos em coro. Mas aí Dario, levantou outras questões. Como vamos entrar? E com que dinheiro, vamos transar?. Joaquim esperto como um touro disse- Pois é, não sei-. A vontade era de socar o cara. Mas aí, não me lembro, quem falou- È de dia, elas com certeza não trabalham esta hora, podemos pedir pra ouvir musica, soube que lá havia uma Juke Box. Este seria o álibi, ou desculpas.

Muito bem marcamos, para o dia seguinte nossa saída para a Casa de nossos sonhos, depois da escola e após o almoço, tipo uma da tarde, no campinho mesmo. Fizemos o pacto de que apenas os que ali estavam iriam para a aventura. Era o pacto da tramela fechada. Que foi o primeiro a cair. Ao chegar no local combinado, praticamente todo o time de futebol do bairro, esta ali, até os garotos mais novos. Depois de muito bate boca, para descobrir quem foi o linguarudo, a Candinha da turma. Decidimos que apenas os menores de 13 não iriam. Eles chiaram e se foram para as casas. Pelo menos achamos que tinham ido para casa.

Lá fomos então, mais ou menos uns quinze, todos excitados, a ponto até de cantar os próprios companheiros de viagem. O Barriga D’Água a frente da expedição, pois era o único que dizia que sabia onde estava a casa. Levamos quase 2horas para encontrar. O panaca, se perdeu, disse que tinha esquecido o caminho que o irmão tinha lhe explicado.

A fachada da casa, era dos tempos coloniais. Parecia ser muito grande. Logo na entrada, uma escada com uns dez degraus e uma porta enorme. A ansiedade era grande, mas naquele momento bateu um medo, ninguém queria bater na porta e pedir para ouvir musica. Depois de muita hesitação e conversação, Ulisses por ser o mais velho e metido a comedor, foi o escolhido. Subiu os degraus, quase que em câmera lenta. Tremia feito vara verde. Aí ao chegar defronte a porta, quis voltar, mas escutou, um nem pensar seu porra. Bateu na porta e imediatamente aconteceu o que não imaginávamos. Não só a porta principal se abriu, como as janelas laterais e portas do fundo, é como se as moradoras da casa estivessem nos esperando. No fundo de cada um de nós, quando uma senhora gorda, simpática e com um rosto muito bonito, disse: Hum visitas, que bom, minhas meninas precisam de companhia durante o dia, distraí- achávamos que a virgindade iria para o espaço naquele dia.

Entramos, um grande salão e uma enorme escada que com certeza, era o caminho para os quartos. Nenhum de nós, se cabia de felicidade e de timidez. Aos poucos a sala foi invadida pelas mulheres mais lindas que já tinha visto na vida. Alguém ligou a Juke Box, igualzinho aqui tínhamos visto no catecismo do Zéfiro. As musicas eram diversas, tinha Roberto, Odair José, Waldick Soriano, Paulo Sergio e até Rock In Rool. Aos poucos todos foram perdendo o medo e a vergonha e o local transformou-se em um verdadeiro baile. As garotas muito boas de papo. Sexo? Você devem estar se perguntando. Apesar de não esquecermos do propósito ao qual nos levou até aquele estabelecimento, ninguém ousou avançar sinal.

Eu conheci Rosalia, seu nome de guerra era Marina. Ela me chamou para seu quarto, um local limpo, com uma decoração moderna e com um cartaz imenso de Janis Joplin. A menina de 20anos era fã da Roqueira. Conversamos muito, ela dizia de seus sonhos, de estudar e ser médica veterinária e depois quem sabe casar. Gostava daquela vida, entrou ali, porque o pai e expulsou de casa, quando a pegou na cama com o namorado, sem antes constranger a menina, ao fazer os irmãos verificarem eles mesmos a virgindade da garota. Mas apesar de se sentir amada pela Dona Concha, seu desejo era sair um dia dali.

Trocamos um beijo, (o primeiro de minha vida), mais afetuoso do que excitante. Disse a ela que gostaria de um encontro longe dali, um sorvete, após um filme no Cine Vitória. Ela disse que não podia, as pessoas da cidade não entendiam aquela vida e não queria me prejudicar, quem sabe um dia.

Fomos embora as cinco da tarde, felizes pelas horas ali passadas. Ninguém transou. Este seria nosso segredo. Mas a fama de que fomos os únicos a adentrar o palácio das Mulheres de Dona Concha, se espalhou rapidamente pelo bairro.

Eu, bem não consegui esquecer de Rosalia. Seu sonho de um dia sair dali, se transformou o meu por um tempo. Depois, a vida continuou e nunca mais vi a garota ou voltei a casa de diversões, que anos depois foi fechada pelas autoridades locais para abrigar condomínios de luxo.

A Música que inspirou o conto:

Vou Tirar Você Deste Lugar
Odair José

Composição: Odair José

Olha... A primeira vez que eu estive aqui

Foi só pra me distrair

Eu vim em busca do amor Olha..

Foi então que eu te conheci

Naquela noite fria

Em seus braços meus problemas esqueci Olha...

A segunda vez que eu estive aqui

Já não foi pra distrair

Eu senti saudade de você Olha...

Eu precisei do seu carinho

Pois eu me sentia tão sozinho

Já não podia mais lhe esquecer


Eu vou tirar você desse lugar

Eu vou levar você pra ficar comigo

E não interessa

O que os outros vão pensar

Eu vou tirar você desse lugar

Eu vou levar você pra ficar comigo

E não interessa

O que os outros vão pensar


Eu sei... Que você tem medo de não dar certo

Pensa que o passado vai estar sempre perto

E que um dia eu posso me arrepender

Eu quero

Que você não pense nada triste

Pois quando o amor existe

Não existe tempo pra sofrer


Eu vou tirar você desse lugar

Eu vou levar você pra ficar comigo

E não interessa

O que os outros vão pensar

Eu vou tirar você desse lugar

Eu vou levar você pra ficar comigo

E não interessa

O que os outros vão pensar

Eu vou tirar você desse lugar

segunda-feira, 9 de março de 2009

O SUINGE DE WILSON SIMONAL


O cantor francês Antoine, que se dizia torcedor do Flamengo, ensaiou cantar naquela noite alguns trechos, a então canção de despedida de Gilberto Gil, “Aquele Abraço”. Mas a multidão queria mesmo era Wilson Simonal. Simona, presidia o Júri Internacional daquele IV FIC- Festival Internacional da Canção- e sem titubear, atendeu ao chamado do povo, naquele Maracananzinho, palco de grandes emoções. Emoções não faltaram, quando com uma fita verde e amarela, amarrada na testa, Simonal, comandou no gogó, á capela, um coral de vinte mil pessoas, que foram ao ginásio acompanhar a final do Festival, naquele ano de 1969, o primeiro sob o AI5. Se alguém tinha dúvidas da popularidade de Wilson Simonal, as mesmas foram sanadas naquele dia. O coral humano, dispensava o acompanhamento instrumental e como um maestro de uma grande orquestra, Simonal, cantava: “Meu limão, meu limoeiro, meu pé de jacarandá”, e por aí foi.

Wilson Simonal, foi um dos maiores cantores da Musica Popular Brasileira do século XX, sobretudo durante toda a década de 60 até meados da de 70. Dono de uma voz afinadíssima e de um suingue digno de um cantor de Jazz e Soul Americano, Simona como era chamado, criou um estilo próprio de interpretar e até um movimento não organizado, a pilantragem, uma releitura, da musica da malandragem de Moreira da Silva e outros. Emplacou diversos sucessos: Mamãe Passou Açúcar em Mim, País Tropical e Meu Limão Meu Limoeiro, Sã Marina e muitas outras.

Mas morreu sem ter podido provar que nada teve a ver com as denuncias de que teria sido um delator á serviço da ditadura militar. As acusações feitas a época por um agente do DOPS, fez a carreira de Simonal, desabar. Discos ficaram nas prateleiras das lojas, Shows não lhe chamavam mais, artistas não queriam com ele fazer nada mais, as TVs não incluíam em sua programação. Este ostracismo foi quebrado, em duas ocasiões. A primeira em decorrência do lançamento em 1994, da Coletânea, A Bossa e o Balanço de Wilson Simonal, que fez um enorme sucesso e o recolocou na mídia novamente. A segunda foi conta de sua doença, que o levou ao falecimento em 26 de Junho de 2000.

Wilson Simonal, foi importante para a MPB. Primeiro porque mantem em um período onde os compositores passam a ser interpretes de suas canções, um dos poucos cantores do sexo masculino a ter preferência pelos autores. Segundo, que Simona n era do movimento de Bossa Nova, mas conseguiu impingir ao estilo, uma forma munida de arranjos vocais e instrumentais, que aliavam o Jazz, a Soul Music, o Samba e até o iê, iê. Esta composição, propiciou ao Simona, ser aceito por todas as tribos de nossa musica. Assim Simonal, se apresentava no Fino da Bossa, na Jovem Guarda, no programa do Chacrinha, nos Festivais e etc.

Não sei se as denuncias de caguetagem contra Wilson Simonal, são verídicas, pois seus advogados nunca encontraram nenhuma evidência nos arquivos que se tem acesso, bem como nenhum artista se apresentou até hoje, se dizendo vitima de sua deduragem. Simonal pode passar para a História como um dos maiores injustiçados, pela classe artística, pela imprensa e pelo governo.

No entanto, Simonal deixa para nós Brasileiros duas heranças, de suma importância. Sua música e seus filhos Wilson Simoninha e Max de Castro, que preservam em seus trabalhos, a alegria, o gingado e o profissionalismo do Pai.