sábado, 27 de julho de 2013

GRÁVIDA

Em 1991, o amor da minha vida Nadir de Souza Gonçalves teve um bebê, uma linda menina, minha filha, meu orgulho, Ruani. O nascimento dela me encheu de vida. É um sentimento inexplicável, este de ser Pai, é dadiva divina, não tem explicação. A gravidez, é o ápice do nascer, para a mulher então, em minhas pesquisas com minhas duas, percebi ser a glória, é o amor se transformando em vida. Uma gravidez transforma a todos, para que surge uma nova Mulher, um novo Homem, com o crescimento do embrião.

Foi neste ano que Marina Lima, lançou o décimo disco da carreira, intitulado simplesmente “Marina Lima”. É a primeira vez que a cantora e compositora assina um trabalho, utilizando seu nome completo. Também é a primeira vez, que trabalha mais seu lado compositora, assinando sozinha varias faixas do disco. Foi também o primeiro trabalho dela com o produtor Liminha, um craque na produção de discos da MPB.

A carioca, que gravou pela primeira vez, em 1978 com o LP simples fogo, compunha desde lá com seu irmão Antônio Cicero. Suas influências são idênticas a da maioria dos artistas Brasileiros, Dolores Duran, João Gilberto, depois os Festivais de Música, Beatles e o Suingue do pop e da soul music Americana. Vivendo na adolescência nos Estados Unidos teve contato, com feras da música negra e do eletrônico pop. Será decisivo estas misturas musicais em seu trabalho. A poesia do irmão e os arranjos leves e soltos, combinaram com sua voz grave até meio roca, a transformando em uma das melhores cantoras do Brasil. Veja tão fácil do disco de estreia: http://migre.me/fBFOO .

A Cantora emplacou vários sucessos desde então, Fullgás, Me Chama, Francesa e varias outras. Mas este disco de 1991, parece que significava a transformação, bem ao gosto da dialética. Acontecimentos, Não sei Dançar e Grávida foram os Hits deste Álbum. A capa já demonstra sinais desta mudança. Fundo preto com Marina de blusa amarela e calças pretas e com os braços abertos, pronta para a acolhida, para a recepção, com Amor e carinho. Grávida em sua letra, fala em metáforas, desta transformação, como o feto se transforma no útero da mulher. Um arranjo pop, dançante mesmo, nos faz pensar nesta mudança em que todos nós estamos sujeitos a sofrer, seja para o bem, seja para o mal. Grávida é uma parceria brilhante de Marina com Arnaldo Antunes.

Grávida é uma das minhas favoritas. Ao se desfazer dos Vinil, este eu não doei a ninguém. Veja e ouça e se transforme: http://migre.me/fBG2E .


Grávida

Marina Lima

Eu tô grávida 
Grávida de um beija-flor 
Grávida de terra 
De um liquidificador 
E vou parir 
Um terremoto, uma bomba, uma cor 
Uma locomotiva a vapor 
Um corredor
Eu tô grávida 
Esperando um avião 
Cada vez mais grávida 
Estou grávida de chão 
E vou parir 
Sobre a cidade 
Quando a noite contrair 
E quando o sol dilatar 
Dar à luz
Eu tô grávida 
De uma nota musical 
De um automóvel 
De uma árvore de Natal 
E vou parir 
Uma montanha, um cordão umbilical, um anticoncepcional 
Um cartão postal
Eu tô grávida 
Esperando um furacão, um fio de cabelo, uma bolha de sabão 
E vou parir 
Sobre a cidade 
Quando a noite contrair 
E quando o sol dilatar 
Vou dar a luz



quinta-feira, 25 de julho de 2013

TREM AZUL


No livro Os Sonhos não envelhecem, seu autor Márcio Borges, faz um relato biografo de sua própria História e de seus amigos, músicos e poetas. Uma viagem que começa no inicio dos anos 60 do século passado e que ainda prossegue. Tudo começa, com a amizade dos irmãos Borges, Márcio o mais velho, Marilton o do meio, Lô o caçula na época com nove anos com um neguinho de Três pontas, que vem para Belo Horizonte atrás do sonho de ser cantor. Milton e os Borges, terão como cenários desta amizade, o bairro de Santa Teresa onde moravam os irmãos, mais especificamente as esquinas do local.

A eles mais uma porção de mineirinhos, como Wagner Tiso, Fernando Brant, mais tarde Beto Guedes, Toninho Horta, Nelson Ângelo e outros. Todos tinham muito em comum. O Jazz, a tradição mineira e seu folclore e claro os Beatles. Aqueles anos mágicos, fazia as esquinas de Santa Teresa, povoar-se dos sonhos daquele grupo, se não música o assunto, era Futebol, debate interminável entre Atleticanos e Cruzeirenses. Mas o que interessava era ouvir de tudo o que rolava e tocava nas rádios. Milton e Tiso, foram tocar na noite, formaram entre muitos o grupo Ws’ Boys e o Evolusamba. Os dois tocavam Bossa e Jazz, mistura natural naquele primeira metade da década.

Lô Borges acompanhava aquela efervescência, em sua casa e rua. Aprendeu a tocar violão com Milton e a escrever com seu irmão Márcio. A turma, vai se separando fisicamente, ganhando carreiras solos ou com outros parceiros, mas a produção musical era grande entre eles. Milton vai ter a sua Canção do Sal gravada por Elis Regina e isto abre as portas para o cara de três pontas nos grandes centros da Música. Clic aqui para ouvir Canção do Sal: http://migre.me/fB948 .

Mesmo com os voos solos a mineirada das esquinas de Belo, se conectavam (não tinha Internet, hein), e muita música boa saia. Foi assim nas parcerias de Milton Nascimento com Fernando Brant, que rendeu a eles o segundo lugar no Festival Internacional da Canção de 1967, com Travessia. Mas vai ser em 1972, que a amizade e a cumplicidade musical vai se revelar para o mundo com o lançamento do Álbum Duplo o Clube da Esquina 1. Embora a obra vai ser considerada como solo de Milton, era reuni toda a turma, uns cantando, outros na composição. Tem muito sucesso neste disco, mas vou destacar uma do Lô Borges em parceria com Fernando Brant, que mais tarde Beto Guedes imortalizou, mas no Clube foi Lô quem interpretou. Paisagem na Janela: http://migre.me/fB9gg .

Trem Azul esta neste disco. Foi inspirada em uma viagem de Lô em um Trem na Europa. Ficou esquecida por quase dez anos. Elis Regina como sempre é quem vai desenterrar esta canção da parceria de Lô Borges e o carioca agregado ao Clube Ronaldo Bastos. È ultimo Show de Elis. Um espetáculo de 1981, gravado em Fita cassete, que só após sua morte a Som Livre, relançou e nos anos 90 reeditou em CD. O Clube da Esquina nome dado por Marcio Borges, por razões obvias aqui já relatadas, fazem realmente os sonhos não envelhecerem. Elis cumpriu a sua parte: http://migre.me/fB9wa .


O Trem Azul

Lô Borges

Coisas que a gente se esquece de dizer
Frases que o vento vem as vezes me lembrar
Coisas que ficaram muito tempo por dizer
Na canção do vento não se cansam de voar
Você pega o trem azul, o Sol na cabeça
O Sol pega o trem azul, você na cabeça
Um sol na cabeça
Coisas que a gente se esquece de dizer
Coisas que o vento vem as vezes me lembrar
Coisas que ficaram muito tempo por dizer
Na canção do vento não se cansam de voar
Você pega o trem azul, o Sol na cabeça
O Sol pega o trem azul, você na cabeça
Um sol na cabeça




segunda-feira, 22 de julho de 2013

COMIDA

Como já disse aqui, gosto de televisão desde que nasci e acompanhava os famosos programas de auditórios (hoje o pouco que tem á muito chato), os ditos populares. Foi em um deles, O Clube do Bolinha, do apresentador Edson Cury, que mantive meu primeiro contato, com a Banda Paulistana Titãs do Iê, Iê, era assim que os oito caras se intitulavam. Roupas extravagantes, terninhos uns pretos, outros brancos, outros tremendamente coloridos, com corte de cabelos Punk e sapatos colegiais, os caras cantavam e dançavam um novo estilo musical que vinha roubando a cena na Inglaterra pós Sex Pistons, a New Wave. A canção era Sonífera Ilha, do primeiro disco dos caras e primeiro sucesso a tocar nas rádios. Ouçam e vejam este clássico aqui: http://migre.me/fzJMk .

A Banda foi amadurecendo, de disco a disco e chegou inclusive a um que considero o ápice do Titãs, Cabeça Dinossauro de 1985, momento em que o País vivia seu primeiro ano pós ditadura e já tinha um Presidente eleito no colégio eleitoral, morto. Ironia quem assume, é seu Vice Sarney vindo das hostes dos anos da Ditadura, com certa desconfiança de todos, mas tolerado, porque os novos donos do poder auto intitulam-se de Nova República. Este disco é um de meus favoritos do Rock BR ou Rock 80. Ele é sujo e pesado nos arranjos, como eram aqueles tempos de incertezas, com inflação no pico e os salários arrochados e os empregos sendo perdidos. As letras várias de cunho social e denúncia. Para como uma homenagem a esta obra, destaco Policia: http://migre.me/fzKjm .

Mas a Nova República, vai mostrar a sua cara. Em 1986, Zé Sarney convida a todos os Brasileiros e Brasileiras, a serem seu fiscal. Vem o primeiro plano econômico de vários desta era, o Cruzado I. Seu primeiro efeito, congelar preços, para conter a inflação e pasmem, também congela salários. E não é que muita gente, chegava no supermercado se dizendo fiscal do Homem que mandava em Maranhão e naquele momento no Brasil?. A Esquerda, principalmente a CUT e o PT, denunciaram o Plano como um engodo, um golpe de populismo e de encher as burras de banqueiros. Até greve geral se chamou quando o Cruzado I começou a fazer água  Em Limeira, tínhamos acabado de ganhar o Sindicato dos Metalúrgicos, organizamos a Greve e paramos a cidade pela primeira vez na História.

Um ano depois da febre do Congelamento de preços, com tudo voltando ao normal, os Titãs lançam seu quarto disco: Jesus não tem dentes no País dos Banguelas. Titulo forte e engraçado. Mas um disco coletivo, em que Arnaldo Antunes é o destaque. Ele canta três faixas do LP, mas é Comida quem vai tocar mais nas rádios. Sempre gostei do Arnaldo, o achava o diferencial da Banda, seja nas letras que escrevia, seja na forma de interpretar uma canção, todo Punk. Comida é uma canção de Protesto, aquela crise econômica gerada pelo Plano Cruzado, um ritmo próximo da New Wave, com batidas eletrônicas e uma tonalidade Funk Americano. Muita gente regravou, gosto de Marisa Monte, em seu primeiro disco e esta versão que disponibilizo para vocês: http://migre.me/fzKz7 .


Comida

Titãs

Bebida é água!
Comida é pasto!
Você tem sede de que?
Você tem fome de que?...
A gente não quer só comida
A gente quer comida
Diversão e arte
A gente não quer só comida
A gente quer saída
Para qualquer parte...
A gente não quer só comida
A gente quer bebida
Diversão, balé
A gente não quer só comida
A gente quer a vida
Como a vida quer...
Bebida é água!
Comida é pasto!
Você tem sede de que?
Você tem fome de que?...
A gente não quer só comer
A gente quer comer
E quer fazer amor
A gente não quer só comer
A gente quer prazer
Prá aliviar a dor...
A gente não quer
Só dinheiro
A gente quer dinheiro
E felicidade
A gente não quer
Só dinheiro
A gente quer inteiro
E não pela metade...
Bebida é água!
Comida é pasto!
Você tem sede de que?
Você tem fome de que?...
A gente não quer só comida
A gente quer comida
Diversão e arte
A gente não quer só comida
A gente quer saída
Para qualquer parte...
A gente não quer só comida
A gente quer bebida
Diversão, balé
A gente não quer só comida
A gente quer a vida
Como a vida quer...
A gente não quer só comer
A gente quer comer
E quer fazer amor
A gente não quer só comer
A gente quer prazer
Prá aliviar a dor...
A gente não quer
Só dinheiro
A gente quer dinheiro
E felicidade
A gente não quer
Só dinheiro
A gente quer inteiro
E não pela metade...
Diversão e arte
Para qualquer parte
Diversão, balé
Como a vida quer
Desejo, necessidade, vontade
Necessidade, desejo, eh!
Necessidade, vontade, eh!
Necessidade...


sábado, 20 de julho de 2013

BURGUESIA

Fiz a leitura do Best Seller, a História da Riqueza do Homem, umas dez vezes, mais ou menos. Um livro, incorporado a disciplina de História e Sociologia, em varias faculdades. Leo Hubberman seu autor, escreve de forma didática, dividindo a obra em capítulos, que perfeitamente podem se transformar em pequenas cenas de um vídeo para sala de aula (fica a sugestão). Marxista o autor, trabalha a formação da sociedade a partir da economia. O surgimento da Sociedade Feudal, com seus senhores e servos, passando pela constituição dos Burgos (cidades), com seu comércio de trocas de mercadoria até chegar nos bancos e o dinheiro. Dai Léo Hubberman, decreta o surgimento do Capitalismo e uma classe social, a Burguesia.

Em 1989, assessora o Sindicato dos Metalúrgicos em Limeira, já tinha noção, através de cursos de formação, leituras inclusive da História da Riqueza, bem como das lutas de enfrentamento de classe, o que vinha a ser Burguesia. Tinha nítido que se tratava de uma classe, que se consolidou como hegemônica, a partir da Revolução Francesa. Proprietária dos meios de produção, a ela interessa a acumulação de bens através do lucro, extraído é claro da força de trabalho. Burgueses e Trabalhadores, são antagônicos em interesses em uma sociedade Capitalista, exatamente porque a primeira explora o trabalho da segunda. E assim vivem em conflito constante. O poema Operário em Construção de Vinicius de Moraes, traduz esta luta de classes. Clique aqui e descubra: http://migre.me/fyizL .

Foi neste ano, em meu aniversário, que ganhei uma fita cassete, da mulher da minha vida Nadir de Souza Gonçalves, minha paquera na época, Burguesia de Cazuza o disco. Ela sabia que eu curtia, o poeta carioca. Sabia também que tinha lido sobre o ultimo disco da vida de Cazuza. Já em cadeira de rodas em função do avanço da AIDS, Cazuza lança um disco duplo, gravado pela Som Livre. Um disco conceitual, onde o cantor compositor expõem sua visão do Amor, da Amizade e da Política. O primeiro disco e todo Rock In Rool e traz canções da geração Rock BR 80, entre eles George Israel, Lobão e Frejat, bem como a titia Rita Lee. Já o disco 2, todo ele com ritmos da MPB, onde podemos destacar Cobaia de Deus, dele e Angela Rô Rô.

Burguesia esta no disco 1, escrito em parceria com George Israel do Kid Abelha e o amigo Ezequiel Neves. Uma letra acida, real, digo até agressiva. Expõem de forma lúcida, os interesses de uma classe social, que no poder tudo faz para acumular. O refrão “A Burguesia Fede, a Burguesia quer ficar Rica, enquanto houver Burguesia, não haverá Poesia”, traduz a reflexão de Léo Hubbermam em sua obra, e a concepção Marxista. Cazuza admite vir desta classe, mas confessa detesta-la e não seguir seu preceito de explorar os pobres. Críticos diziam ser a doença e a necessidade de Marketing, o motivo da destilação de ódio do poeta, com sua  própria classe. Nunca concordei. Cazuza sempre foi um poeta de refletir sobre seu tempo e sua própria História.

Gosto de Burguesia e não da Burguesia. Aqui a canção: http://migre.me/fyjpJ .


Burguesia

Cazuza

A burguesia fede
A burguesia quer ficar rica
Enquanto houver burguesia
Não vai haver poesia
A burguesia não tem charme nem é discreta
Com suas perucas de cabelos de boneca
A burguesia quer ser sócia do Country
A burguesia quer ir a New York fazer compras
Pobre de mim que vim do seio da burguesia
Sou rico mas não sou mesquinho
Eu também cheiro mal
Eu também cheiro mal
A burguesia tá acabando com a Barra
Afunda barcos cheios de crianças
E dormem tranqüilos
E dormem tranqüilos
Os guardanapos estão sempre limpos
As empregadas, uniformizadas
São caboclos querendo ser ingleses
São caboclos querendo ser ingleses
A burguesia fede
A burguesia quer ficar rica
Enquanto houver burguesia
Não vai haver poesia
A burguesia não repara na dor
Da vendedora de chicletes
A burguesia só olha pra si
A burguesia só olha pra si
A burguesia é a direita, é a guerra
A burguesia fede
A burguesia quer ficar rica
Enquanto houver burguesia
Não vai haver poesia
As pessoas vão ver que estão sendo roubadas
Vai haver uma revolução
Ao contrário da de 64
O Brasil é medroso
Vamos pegar o dinheiro roubado da burguesia
Vamos pra rua
Vamos pra rua
Vamos pra rua
Vamos pra rua
Pra rua, pra rua
Vamos acabar com a burguesia
Vamos dinamitar a burguesia
Vamos pôr a burguesia na cadeia
Numa fazenda de trabalhos forçados
Eu sou burguês, mas eu sou artista
Estou do lado do povo, do povo
A burguesia fede - fede, fede, fede
A burguesia quer ficar rica
Enquanto houver burguesia
Não vai haver poesia
Porcos num chiqueiro
São mais dignos que um burguês
Mas também existe o bom burguês
Que vive do seu trabalho honestamente
Mas este quer construir um país
E não abandoná-lo com uma pasta de dólares
O bom burguês é como o operário
É o médico que cobra menos pra quem não tem
E se interessa por seu povo
Em seres humanos vivendo como bichos
Tentando te enforcar na janela do carro
No sinal, no sinal
No sinal, no sinal
A burguesia fede
A burguesia quer ficar rica
Enquanto houver burguesia
Não vai haver poesia


terça-feira, 16 de julho de 2013

FAZ PARTE DO MEU SHOW

Cazuza e Renato Russo, são dois poetas da Música Brasileira, cuja trajetória artística e de vida, são muito semelhantes. Ambos se consideravam filhos da Revolução de 64, e rejeitavam esta condição, de alienados políticos e presos em sua infância e adolescência aquele mundo de censuras e repressão. Os dois foram testemunhas daqueles tempos de liberdades restritas. Cazuza filho de um casal de classe média alta, cujo pai João Araújo, alto executivo, da Gravadora Som Livre, do grupo Globo, portanto em contato direto com a politica de conluio das empresas Marinho com os Militares. Russo, de classe média baixa, filho de um funcionário público de uma Brasília, fervescente de burocracia da repressão. Os dois tinham influencias musicais muito próximas. Cazuza ouvia muito Bossa Nova, Ângela Maria, Dalva de Oliveira. Mas gostava de Rock. Russo e Agenor, eram poetas do Amor, mas como toda a sua geração, indignados com a falta de liberdade.

Agenor de Miranda Araújo Neto, teve tudo o que um garoto daqueles tempos duros, gostaria de ter. Não seria leviano de minha parte dizer que era um filhinho de papai (ao contrario de Renato Russo). Filho único, bem protegido pela mãe, que escondia suas artes do pai. Mas Cazuza, nasceu transgressor, sexo, drogas e Rock In Rool, eram sua tônica.  Barbarizava as noites cariocas e lá conhecia pessoas e elaborava suas poesias que virariam música. Podemos dividir a vida e a carreira de Cazuza, dos tempos do Barão Vermelho, onde o Rock Blues da Banda se constatava com a vida desregrada de seu vocalista. Depois da fase do Barão, com a descoberta da AIDS, e sua necessidade de continuar a busca da Liberdade.

Foi este amor pela Liberdade, que o fez enfrentar a doença, em um tempo, que ao descobri-la era a certeza da morte. Hoje pode-se prolongar muito á vida e morrer inclusive de velhice e não de AIDS. Este enfrentamento foi público. Os Anos 80, mostraram com o HIV, todo o terror e o medo. Não era só a doença que incomodava ou trazia maiores dores. O preconceito e a exclusão eram estas sim fatal para o soropositivo. Não sei se foi Cazuza, que quebrou este paradigma. Mas sei que ele foi o primeiro ídolo nacional, a revelar a doença. Não pedia piedade para ele, pelo contrario, fez do tempo que lhe restava, para denunciar a segregação, cobrar das autoridades politicas públicas e se voltou para falar mais do Amor e das causas sociais e politicas.

Em 1987, ano da descoberta da AIDS, Cazuza, grava um de seus maiores discos. Ideologia vai ser lançado em 1988 é uma obra, onde o cantor compositor vai detalhar suas angustias, sua concepção de vida. Vai falar sobre politica em Brasil, de sua geração sem perspectivas na Faixa Titulo e do Amor. Faz parte do Meu Show, era uma das canções de meu repertório pessoal, ao lembrar do Amor da vida. Minha esposa Nadir, na época tinha descoberto esta paixão. Cazuza, a fez em parceria com o músico Renato Ladeira. Uma Bossa Nova, acho que em homenagem a João Gilberto uma de suas influências. O compositor á apresentou pela primeira vez, em um especial da Globo, já neste momento em uma cadeira de rodas. Veja aqui uma das melhores canções românticas de todos os tempos: http://migre.me/fvgrS .

Faz Parte Do Meu Show
Te pego na escola e encho a tua bola com todo o meu amor
Te levo pra festa e testo o teu sexo com ar de professor
Faço promessas malucas tão curtas quanto um sonho bom
Se eu te escondo a verdade, baby, é pra te proteger da solidão
Faz parte do meu show
Faz parte do meu show, meu amor
Confundo as tuas coxas com as de outras moças
Te mostro toda a dor
Te faço um filho
Te dou outra vida pra te mostrar quem sou
Vago na lua deserta das pedras do Arpoador
Digo 'alô' ao inimigo
Encontro um abrigo no peito do meu traidor
Faz parte do meu show
Faz parte do meu show, meu amor
Invento desculpas, provoco uma briga, digo que não estou
Vivo num 'clip' sem nexo
Um pierrot retrocesso
meio bossa nova e 'rock'n roll'
Faz parte do meu show
Faz parte do meu show, meu amor

Meu amor, meu amor, meu amor...

domingo, 14 de julho de 2013

BRASIL

Em 1988, esta a todo vapor na militância Sindical e Partidária. Trabalhava no Sindicato dos Metalúrgicos de Limeira e era filiado ao Partido dos Trabalhadores. Tempos de intensas mobilizações e lutas populares e sindicais.  Tempos também de redemocratização, vivíamos três anos sem ditadura militar, mas os resquícios dela eram muito fortes. Forte também era o desmoronamento, do chamado Governo da Nova República. A aliança conservadora, entre PMDB e lideranças do Regime dos Generais, consolidada na Eleição indireta de Tancredo Neves e José Sarney, contrariando o desejo do País, que vinha a ser as eleições diretas, trazia o sentimento de derrota e frustração no povo Brasileiro.

Governando, através de pacotes econômicos, que travavam o consumo e a produção interna, Sarney, demonstrava sua incapacidade de combater uma inflação gigante e uma divida externa galopante, que geravam, a cada anuncio “de controle”, recessão e arrocho de salários. Mesmo com uma Constituição, Democrática e de garantias de direitos, contradições vinham junto com a nova carta. Entre elas os cinco anos para o Presidente José Sarney, medida envolta a denuncias de compra de votos. A corrupção, discurso dos Militares para promoverem o golpe em 1964, estava de volta ao debate nacional. Foi um período, em que tivemos greves e manifestações em centenas, onde a bandeira da ética na política em conjunto com reivindicações trabalhistas e contra o alto custo de vida, eram as primeiras da lista.

Foi aí que na Rede Globo, estreia em seu horário nobre, um dos maiores sucessos dela e do autor de novelas Gilberto Braga. Vale Tudo, vai ficar no ar por quase um ano, termina próximo as eleições presidenciais de 1989. A História de Raquel (Regina Duarte), com seus princípios de honestidade e austeridade, e sua filha mal caráter Maria de Fátima (Glória Pires), golpista até o pescoço, vai prender da dona de casa, passando pelo operário, empresário e até os políticos na telinha. Um enredo, onde a corrupção não é pano de fundo, ela se concretiza em personagens que entraram para a História como Odete Roitmam (Beatriz Segal) (Quem a matou? Lembram-se?) ou do empresário sujo e desonesto Marco Aurélio (Reginaldo Faria, lembram-se da Banana que ele nos manda no capitulo Final?).

Pois bem, Vale tudo, pode ser perfeitamente repassada nos dias atuais, que será hiper atual. A corrupção hoje é institucionalizada e ligada fortemente ao crime organizado. A questão de ser honesto ou não ainda esta no imaginário dos Brasileiros. Ainda podemos identificar, aqueles que defendem o Rouba mas faz, um pequeno delito não faz mal a ninguém e a concepção de que todo político é corrupto. 

Pautada por uma trilha sonora de peso, principalmente a Nacional, Vale Tudo, tinha Brasil de Cazuza a canção abertura, na voz de Gal Costa. Cazuza mostrava ao País que ser Honesto não é pecado, ao anunciar que tinha AIDS. Brasil, faz parte desta fase criativa e ética, de um dos maiores compositores do País, que conseguia em uma linguagem poética e ao mesmo tempo acida, desnudar a sujeira, o lixo de uma elite podre e fedida, como mais tarde o mesmo Cazuza vai escrever em Burguesia.

Brasil, vai ter uma versão bacana do Kid Abelha em seu disco MTV Acústico. Mas fiquem com o original, clicando aqui: http://migre.me/ft1hV .
Brasil
Não me convidaram
Pra essa festa pobre
Que os homens armaram pra me convencer
A pagar sem ver
Toda essa droga
Que já vem malhada antes de eu nascer
Não me ofereceram
Nem um cigarro
Fiquei na porta estacionando os carros
Não me elegeram
Chefe de nada
O meu cartão de crédito é uma navalha
Brasil
Mostra tua cara
Quero ver quem paga
Pra gente ficar assim
Brasil
Qual é o teu negócio?
O nome do teu sócio?
Confia em mim
Não me convidaram
Pra essa festa pobre
Que os homens armaram pra me convencer
A pagar sem ver
Toda essa droga
Que já vem malhada antes de eu nascer
Não me sortearam
A garota do Fantástico
Não me subornaram
Será que é o meu fim?
Ver TV a cores
Na taba de um índio
Programada pra só dizer "sim, sim"
Brasil
Mostra a tua cara
Quero ver quem paga
Pra gente ficar assim
Brasil
Qual é o teu negócio?
O nome do teu sócio?
Confia em mim
Grande pátria desimportante
Em nenhum instante
Eu vou te trair
(Não vou te trair)




sexta-feira, 12 de julho de 2013

PÉ NO CAMINHO

Sempre fui fissurado em Televisão. Minha Geração é da Telinha. Ainda preto e Branco, curtíamos os Festivais da Record, a Jovem Guarda de Roberto, as novelas da Globo, os desenhos de Hanna e Barbera e claro os populares programas de auditório. A maioria deles ao vivo. Eles eram 90% música Brasileira, aquela comercial, de tocar massivamente nas rádios, de vender discos de baciada. Eram estes programas que popularizavam estes artistas, boa parte da chamada musica Brega e Romântica, o chamado sucesso fácil.

A Buzina do Chacrinha, mais tarde a discoteca do Velho Guerreiro, era sem dúvida a grande novidade estética daquele inicio dos anos 70. Saí a apresentação cerimoniosa, com trajes de gala, para o escracho, a zoeira, a brincadeira de fazer rir. Abelardo Barbosa era um visionário como disse Caetano Veloso em seu Livro Verdades Tropical. Não tinha pudor de criar chavões como olha o Abacaxi, isto é Bacalhau, roda, roda, cinegrafista, e muito menos de se caracterizar, as vezes de Baiana, de garoto, e a tradicional, cartola e fraque de palhaço.

Mas o programa de Chacrinha, não era revolucionário apenas na Contra Cultura, no desafio da moral estabelecida, ele lançava talentos e o mistura a medalhões da MPB. O próprio Caetano, esteve no programa várias. Bem foi em uma destas edições da Buzina (que também era um programa esculachado de Calouros), que conheci Daniel Brasileiro, na época conhecido apenas por Daniel. A Música intitulada Pé no Caminho.

Era os tempos duros da Ditadura Militar. Mas eram também, os tempos do Movimento Hippie e de comunidades alternativas. Tempos que a Juventude se rebelava contra o Status Quo dos adultos e dos políticos. A Música era um templo para estas Manifestações. Me liguei em Pé no Caminho. Tinha em 1975, 11 anos, estava na pré adolescência, sabia de cor e salteado a canção. Uma balada destas muito próximas, do Blues Gospel, Pé no Caminho é uma versão abrasileirada da parábola do filho pródigo. Hoje tocaria perfeitamente no meio religioso.

A canção foi lançada um ano antes, em uma das coletâneas da poderosa (na época), gravadora Pholigram ou Phillips. A Magior da indústria fonográfica, tinha um elenco de excelência da MPB, Caetano, Chico, Gil, João Gilberto, Gal,   que conviviam com artistas populares, os recordistas em vendas, entre eles Odair José e Evaldo Braga. O Alagoano Daniel Brasileiro (nome artístico) ou José Barbosa Filho, era um dos “Bregas”, contratados pela Phillips. Após o estouro da canção na coletânea, Daniel gravou um compacto simples, onde Pé no Caminho, fez História.

Parece que no caso do Cantor compositor, a vida imitou a arte. Na letra de Pé no Caminho, a narrador se coloca na estrada e no Mundo, deixando tudo para trás. Infelizmente Daniel Brasileiro, optou nos últimos tempos de vida, viver na rua. Como morador das Ruas e Avenidas de São Paulo, o artista, veio a falecer no ano passado. Poucos sabiam que fim tinha levado, este cantor, que teve canções suas gravadas por Almir Guinetto, Wando e bandas de Forró. Foi dificílimo, encontrar até na Internet, a trajetória deste Brilhante Brasileiro.

Até o vídeo tive dificuldades de localiza-lo. Mas click aqui é muito bom: http://migre.me/frBbx .

PÈ NO CAMINHO
DANIEL BRASILEIRO

Qualquer dia desses boto o pé no Caminho
Na beira da Estrada faço o meu ninho
Chinelo no pé e mochila no ombro
To um passo da queda
E dois para o tombo
E num passo mais fundo
Mais longo na estrada
Me a risco na vida
Sem medo de nada
Minha pobre família
Meu tudo e meu nada
Me atiro no mundo
Minha sorte jogada
Meu pobre pai
Meu grande amigo
Eu preciso lhe falar
Meu grande pai
Meu pobre amigo

Você tem que me ajudar

segunda-feira, 8 de julho de 2013

ALAGADOS

Recentemente assisti ao longa metragem, Somos Tão Jovens, narrava a partir da vida de Renato Russo, da Legião Urbana, a ascensão das chamadas Bandas de Brasilia ou do intitulado Rock Brasiliense. Muitas bandas nasceram da Capital do País, principalmente do meio ao fim da ditadura Militar. O Rock como base para atitude, ritmo e esperança de sucesso, foi a escolha da maioria daqueles grupos.

Daí surgiram do Punk Rock, Aborto Elétrico, Plebe Rude e mais Tarde o Legião. Do Pop Rock, o Capital Inicial foi o mais emblemático da turma toda. Mas quem na verdade vai alçar voo, não se formou no lago Paranoá, e nem optou pelo Punk, Pop ou Rock Clássico. Os Paralamas do Sucesso, se criaram no Rio de Janeiro. Lá os Brasilienses Herbet Viana e Bi Ribeiro, juntaram-se ao baterista João Barone, entre os anos de 1970 e 1980.

O Ska foi o ritmo escolhido pelos caras, que inicialmente tocavam Rock e Reggae. O ultimo sempre foi a paixão dos Paralamas. A banda tinha uma cozinha básica, formada pelo baixo do Bi, a Guitarra do Herbet e a bataria do Barone. Mas o Ska vai entrar definitivamente na vida da Banda, a partir do terceiro disco, Selvagem de 1986, o qual considero um dos melhores do Rock BR, e o melhor dos caras. O ritmo vem da Jamaica, e é uma mistura de Calipso com Jazz e Blues. Ska é o precursor do Reggae. A partir daí, os Paralamas do Sucesso, incorporam em seus arranjos, metais e sopros, intensificando os ritmos latinos.

A apresentação no Rock In Rio em 1985, foi a consolidação da banda no cenário Nacional. Embora já conhecida, e frequentadora assídua, dos Shows do Circo Voador e com alguns sucessos nas rádios como óculos e Meu Erro, ainda não faziam História. O Rock In Rio, vai mostrar a versatilidade musical deste Power trio, que vai influenciar muitas bandas de garagem, tão em moda nos anos 70, que e esquecida nos 80. Quando vi a apresentação dos caras, abrindo o dia do Festival, que teria nada menos que Rod Stwart e Ozzy Osbourne, segurando ás 17h com sol ainda, 180mil pessoas, não tive mais dúvidas, os Paralamas iam arrebentar no cenário de nossa música.

Selvagem, vai marcar a carreira dos Paralamas do Sucesso, não só pelos Ritmos Caribenhos e Latinos, mas pelas letras ao mesmo tempo bem humoradas, entre elas Melo do Marinheiro, como as engajadas A Novidade parceria do Herbet com Gilberto Gil e Alagados.

A letra de Herbet com a música dos três Paralamas, faz um paralelo, da grande favela de Trenchtown na Jamaica com o complexo de Favelas da Maré no Rio de Janeiro e Alagados em Salvador. O que há de comum, entre estas duas comunidades: Ambas ficam localizadas nas Baias oceânicas, fincadas em verdadeiros Mangues e cobertas de miséria e pobreza. Os Paralamas do Sucesso já falavam, da exclusão social e do abandono das populações pobres á sorte do crime e do descaso político, antes das Policias Pacificadoras do Rio.

Alagados tocou enormemente nas rádios e tem um clipe original muito significativo. Veja e curta aqui: http://migre.me/fnbRi .

Alagados

Compositor: Hebert Viana / Bi Ribeiro / João Barrone
Todo dia o sol da manhã
Vem e lhes desafia
Traz do sonho pro mundo
Quem já não o queria
Palafitas, trapiches, farrapos
Filhos da mesma agonia
E a cidade que tem braços abertos
Num cartão postal
Com os punhos fechados da vida real
Lhes nega oportunidades
Mostra a face dura do mal

Alagados, Trenchtown, Favela da Maré
A esperança não vem do mar
Nem das antenas de TV
A arte de viver da fé
Só não se sabe fé em quê
A arte de viver da fé
Só não se sabe fé em quê


Todo dia o sol da manhã
Vem e lhes desafia
Traz do sonho pro mundo
Quem já não o queria
Palafitas, trapiches, farrapos
Filhos da mesma agonia
E a cidade que tem braços abertos
Num cartão postal
Com os punhos fechados da vida real
Lhes nega oportunidades
Mostra a face dura do mal


Alagados, Trenchtown, Favela da Maré
A esperança não vem do mar
Nem das antenas de TV
A arte de viver da fé
Só não se sabe fé em quê
A arte de viver da fé
Só não se sabe fé em quê


Alagados, Trenchtown, Favela da Maré
A esperança não vem do mar
Nem das antenas de TV
A arte de viver da fé
Só não se sabe fé em quê
A arte de viver da fé
Só não se sabe fé em quê


Alagados, Trenchtown, Favela da Maré
A esperança não vem do mar
Nem das antenas de TV
A arte de viver da fé
Só não se sabe fé em quê
A arte de viver da fé


Alagados, Trenchtown, Favela da Maré
A esperança não vem do mar
Nem das antenas de TV
A arte de viver da fé
Só não se sabe fé em quê
A arte de viver da fé
Mas a arte de viver da fé
Só não se sabe fé em quê
A arte de viver da fé
Só não se sabe fé em quê
A arte de viver da fé







sexta-feira, 5 de julho de 2013

FOI DEUS QUEM FEZ VOCÊ

No Livro “A Era dos Festivais”, do produtor musical, critico e escritor Zuza Homem de Mello, o autor relata os porquês que os Festivais de Música, em especial os organizados e produzidos pela Televisão tiveram a importância Histórica, reconhecida até os dias atuais. Festivais ou concursos de música sempre existiram antes do que Zuza vai intitular como o inicio da Era, o ano de 1964. O Rádio e em particular a Radio Nacional, expert em música, organizava os concursos de marchinhas e músicas de carnaval. O formato com canções inéditas e apresentadas ao vivo com auditório, lançaram artistas e canções das quais cantarolamos até hoje. Com o advento da Bossa Nova, teatros que antes eram palco de música erudita ou JAZZ, começa a receber este “movimento” estilo, que ao se apresentar trazia novidades, canções nunca antes executadas. Os dois formatos as torcidas se dividiam, entre uma canção e outra. A do Rádio tinha premiação, inclusive em dinheiro, com direito a disco e a tocar incessantemente nas rádios.

Mas o que vai mesmo levar o estilo Festivais para a TV no inicio dos anos 60 do século XX, dois fatores determinantes. Primeiro a necessidade de impulsionar a audiência nas Tvs, tão em baixa ainda, com produções baseadas em literatura estrangeira ou mesmo cultura vindo de fora. A TV Record por exemplo tinha como uma de suas principais produções a realização de shows com grandes nomes Internacionais. Ocorre que esta forma de programação custava caro e já não atraia tanto as classes A e B, que tinham descoberto a Bossa Nova. Segundo motivo, o radio ainda era o que atraia todas as classes e em especial a C. Foi então que Record e Excelsior, sendo a segunda a pioneira, resolvem ter uma linha de programas Musicais tentando abranger todos os estilos da época. Os Festivais de Música Brasileira e mais tarde Internacional, será uma das principais atrações.

Segundo Zuza, o formato acabado de Festivais, foi idealizado mesmo por Paulo Machado de Carvalho dono da TV Record São Paulo e sócio da TV Rio. Para Paulinho Machado, os Festivais deviam ter a cara e o jeitão das lutas livres, grande ibope da TV Brasileira. Era um teatro, dizia Dr. Paulo, tudo era encenação, havia o bandido e havia o mocinho. Tinha torcida para os dois. Foi com este espirito de competição que a era dos Festivais, que segundo Zuza Homem de Mello, terminou em 1972 com o VII FIC da Globo. Pois o tempo em que os Festivais incidiam diretamente nos destinos da MPB, já não ocorria mais. Porem eles continuaram como produtivo televisivo até 1985. Continuaram a fazer sucesso, porem não mais ditando tendências, mas revelando nomes importantes para nossa música.

O Festival MPB 80 da Rede Globo, foi o primeiro a recuperar um prestigio perdido desde 1982. No mesmo formato que os anteriores, o Festival teve uma parceria com a indústria do disco, sendo que os artistas concorrentes eram ou foram contratados para concorrer ao concurso, tendo canções gravadas assim que fossem apresentadas. Foi Deus que fez Você, uma canção Romântica, uma valsa xote, feita Luis Ramalho irmão de Zé Ramalho, interpretada por Amelinha esposa do segundo na época, foi a mais vendida entre todas as concorrentes, mas não levou o Festival, ficou em segundo Lugar. Oswaldo Montenegro, com Agonia de Mongol, foi a campeã veja e ouça Agonia aqui: http://migre.me/fkF27 .

Cantei muito esta canção nas rodas de viola, uma poesia, um pouco denegrida por alguns críticos que a achavam bobinha e brega. Eu adoro: http://migre.me/fkF7A .

Foi Deus Quem Fez Você
Foi Deus que fez o céu,
O rancho das estrelas.
Fez também o seresteiro
Para conversar com elas.
Fez a lua que prateia
Minha estrada de sorrisos
E a serpente que expulsou
Mais de um milhão do paraíso.
Foi Deus quem fez você;
Foi Deus que fez o amor;
Fez nascer a eternidade
Num momento de carinho.
Fez até o anonimato
Dos afetos escondidos
E a saudade dos amores
Que já foram destruídos.
Foi Deus!
Foi Deus que fez o vento
Que sopra os teus cabelos;
Foi Deus quem fez o orvalho
Que molha o teu olhar. Teu olhar...
Foi Deus que fez as noites
E o violão plangente;
Foi Deus que fez a gente
Somente para amar. Só para amar...