terça-feira, 3 de dezembro de 2013

MANIA DE VOCÊ

Rita Lee faz parte da minha vida, desde meus primórdios e tenho certeza de milhões de Brasileiros e Brasileiras, de todas as idades. Rita é universal, rompe barreiras de idades, classes sociais, sexo e religião. Rita Lee, não tem tempo ruim que segura nossas pernas para dançar ou nossos ouvidos para viajar em suas canções. Como disse Gil, na composição Quando em homenagem a Loirinha: Com todo prazer, quando a governanta der o bode, pode crer eu quero estar com você, superstar com você”. Clic e ouça aqui: http://brzu.net/04tzv .

Conheci Rita Lee, no tesouro escondido na casa de minha avó materna. As Revistas Intervalo. A capa trazia a loira vestida de bruxa da idade média, entre os irmãos Arnaldo e Sérgio Baptista, dos tempos dos Mutantes. Mais tarde, ouvi Ovelha Negra. Estava na pré adolescência, esta música marcou aquela fase de rebeldia normal de toda a pessoa. Rita continuou estando em meu caminho graças a Deus. Meu pai e seus rádios (Tapes), sintonizados nas FMs naquele fim de anos 70. Ela tocava imensamente, nas rádios. Era uma delicia, cantar e dançar Rita.

Nos tempos da Banda Tuti Fruti, um Rock In Rool com toques mais pesado, mas já preconizava o que viria no final da década e em todo os anos 80. Este é o período de reconciliação da loira. Primeiro com o amor. Casa-se com Roberto de Carvalho e vai ter com ele a experiência musical do pop mais apurado, misturado com marchas carnavalescas que vão marcar sua carreira. Quem não se lembra de Lança Perfume?. Clic e ouça aqui: http://brzu.net/04tzw .

Outro momento de fazer as pazes. No livro Furacão Elis, Regina Etcheverria, conta que ao saber que Rita tinha sido presa, após sua casa ser invadida pela polícia, por suspeita de encontrar maconha em sua casa. Elis enfurecida com o fato, não pensou duas vezes. Ao chegar ao Dops naquele ano de 1977, aos berros dizia ao delegado, “é um absurdo fazerem isto com minha amiga, ela esta grávida”. Nascia ali uma amizade, que enterrava de vez a polêmica que dividia a turma da MPB e a Turma do Rock. Rita Lee em retribuição fez Doce Pimenta. Clic aqui: http://brzu.net/04tzx .

Mas a parceria do Amor com Roberto, vai inaugurar uma parceria que mudaria a vida de Rita e as nossas. A partir do disco Rita Lee de 1979, a cantora e compositora, vai angariar um patrimônio musical, de vendagens de disco, que nem Roberto Carlos ou um Sertanejo Universitário, alcançou até hoje. 55 milhões de cópias de seus álbuns, embalaram namoros, bailinhos, festas de aniversário e outras.

Rita Lee, paulistana da gema, dividiu com Raul Seixas durante anos a nobreza do Rock Nacional. Mania de Você é canção de todos os casais, pelo menos nos anos 80, na hora da relação sexual. A própria Rita confessa, que depois de uma trepada, Roberto pegou o violão e ela fez a letra. Clic e ouça aqui: http://brzu.net/04tzy .

Mania De Você
Meu bem você me dá
Água na boca
Hum! Rum!
Vestindo fantasias
Tirando a roupa
Molhada de suor
De tanto a gente se beijar
De tanto imaginar
Imaginar!
Loucuras...
A gente faz o amor
Por telepatia
No chão, no mar, na lua
Na melodia
Mania de você
De tanto a gente se beijar
De tanto imaginar
Imaginar!
Loucuras...
Nada melhor
Do que não fazer nada
Só prá deitar
E rolar com você...(2x)
Meu bem você me dá
Água na boca
Água na boca!
Vestindo fantasia
Tirando a roupa
Molhada de suor
De tanto a gente se beijar
De tanto imaginar
Imaginar!
Loucuras...
A gente faz amor
Por telepatia
Telepatia!
No chão, no mar, na lua
Na melodia...
Mania de você
De tanto a gente se beijar
De tanto imaginar
Imaginar!
Loucuras...
Nada melhor
Do que não fazer nada
Só prá deitar
E rolar com você...(2x)
Meu bem você me dá
Água na boca!



sábado, 30 de novembro de 2013

REFAZENDA

Aprendi que é preciso sempre fazer revisões. A expressão em sí, chama talvez a um reformismo e não a mudanças profunda nas coisas e na vida. Quem ao menos uma vez por ano, não mexe naquela gaveta velha, naquele armário de entulho, ou na prateleira repleta de livros. Na maioria das vezes o objetivo é se desfazer do que não serve mais para nosso cotidiano. Nessa de revisitar nossa coisas entulhadas em um local, revemos Histórias.

Nesta revisão, quase sempre há um que de saudades. Mas há também, a necessidade de afirmar, poderia ser diferente, ou posso resgatar esta ideia, ela ainda é atual, encaixa nos meus projetos do presente e do futuro. Karl Marx, ao escrever o método cientifico do materialismo dialético, coloca ser a analise da História fundamental para se pensar o presente e o futuro. Marx ao se apoiar na dialética de Hegel, ele mesmo refaz a teoria de seu professor, revendo-a e a aprimorando.

Gilberto Gil em uma Biografia autorizada, Gilberto Bem de Perto, de Regina Zappa, afirma ser Metafisico e não dialético. Não concordo com o artista. Sua obra o desmente. Não vejo nada que confirme uma obsessão pelo não mudar, pelo tempo do aqui e agora. Pelo contrario. A dialética é viva no conjunto do trabalho de Gil. Quando desponta para música, era um bossa novista, mas já com tinturas próximas da música de protesto. Aí ele se reinventa e reinventa a MPB com o Tropicalismo. Esta reinvenção é regra em Gilberto Gil.

Em 1975, estava com doze anos. A MPB já tinha entrado na veia. Não ouvia ou via muito da chamada MPB, até porque as rádios eram inundadas de um estrangeirismo escandaloso. Mas o pouco que tinha contato já bastava. Para mim, a primeira faixa do disco Refazenda, chamava-se Abacateiro. Esta canção foi a mais tocada nas rádios naquele tempo. Só fui descobrir, o titulo correto, uns três anos depois, quando ouvi o disco todo.

Refazenda, é o LP, que inicia uma trilogia que o próprio Gil afirmou na época que faria. E os objetivos estavam claros, no disco e nas declarações do compositor. Dizia Gilberto Gil, a época: Cansei de ser Vanguarda, é preciso voltar ao que já fiz, recontar minha História. Mal sabia Gil, que mais uma vez estava no Vanguardismo da Música Brasileira. Refazenda inaugura ou consolida, a ideia dos discos temáticos, tão utilizados no Rock Progressivo.

E Refazenda, é a volta ao sertão, á roça, a caatinga do nordeste, as coisas simples do sertanejo. É Gil falando de suas origens no interior da Bahia, contando a História de sua Família, do Nordestino. O disco é para Dominguinhos, o cara esta em todas as faixas, além de ter Eu tenho Sede e Lamento Sertanejo no Setlist do discão. Clic e ouça Lamento Sertanejo: http://brzu.net/04tnz .

Portanto Refazenda, a música é a tradução deste revisitar o Brasil Sertanejo, em um tempo de desenvolvimento industrial e êxodo no campo. Clic e ouça Refazenda: http://brzu.net/04to0 .

Refazenda
Abacateiro acataremos teu ato
Nós também somos do mato como o pato e o leão
Aguardaremos brincaremos no regato
Até que nos tragam frutos teu amor, teu coração
Abacateiro teu recolhimento é justamente
O significado da palavra temporão
Enquanto o tempo não trouxer teu abacate
Amanhecerá tomate e anoitecerá mamão
Abacateiro sabes ao que estou me referindo
Porque todo tamarindo tem o seu agosto azedo
Cedo, antes que o janeiro doce manga venha ser também
Abacateiro serás meu parceiro solitário
Nesse itinerário da leveza pelo ar
Abacateiro saiba que na refazenda
Tu me ensina a fazer renda que eu te ensino a namorar
Refazendo tudo
Refazenda
Refazenda toda
Guariroba


sexta-feira, 29 de novembro de 2013

I Can't Get No) Satisfaction

Fui ouvir e ver Rock In Rool pela primeira vez, com uns oito ou nove anos de idade, não me lembro bem. Foi pela televisão, ainda preto e branco, uma telefunkem, com uma traseira enorme, acho que de cor amarela. Compramos para dar cor nas imagens, uma tela de plástico, com traços azuis, vermelhos e pretos. Era considerado chique para época. O incomodo, era ter que levantar para mudar de canal. Tínhamos que virar o enorme seletor.
Foi na antiga TV, que vi pela primeira vez um programa que falava e tocava Rock. Tratava-se do Papo Pop, apresentado por um cara gordo, com roupas coloridas de nome Big Boy. A atração era veiculada na TV Record. Foi com  Big Boy, que pude conhecer bandas clássicas hoje, mas naquele tempo desconhecidas do público Brasileiro. Led Zepellin, Pink Floyd, e Rolling Stones. Boy foi o primeiro disc Jokey Brasileiro. As rádios foi seu habit no inicio de carreira. Ficou famoso também por suas entradas no Jornal hoje da Rede Globo, falando de discos e apresentando clipes.
Foi assistindo este gordo (nos deixou muito cedo, morreu em 1977), que tive minha iniciação rockeira e Stoniana. Depois disto peguei em mãos uma coletânea que tinha Angie, que Jagger fez para sua mulher. Clic aqui: http://brzu.net/04tkm . Mas foi Satisfaction, a canção de minha introdução ao estilo do Rolling Stones. Já de cara, mesmo com minha idade tenra, via nos acordes, na forma de interpretação, toda uma sensibilidade eminentemente sexual. Na verdade eu sentia, não compreendia.
Mais tarde, já calejado com música e com o Rock, pude pesquisar e conhecer a Banda mais antiga em atividade nos dias atuais. Dartford cidade do interior da Inglaterra foi o palco do encontro, entre os então garotos Mick Jagger e Keith Richards. Os dois gostavam de Blues, daquela coisa negra, com um ritmo esfuziante, pronto para liberar adrenalina e levar ao orgasmo dançante. Os Pubs de Londres foi o caminho destes rapazes, que formaram em 1962 uma Banda. Foi em Muddy Waters, uma lenda do Blues, que foram buscar o nome do Grupo. A canção Rollin Stone de Waters, deu origem o nome da banda. Veja a canção aqui: http://zip.net/brknQb .
O Blues, o Rock de Chuck Berry, outra influência forte, foi compondo o estilo da banda. Arranjos dançantes, cantados com voz rasgada de Mick Jagger, com toques refinados do Blues Tradicional. Adicione uma pitada de sensualidade, em rostos e corpos bonitos e você terá uma banda, que levava a loucura rapazes e moças nos primeiros pubs e palcos que tocava.
No inicio, pareceu ser o rival dos Beatles. Canções com letras despretensiosas, terninhos e cabelos curtos. Mas só foi impressão. Logo os caras, faziam letras cada vez mais agressivas sexualmente ou faziam viagens loucas por mundos, nunca dantes navegados. Os Stones, tiveram no inicio o selo de ser uma banda a mais no cenário Pop. A Banda que copiava os meninos de Liverpool. Mas foi a mídia Marqueteira que vendeu esta falsa disputa. A vitalidade dos Rolling Stones é algo que é de se admirar. Não tive a oportunidade de vê-los ao vivo das vezes que vieram ao Brasil, apenas pela Televisão, agora colorida. Mas eles são sensacionais.
Satisfaction, é do disco de 1965. Ainda os acordes do Blues, se faziam presentes em varias faixas. Mas os riffs da Guitarra de Keith Richards já apontava para a tendência que vai consagrar os Stones, o Rock Blues. A canção é um dos maiores sucessos da banda. Veja aqui: http://zip.net/bvlFZt .

(I Can't Get No) Satisfaction

The Rolling Stones 

(I Can't Get No) Satisfaction

I can't get no satisfaction
I can't get no satisfaction

'Cause I try, and I try, and I try, and I try

I can't get no
I can't get no

When I'm drivin' in my car
And that man comes on the radio
He's tellin' me more and more
About some useless information

Supposed to fire my imagination
I can't get no, oh, no, no, no
Hey, hey, hey, that's what I say

I can't get no satisfaction
I can't get no satisfaction

'Cause I try, and I try, and I try, and I try

I can't get no
I can't get no

When I'm watchin' my TV
And that man comes on to tell me
How white my shirts can be
But he can't be a man, 'cause he doesn't smoke
The same cigarettes as me

I can't get no, oh, no, no, no
Hey, hey, hey, that's what I say

I can't get no satisfaction
I can't get no girl reaction
'Cause I try, and I try, and I try, and I try

I can't get no
I can't get no

When I'm ridin' round the world
And I'm doin' this and I'm signing that
And I'm tryin' to make some girl
Who tells me, baby, better come back later next week
'Cause you see I'm on losing streak

I can't get no, oh, no, no, no
Hey, hey, hey, that's what I say
I can't get no, I can't get no

I can't get no satisfaction
No satisfaction, no satisfaction, no satisfaction
I can't get no

(Eu Não Consigo) Me Satisfazer

Eu não consigo me satisfazer
Eu não consigo me satisfazer

Pois eu tento e eu tento e eu tento e eu tento

Eu não consigo
Eu não consigo

Quando estou dirigindo meu carro
E um homem chega no rádio
Ele está me contando mais e mais
Sobre algumas informações inúteis

Para pôr fogo na minha imaginação
Eu não consigo, oh, não, não, não
Hey, hey, hey, é o que eu digo

Eu não consigo me satisfazer
Eu não consigo me satisfazer

Pois eu tento e eu tento e eu tento e eu tento

Eu não consigo
Eu não consigo

Quando eu estou vendo minha tv
E aquele homem aparece para me contar
O quanto as minhas camisetas podem ser brancas
Mas ele não pode ser um homem, porque ele não fuma
Os mesmos cigarros que eu

Eu não consigo no, oh, no, no, no
Hey, hey, hey, é o que eu digo

Eu não consigo me satisfazer
Eu não consigo a reação de uma garota
Pois eu tento e eu tento e eu tento e eu tento

Eu não consigo
Eu não consigo

Quando eu estou andando ao redor do mundo
E eu estou fazendo isso e assinando aquilo
E eu estou tentando transar com uma garota
Que me diz, querido, melhor voltar depois na próxima semana
Pois você vê que eu estou perdendo a minha marca

Eu não consigo não, oh, não, não, não
Hey, hey, hey, é o que eu digo
Eu não consigo. eu não consigo

Eu não consigo ter safisfação
Nenhuma satisfação, nenhuma satisfação, nenhuma safistação
Eu não consigo




domingo, 24 de novembro de 2013

CHEGA DE SAUDADE

É cada vez mais raro, nos depararmos com a seguinte cena: Um grupo de jovens, em uma mesa de bar, ou sala de apartamento, ou mesmo no meio fio das calçadas, com um deles portando um violão e todos cantando canções deles mesmos e conversando sobre as novidades do exterior e o som que eles vinham fazendo. Isto regado a bebida, comida e claro, paquera, namoros e parcerias musicais. Foi assim que um Movimentou ou um estilo musical surgiu no Brasil a Bossa Nova.

O apartamento da família de Nara Leão no Rio de Janeiro foi no final dos anos 50, palco desta reunião de Jovens, entre eles Carlos Lyra, Ronaldo Boscoli, Roberto Menescal e claro o Baiano João Gilberto. Todos amavam o Jazz Americano, em especial o Cool e o Bep Bop. As novíssimas lojas de discos eram locais de ouvir as novidades vindas do exterior. Lá se escutava também, dois cantores Brasileiros que cantavam com voz macia e com arranjos muito próximos aos das Big Bands Americanas e de cantores como Frank Sinatra. Eram Dick Farney e Lucio Alves. Eles se diferenciavam no repertório dos bolerãos, valsas e dor de cotovelo que inundavam a musica Brasileira nos anos 50.

Esta atmosfera musical e comportamental, influenciou o poeta Vinicius de Moraes e o compositor Tom Jobim. Os dois já trilhavam caminhos diferenciados da maioria dos artistas da então MPB. Antenados com o que estava acontecendo ao redor. Em 1958, Elizeth Cardoso, lança o LP Canção do Amor Demais. Uma das faixas é Chega de Saudade de Vinicius e Tom. Mas a novidade estava na batida do violão. Era João Gilberto no acompanhamento. A batida, um ritmo totalmente desconhecido. O samba da Bahia, com toques do Jazz Cool. Em 1959, João lança um compacto, com Chega de Saudade e sua voz baixinha e suave, junto com a batida vai fazer História.

Nascia a Bossa Nova. Que junta-se a ela sua pré História, João Donato, Milton Banana, Vinicius, Tom e a garotada do Apê da Nara. Até hoje, a escritores e críticos que se dividem, quanto ao caráter da Bossa Nova. A aqueles que afirmam ter sido um Movimento, que introduz na música do Brasil, um ritmo alegre que falava do sol, mar, barquinho, amores, na contra mão da tristeza de canções como de Antônio Maria, tão criticado por João Gilberto. Outro aspecto, a batida rítmica e a mistura nos arranjos. Isto segundo Ruy Castro no livro Chega de Saudade, sobre a Bossa Nova, internacionalizou “o Movimento”.


O famoso Show no Carnegie Hall, em Nova Iorque, faz a popularização da Bossa Nova. Standards da canção Internacional como Sarah Vaughan, Stan Getz, Frank Sinatra (com Tom Jobim), Ella Fitzgerald entre outros.

 

Chega de Saudade, da o tom que a bossa nova queria já no primeiro verso. Uma das maiores canções do mundo. Ouça aqui: http://brzu.net/04sxm .


Chega de Saudade

Vai minha tristeza
E diz a ela que sem ela não pode ser
Diz-lhe numa prece
Que ela regresse
Porque eu não posso mais sofrer
Chega de saudade
A realidade é que sem ela
Não há paz não há beleza
É só tristeza e a melancolia
Que não sai de mim
Não sai de mim
Não sai
Mas, se ela voltar
Se ela voltar que coisa linda!
Que coisa louca!
Pois há menos peixinhos a nadar no mar
Do que os beijinhos
Que eu darei na sua boca
Dentro dos meus braços, os abraços
Hão de ser milhões de abraços
Apertado assim, colado assim, calado assim
Abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim
Que é pra acabar com esse negócio
De você viver sem mim
Não quero mais esse negócio
De você longe de mim
Vamos deixar esse negócio
De você viver sem mim

 



sábado, 2 de novembro de 2013

ECLIPSE OCULTO

O Brasil é um País onde o Machismo impera. E não adianta, vir com o papo de que não é verdade. A relação de Gênero, tem suas dificuldades para ocorrerem exatamente pelo enraizamento do Machismo.  Na Música Popular temos inúmeros e expressivos exemplos de aplicação descarada do dito cujo. Uma das canções mais desaforentas, é Amélia de Ataulfo Alves. O compositor se queixa da atual companheira, pois ela só pensa em riqueza e que Que Saudades da Amélia sim ERA MULHER DE VERDADE, pois aceitava inclusive passar fome ao seu lado. Clic aqui para ouvir Amélia: http://brzu.net/04q76

Bom em uma dupla interpretação, Amélia, era capaz de tudo aceitar, ser submissa ao extremo. Hoje um dos maiores problemas do século da informação e da pós modernidade, ainda é a distancia cultural e moral entre Homens e Mulheres. Apesar dos avanços e as conquistas da Mulher na Economia, na Politica, ainda o sexo feminino tem salario inferior, condições de trabalho inferiores, e a violência doméstica cresceu assustadoramente. O Sexo ainda é instrumento  utilizado de dominação. O contraponto nesta questão, pode ser configurada na canção MULHER de Erasmo Carlos. Clic e ouça esta maravilha: http://brzu.net/04q77 .

O que mais traduz o Machismo, são as piadas de mau gosto, o tratamento dado quando se fala de sexo. Ao homem, o poder do pênis se sobrepõe a sua capacidade de ser melhor como ser humano. Para muitos toda mulher é uma puta, pelo menos na cama, inclusive a dele.  É raro alguém falar a respeito da mulher, sem ser chulo, sem denegrir a imagem feminina.

A canção Eclipse Oculto de Caetano reverte esta logica. Coloca os sexos em pé de igualdade. O órgão genital masculino é sujeito na música a falhas, pois é humano, é formado por condições físicas e mentais. A música trata de uma brochada, algo nunca admitido pelos machos. Macho que é macho, não diz que negou fogo. Macho que é macho, faz piada de quem diz que não conseguiu chegar aos finalmentes. Caetano Veloso, não só fala que Brochou, como não desiste de continuar conquistando sua amada, mas não só através do Sexo.

Eclipse vai além desta discussão, de que o sexo representa tudo em uma relação. Ao admitir a relação Broxante e sua culpa, o compositor, diz que o Amor do casal é bonito e que não se deve esquecer do projeto de vida juntos. O refrão, vai nesta direção, quando “Não me queixo, Eu não soube te amar, Mas não deixo, De querer conquistar, Uma coisa, Qualquer em você, O que será?” .

A canção esta no Disco UNS, de 1983, uma das obras mais dançantes do compositor. Uns tem na capa os irmãos de Caetano. Clic aqui para ouvir este clássico: http://brzu.net/04q78 
Eclipse Oculto
Nosso amor
Não deu certo
Gargalhadas e lágrimas
De perto
Fomos quase nada
Tipo de amor
Que não pode dar certo
Na luz da manhã
E desperdiçamos
Os blues do Djavan...
Demasiadas palavras
Fraco impulso de vida
Travada a mente na ideologia
E o corpo não agia
Como se o coração
Tivesse antes que optar
Entre o inseto e o inseticida...
Não me queixo
Eu não soube te amar
Mas não deixo
De querer conquistar
Uma coisa
Qualquer em você
O que será?
Como nunca se mostra
O outro lado da lua
Eu desejo viajar
Do outro lado da sua
Meu coração
Galinha de leão
Não quer mais
Amarrar frustação
O eclipse oculto
Na luz do verão...
Mas bem que nós
Fomos muito felizes
Só durante o prelúdio
Gargalhadas e lágrimas
Até irmos pro estúdio
Mas na hora da cama
Nada pintou direito
É minha cara falar
Não sou proveito
Sou pura fama....
Não me queixo
Eu não soube te amar
Mas não deixo
De querer conquistar
Uma coisa
Qualquer em você
O que será?
Nada tem que dar certo
Nosso amor é bonito
Só não disse ao que veio
Atrasado e aflito
E paramos no meio
Sem saber os desejos
Aonde é que iam dar
E aquele projeto
Ainda estará no ar...
Não quero que você
Fique fera comigo
Quero ser seu amor
Quero ser seu amigo
Quero que tudo saia
Como som de Tim Maia
Sem grilos de mim
Sem desespero
Sem tédio, sem fim...
Não me queixo
Eu não soube te amar
Mas não deixo
De querer conquistar
Uma coisa
Qualquer em você
O que será?


sábado, 19 de outubro de 2013

A ARCA DE NOÉ

Se Vinicius de Moraes, estivesse entre nós completaria no dia de hoje, seu centenário de vida. Uma vida bem vivida. Sua História de dedicação, a poesia, considerando, sempre seu cotidiano, em uma linguagem voltada ao Amor, a Paz e a Solidariedade. Vinicius viveu varias fases em sua obra. Escreveu sonetos e versos falam do Amor Carnal, do transcendental. Respirou momentos de reflexão sócio politica, Rosa de Hiroshima e as canções de protesto contra a ditadura ou o poema dialético classista, lido em 1979, em um Estádio de Vila Euclides, lotado de trabalhadores do ABC Paulista. Com o Operário em Construção, o poetinha transcendia o mágico para atingir o real.

Ontem assisti ao espetáculo “Arca de Noé”, versão de música e dança, feita pela Orquestra Sinfônica de Limeira, sob a regência do Maestro Rodrigo Muller. O Teatro Vitória, lotado de adultos que eram crianças ou adolescentes, quando o disco lançado em 1980, mostrou a poesia de Vinicius para crianças. Repleto esta também o teatro de crianças, filhos e netos daquela geração. Levei minha filha e meu neto Pietro de quatro anos. Minha filha, conheceu as músicas logo em seu nascimento. Pietro dormia já aos dois meses, aos som de o Pato. Clic aqui e ouça: http://brzu.net/04o01 .

Meu neto vibrou e vidrou, na coreografia da Companhia Limeirense de dança da minha amiga Glaucia Bilatto. A visão futurista da Arca, com um cenário, fixo e virtual, casou bem com o figurino, de uma peça só, colando no corpo, com riscos e desenhos, lembrando animais da Arca. A maquiagem das Bailarinas e Bailarinos, trouxe a leveza do mundo animal para o palco. Os movimentos clássicos, se encaixaram perfeitamente na melodia popular dos arranjos da Vila Jazz e do Maestro. O momento de maior perfeição, foi a canção “A Foca”. Clic aqui: http://brzu.net/04o03 .

Os poemas da Arca de Noé, foram escritos ao longo da vida de Vinicius. Eles eram feitos para seus filhos, Suzana e Pedro de Moraes. Feitos e guardados, sem intenção de publica-los. Em 1970, vivendo na Itália, resolveu reuni-los em um livro. E aí foi lançado lá e posteriormente no Brasil naquele ano. Foi em terras Italianas que Vinicius de Moraes, foi apresentado a um grande músico, amigo de Chico Buarque de Holanda, exilado que estava por lá. Toquinho vai se transformar durante os últimos dez anos da vida do Poetinha seu parceiro musical (o maior) e amigo. Com o paulistano Toquinho o carioca Vinicius, irá colocar música nos poemas. Clique aqui e ouça “A Casa”: http://brzu.net/04o04 .

Só dez anos depois um pouco antes de sua morte, em 1980, que a obra completa, letra e melodia. E aí saí dois discos, com o titulo “A Arca da Noé”. Neste disco, um seleto grupo de artistas da MPB, vão emprestar sua vóz, aos maravilhosos arranjos, entre eles de Rogério Duprat. Só para ficar em alguns: Elis Regina (Corujinha), Walter Franco (O Relógio), Marina Lima (A Gata), Ney Mato Grosso (São Francisco). Mas a faixa titulo, é brilhantemente interpretada por Milton Nascimento e Chico Buarque. Ouça aqui: http://brzu.net/04o05 .


A Arca de Noé

Vinicius de Moraes

Sete em cores, de repente
O arco-íris se desata
Na água límpida e contente
Do ribeirinho da mata
O sol, ao véu transparente
Da chuva de ouro e de prata
Resplandece resplendente
No céu, no chão, na cascata
E abre-se a porta da arca
Lentamente surgem francas
A alegria e as barbas brancas
Do prudente patriarca
Vendo ao longe aquela serra
E as planícies tão verdinhas
Diz Noé: que boa terra
Pra plantar as minhas vinhas
Ora vai, na porta aberta
De repente, vacilante
Surge lenta, longa e incerta
Uma tromba de elefante
E de dentro de um buraco
De uma janela aparece
Uma cara de macaco
Que espia e desaparece
"Os bosques são todos meus!"
Ruge soberbo o leão
"Também sou filho de Deus!"
Um protesta, e o tigre - "Não"
A arca desconjuntada
Parece que vai ruir
Entre os pulos da bicharada
Toda querendo sair
Afinal com muito custo
Indo em fila, aos casais
Uns com raiva, outros com susto
Vão saindo os animais
Os maiores vêm à frente
Trazendo a cabeça erguida
E os fracos, humildemente
Vêm atrás, como na vida
Longe o arco-íris se esvai
E desde que houve essa história
Quando o véu da noite cai
Erguem-se os astros em glória
Enchem o céu de seus caprichos
Em meio à noite calada
Ouve-se a fala dos bichos
Na terra repovoada


domingo, 13 de outubro de 2013

TANTO MAR

Quem não conhece a História do Brasil e do Mundo, basta ouvir a obra musical de Francisco Buarque de Holanda e saberá tudo o que aconteceu nos últimos 60 anos. Os principais fatos, são narrados por Chico, com uma poesia digna de uma Camões e de um Pessoa. Sua capacidade de interpretar a História sob a ótica não dos poderosos, mas da massa pobre e trabalhadora é fascinante. Combinar os arranjos com as quadras poéticas, é único na MPB. Chico é insuperável no domínio da língua portuguesa.

A História narrada assim, discorreu sobre diversos assuntos e temas. Do operário (Pedro Pedreiro, Construção), da TV como veiculo de manipulação das massas (Roda Viva), homenagens á personalidades da Música e do Mundo (Paratodos, Angélica), contra a Ditadura no Brasil então, imensas canções (Apesar de Você, Cálice, Acorda Amor). Retratou outros Países, como Angola na figura de uma Mulher (Morena de Angola) e foi em Yolanda na parceria com o cubano Plabo Milanés, faz sua Ode a Cuba. Clic aqui e ouça Yolanda: http://brzu.net/04lnz .

Em 1975, Chico Buarque faz sua homenagem e retrata o que foi a Revolução dos Cravos. Foi em um Show com Maria Bethania, que Tanto Mar foi apresentada pela primeira vez. Na plateia estava um censor, um ex. Zagueiro da Seleção Brasileira de 1950, aquela que perdeu a copa em pleno Maracanã para o Uruguai. A canção não pode ser gravada com letra, toda censurada pela Ditadura. A canção original foi gravada naquele ano em Portugal em um compacto duplo, e no disco gravado com Bethania, apenas o Instrumental. Clic e ouça a versão instrumental: http://brzu.net/04lo1 .

A Revolução dos Cravos, tratou-se na verdade, de uma articulação (alguns chamam de golpe), entre Militares, Estudantes e Sindicalistas, que derrubou sem disparar mais do que meia dúzia de balas, a Ditadura de Salazar, que dominava o poder desde 1933. O Salazarismo, era a versão fascista de Mussolini, em Portugal. Com a Revolução, ocorre um ineditismo, naquele período. Pela primeira vez, as forças armadas são protagonistas de um movimento para restabelecer a democracia.

Tanto Amar narra na primeira versão o ocorrido, quase que em tempo real. O povo nas ruas em um 25 de Abril em plena Primavera na Europa. A Segunda versão é como uma critica aos resultados da Revolução. Os Versos já murcharam sua festa pá, mas certamente esqueceram uma semente, aponta para uma certa desilusão do autor com os frutos da Revolução, mas nunca a esperança de que ela pode dar certo.

Um fado, este é o arranjo, teve a segunda letra, para o disco Chico Buarque de 1978. A linda canção pode ser ouvida aqui: http://brzu.net/04lo2 .

1975
(primeira versão)* 
Sei que estás em festa, pá
Fico contente
E enquanto estou ausente
Guarda um cravo para mim
Eu queria estar na festa, pá
Com a tua gente
E colher pessoalmente
Uma flor do teu jardim
Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei também quanto é preciso, pá
Navegar, navegar
Lá faz primavera, pá
Cá estou doente
Manda urgentemente
Algum cheirinho de alecrim 
* Letra original,vetada pela censura; gravação editada apenas em Portugal, em 1975. 

1978
(segunda versão)

http://www.chicobuarque.com.br/img/ponto_verde.gif

 
Foi bonita a festa, pá
Fiquei contente
E inda guardo, renitente
Um velho cravo para mim
Já murcharam tua festa, pá
Mas certamente
Esqueceram uma semente
Nalgum canto do jardim
Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei também quanto é preciso, pá
Navegar, navegar
Canta a primavera, pá
Cá estou carente
Manda novamente

Algum cheirinho de alecrim