sábado, 21 de setembro de 2013

ROMARIA

A ultima vez que estive em Aparecida do Norte, foi em 1984, nunca mais voltei. Fui em uma excursão da Pastoral da Juventude de meu bairro. Confesso que na época, resisti a ir. Vinha despertando para a politica e o senso critico esta mais que aguçado e não é raro exagerar nas conclusões. Um pouco de sectarismo e esquerdismo a flor da pele, odiei a viagem. Fiz a critica pela indústria do consumismo religioso. A fé sendo explorada, para fonte de lucros, de diversas formas. Não prestei á atenção na religiosidade expressa pelo pobres em suas manifestações de credo a mãe preta.

Com o passar dos anos aprimorei a critica, soube condensa-la e dialeticamente concluir com maior justiça. Aparecida e seu santuário, são exatamente a segunda casa, dos sem casa, sem terra, operários, donas de casas, indígenas, quilombolas. Casa do Sertanejo, do Ribeirinho e de todos os excluídos deste País. A identificação dos Pobres com a mãe do Brasil, é algo comovente. Naquele ano entrei na Basílica e lá pude observar nos rostos daquelas pessoas que ali, levavam oferendas (sim oferendas), a Nossa Senhora, só queriam suas bênçãos. Ou a subida das escadarias da Igreja, do Morro do Cruzeiro ou mesmo a trajetória a pé como fazem os Romeiros de Limeira, com o intuito de pagar promessas, sem dúvida nos enche de lágrimas.

Nossa Senhora Aparecida é junto com a Nossa Senhora Cubana, as únicas Negras, não só das Américas, como do mundo. A cor simbolize o que é o continente americano, uma mistura de raças e culturas. Uma mistura que constroem as riquezas, nem sempre distribuídas ao povo.  A Santa Negra é o conforto de um povo que sofre a mais de 500 anos a exploração do Capital. Um povo que busca na mística da Negra, encontrada por um pescador no Rio Paraíba, para enfrentar as mazelas do mundo.

Renato Teixeira, nasceu em Santos, mas desde cedo teve contato com o universo caipira, o que para ele foi o que mais o aproximou das coisas simples da vida e dos simples. Apareceu para Música em Festivais, onde Gal Costa em 1967 defendeu Dadá Maria e Roberto Carlos sua Romântica Madrasta em 1968, no Festival da Record. Mas foi Elis Regina a responsável em apresenta-lo definitivamente. Romaria, uma canção quase manifesto do Sertanejo da roça a procura da proteção de Nossa Senhora é lançada por ela, em 1977, no belo disco Elis. Renato vai gravar a canção um ano depois no quarto disco da carreira, intitulado Romaria.

Romaria é sempre o carro chefe de Renato, por onde vai tem que canta-la. Em 2004, assisti um espetáculo dele no Teatro Vitória em Limeira. A canção foi cantada pelo público inteirinha, formando um enorme coral de vozes. Minha adolescência aprendi a gostar de Romaria com minha mãe uma devota fervorosa da mãezinha preta. Clic e ouça Elis: http://migre.me/gajIq .


Romaria

Elis Regina

É de sonho e de pó
O destino de um só
Feito eu perdido
Em pensamentos
Sobre o meu cavalo
É de laço e de nó
De jibeira o jiló
Dessa vida
Cumprida a só
Sou caipira, pirapora
Nossa Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura e funda
O trem da minha vida (2x)
O meu pai foi peão
Minha mãe solidão
Meus irmãos
Perderam-se na vida
À custa de aventuras
Descasei, joguei
Investi, desisti
Se há sorte
Eu não sei, nunca vi
Sou caipira, Pirapora
Nossa Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura e funda
O trem da minha vida (2x)
Me disseram, porém
Que eu viesse aqui
Prá pedir de
Romaria e prece
Paz nos desaventos
Como eu não sei rezar
Só queria mostrar
Meu olhar, meu olhar
Meu olhar
Sou caipira, pirapora
Nossa Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura e funda
O trem da minha vida (2x)



sexta-feira, 20 de setembro de 2013

PRETA PRETINHA

A Tropicália foi um Movimento. O único movimento, planejado para o ser e o existir, quanto algo organizado e com capacidade de intervenção no mundo das artes e na sociedade. A Bossa Nova, modificou a forma de se fazer música e também comportamentos. Mas não tinha manifesto, não pensava o Brasil em sua totalidade sócio, econômico e politico. Oswald de Andrade iniciou uma confusão dialética nas consciências de Caetano e Gil. Estudaram e foram a luta. Negaram, aproveitaram os Beatles, Camões, poesia concreta e sintetizaram, em uma geleia geral Brasileira.

O Tropicalismo foi sem dúvida, o movimento mais completo da MPB. Foi um espaço de oferecer a critica estética, musical, cultural e porque não politica para o País. Soube recolher de tudo nas artes, misturar, triturar e fazer mesmo uma geleia, com gosto, de rock, baião, bossa nova e muito mais. Um movimento apartidário sim, mas com posição, libertador, contestador. A Pluralidade incomodava conservadores e claro os militares. A prisão de Caetano Veloso e Gilberto Gil em dezembro de 1968, parecia o fim do movimento. Para alguns críticos, isto significava o falecimento de uma concepção não só de fazer música, mas de repensar o mundo. Não foi.

Gal Costa chegou a dizer que no inicio do Exilio dos companheiros de Tropicália, em Londres esta em uma completa solidão. Mas logo, foi superada. O tropicalismo como tal foi criado, não resistiu, mas seu ideário sim. Além de Gal, da turma original, estavam na estrada, Mutantes, Tom Zé e Nara Leão, Torquato Neto firme nas letras e na poesia. Mas o exemplo da resistência e influência do Tropicalismo, foram os agregados: Jards Macalé, Walter Franco e Novos Baianos.

Quase todos da Bahia, Moraes, Paulinho Boca de Cantor, Galvão, Pepeu e Baby, turista em Salvador, conheceu a turma de Hipongas, se apaixonou pelo Guitarrista e largou o Rio e foi fazer História. Os cenários de música era os mais diversos para esta turma, que se juntou em 1969. Gravou um disco, de cara, que vendeu legal, como falaria com lentidão Moraes Moreira. Ferro na Boneca, foi o principio. A banda escolheu o nome, não para afrontar ou agredir suas referencias vindas da Tropicália, mas para prestar homenagem.

Mas foi João Gilberto, o muso do grupo. Aquele senhor que só aparecia em público de terno e gravata, um dia soube da existência dos Novos Baianos. Foi até a casa comunitária, onde viviam. Sem cerimonias, sem preconceitos, dignos de um Senhor da Revolução Musical, João encantou a Turma. Foi as dicas e a amizade do criador da Bossa Nova, que surgiu o melhor disco da Trupe: Acabou Chorare de 1972. Preta Pretinha, de Moraes com letra de Galvão, foi o grande sucesso do disco. Feita pensando em uma moça, que largou o namorado para ficar com Galvão e depois voltou para o primeiro, que a letra cheia de referencias da linguagem baiana a baladinha dançante empolgava minhas noites no meio das calçadas.

Preta Pretinha recebeu mais tarde uma versão carnavalesca, pelo próprio grupo. Mas curta o original aqui: http://zip.net/brkZrX .

Preta Pretinha
Laiá Larará Lararará Larará
Preta, Preta, Pretinha!
Preta, Preta, Pretinha!
Preta, Preta, pretinha!
Preta, Preta, Pretinha!
Enquanto eu corria
Assim eu ía
Lhe chamar!
Enquanto corria a barca
Lhe chamar!
Enquanto corria a barca
Lhe chamar!
Enquanto corria a barca...
Por minha cabeça não passava
Só! Somente Só!
Assim vou lhe chamar
Assim você vai ser
Só! Só! Somente Só!
Assim vou lhe chamar
Assim você vai ser
Só! Somente Só!
Assim vou lhe chamar
Assim você vai ser
Só! Só! Somente Só!
Assim vou lhe chamar
Assim você vai ser...
Eu ía lhe chamar!
Enquanto corria a barca
Eu ía lhe chamar!
Enquanto corria a barca
Lhe chamar!
Enquanto corria a barca
Eu ía lhe chamar!
Enquanto corria a barca
Eu ía lhe chamar!
Enquanto corria a barca
Lhe chamar!
Enquanto corria a barca...
Abre a porta e a janela
E vem ver o sol nascer...(6x)
Eu sou um pássaro
Que vivo avoando
Vivo avoando
Sem nunca mais parar
Ai Ai! Ai Ai! Saudade
Não venha me matar
Ai Ai! Ai Ai! Saudade
Não venha me matar
Ai Ai! Saudade
Não venha me matar
Ai Ai! Ai Ai! Saudade
Não venha me matar...
Lhe chamar!



domingo, 15 de setembro de 2013

LÉO E BIA

Os Anos 70 e em especial a Ditadura Militar e a contra cultura, sempre foram para mim, motivos de estudo. Meus textos, quase todos tem referencias sobre este período rico na História do Brasil e do Mundo. Meu interesse é em primeiro lugar o fato de ter vivido e presenciado grande parte desta época de ouro, de mudanças, de transformações politicas, sociais e culturais, um tempo de trevas sim, mas de muita luta. Segundo como Educador Popular e militante politico, tenho responsabilidade em socializar este conhecimento e esta vivência.

A mistura do espirito de Liberdade com o sentimento de mudar o mundo, contagiou uma geração inteira e influencia nos dias atuais as novas gerações. Pensar em romper com tabus comportamentais, sociais, culturais e políticos, em um planeta, onde se vivia uma Guerra Fria, onde a maioria dos Países da América Latina tinham governos Ditatoriais, onde temas como anti concepcionais, Homossexualismos, democracia e sexo livre, eram considerados proibidos e constantemente reprimidos.

Um tempo, em que a Juventude, descobriu as ruas para protestar contra as Guerras, por uma educação de qualidade, por liberdades individuais e por Direitos Humanos. Um tempo em que os filhos de uma Geração anterior a segunda Guerra, viu nas artes uma arma importante de libertação. Esta mesma geração saiu a campo contrariando inclusive doutrinas da igreja e a formação familiar. É no clima de Movimentos como o Hippie por exemplo, que a Juventude dava o seu recado, manifestado através da música, da dança, do Teatro e da Poesia.

Oswaldo Montenegro, é um artista que sempre esteve envolto com toda e qualquer forma de arte. Oswaldo viveu intensamente aqueles anos de 1970. Fez dos Hippies seu laboratório para criar sua obra. O teatro seu cenário, para fazer trilhas e textos que retratavam sua geração. Desde Brasília, local que viveu parte de sua vida, Oswaldo tem se relacionado com o mundo do tablado. Suas canções, lidas se pensando em teatro, soa sempre como um roteiro e bom texto por sinal.

Léo e Bia, é uma canção de Amor, de dois jovens da Geração da Flor e da Paz. Um Amor de encontros e desencontros, em um mundo conturbado, mas repleto de possibilidades de esperança. Primeiro veio a canção, no terceiro LP do compositor, o belo Poeta maldito...Moleque Vadio de 1979. Depois o Filme. Oswaldo disse que cinema não é sua praia, o fez para experimentar. A obra é de 2010, é ambientada em uma Brasília dos setenta. São os amores, conflitos e medos, um grupo de atores, amigos que enfrentam as agruras da ditadura. O cenário um palco de Teatro.

Oswaldo traduz neste filme e na canção, toda História de uma Geração que foi perseguida, mas que lutou para que hoje tivéssemos Liberdade. Léo e Bia é linda. Click e ouça: http://migre.me/g6iEo .

Léo e Bia
No centro de um planalto vazio
Como se fosse em qualquer lugar
Como se a vida fosse um perigo
Como se houvesse faca no ar
Como se fosse urgente e preciso
Como é preciso desabafar
Qualquer maneira de amar varia
E Léo e Bia souberam amar
Como se não fosse tão longe
Brasília de Belém do Pará
Como castelos nascem dos sonhos
Pra no real, achar seu lugar
Como se faz com todo cuidado
A pipa que precisa voar
Cuidar de amor exige mestria
E Léo e Bia souberam amar



sábado, 14 de setembro de 2013

INTUIÇÃO

Oswaldo Montenegro é daqueles artistas, que uns gostam, outros são indiferentes á sua obra. Nunca encontrei alguém que dissesse não gosto, ou ele é ruim. Á quem diga que suas canções são cansativas, enjoativas, sempre a mesma toada. Ora o Legião Urbana, tocava suas canções com três acordes, os Ramones idem, nem por isto deixaram de ser criativos e brilhantes. Me identifiquei com Oswaldo desde que o compositor apareceu na mídia. A primeira canção que ouvi, foi Bandolins, no Festival da Tupi.

Foi apatia no primeiro contato. Busquei informações sobre o cara, sua obra. Naquele tempo, dividia com meu grupo de Jovens da Igreja Católica, as preferências culturais. Oswaldo Montenegro foi uma delas. Seu estilo Trovador da Idade Média, com mistura de instrumentos, como o próprio Bandolim, a Flauta Transversal, com sua voz aguda e ao mesmo tempo serena me conquistou. As letras com uma linha típica dos anos 70, do lema Paz e Amor, sempre foram motivo para reflexão acompanhado de um bom vinho e uma companhia agradável.

Mas o primeiro, disco do cara, que pude ouvir inteiro, foi o Álbum, Oswaldo Montenegro de 1980. O adquiri um ano depois. Um disco delicioso, que não da para destacar, esta ou aquela música, como a melhor. Já de cara, ouvi uma dez vezes o LP inteiro. Na capa o próprio cantor com seu violão. Quando o disco saiu, Oswaldo ainda não tinha participado do Festival MPB Shell da Rede Globo. Quando venceu aquele certame com Agonia, a gravadora reeditou o disco com a canção entre as faixas e destaque na capa. Ouça e veja aqui Agonia do parceiro de Oswaldo, Mongol: http://migre.me/g5AQR .

O disco tem um desfile de canções que falam de Amor, Juventude, Brasília, dos Hippies. Musicas que denunciam a ditadura, em uma linguagem lírica, não tanto militante. Os arranjos são feitos pelo próprio Oswaldo, com o auxilio de sua mulher a época, a instrumentista Madalena Salles. Alias Madalena é citada em varias letras de Oswaldo Montenegro, entre elas Pra Longe de Paranoá. Músicos de primeira participam do disco, além é claro de parceiros e amigos, como Zé Alexandre, que dividiu com ele a interpretação de Bandolins e Mongol.

Mas apesar de gostar da obra toda, tem uma canção que me chama mais a atenção. Daquelas que gostaria de ter feito. Intuição pode ser encarada com daquelas músicas que você trabalha para motivar um grupo de trabalho ou estudo. Daquelas que você escuta quando precisa sacudir a poeira e dar volta por cima. O trecho “Canto uma canção que aguente esta paulada e a gente bate o pé no chão”, é significativo, deste olhar que a canção oferece. Esperança, tendo o canto como um elixir para esta busca constante. É sempre bom lembrar que Intuição, foi escrita ainda na Ditadura. Click e veja esta obra prima: http://migre.me/g5AXB .

Intuição
Canto uma canção bonita,
Falando da vida, em 'Ré maior'.
Canto uma canção daquela
De filosofia,
Do mundo bem melhor.
Canto uma canção que agüente
Essa paulada, e a gente
Bate o pé no chão.
Canto uma canção daquela
Pula da janela
Bate o pé no chão.
Sem o compromisso estreito
De falar perfeito,
Coerente ou não.
Sem o verso estilizado,
O verso emocionado
Bate o pé no chão...
Canto uma canção bonita
Falando da vida, em 'Ré maior'.
Canto uma canção daquelas
De filosofia,
E mundo bem melhor
Canta uma canção que agüente
Essa paulada, e a gente
Bate o pé no chão.
Canto uma canção daquela
Pula da janela
Bate o pé no chão.
Sem o compromisso estreito
De falar perfeito,
Coerente ou não.
Sem o verso estilizado,
O verso emocionado
Bate o pé no chão...
Canto o que não silencia
É onde principia a intuição
E nasce uma canção rimada
Da voz arrancada
Ao nosso coração
Como, sem licença, o sol
Rompe a barra da noite
Sem pedir perdão!
Hoje quem não cantaria
Grita a poesia
E bate o pé no chão!
E hoje quem não cantaria
Grita a poesia
E bate o pé no chão!
Sem o compromisso estreito
De falar perfeito,
Bate o pé no chão
Sem o verso estilizado,
O verso emocionado
Bate o pé no chão...
Canto uma canção bonita
Falando da vida, em 'Ré maior'.
Canto uma canção daquela
De filosofia,
Do mundo bem melhor.
Canto uma canção que agüente
Essa paulada, e a gente
Bate o pé no chão.
E hoje quem não cantaria
Grita a poesia.
Bate o pé no chão...



terça-feira, 10 de setembro de 2013

BANDOLINS

Nunca tinha assistido um Festival de Musica Popular Brasileira do começo ao fim. Os da Era dos Festivais, segundo Zuza Homem de Mello, em livro Homônimo, era muito criança, me lembro de relancem de um Jair cantando Disparada ou Elis o seu Arrastão. O Abertura da Globo em 1975, não assisti nada. Fui ter contato com aqueles tempos de ouro, em discos e mais tarde livros e revistas.

Mas dos Festivais que ocorreram após 1972, data final para o tempo da MPB nestes certames revolucionários, o que mais se aproximou dos primórdios, foi a da extinta TV Tupi, famoso canal 4 UHF. A Tupi, era do conglomerado das Emissoras Associadas, ligada a família de Assis Chateaubriand. Poderoso Chatô, como era conhecido por amigos e inimigos. Alias estes últimos é o que mais colecionou o General das Comunicações no Brasil, entre as décadas de 1940 a 1970.

Enfrentou o Estado Novo de Getúlio, fez depois acordo com o Ditador. Participou ativamente da construção da História da Televisão Brasileira. A Tupi foi a pioneira e este pioneirismo, desencadeou até a sua dissolução, no mesmo ano do Festival. Foi ela que lançou a primeira novela com texto nacional e com um roteiro da atualidade. Ela concentrou os maiores artistas da música, do teatro, do cinema e do Jornalismo. São famosas as produções como Flavio Cavalcanti, Almoço com as estrelas, novelas como Beto Rockfeler, Ídolo de Pano e outras.

Mas o enfrentamento a Ditadura Militar, no caso Globo/Time Life, deu inicio a sua derrocada, aliado a morte de Chatô e a dificuldade dos filhos em se entenderem para administrar a TV e o Império. Problemas constantes com a censura, incêndios criminosos, fuga de anunciantes e dividas, foram aos poucos decretando o fim de uma emissora que fez História. Eu não trocava a Tupi pela Globo.

O Festival de 1979, surgia como uma luz no fim do túnel, uma tentativa de ressuscitar a emissora. A época era propicia, Abertura política, era possível, fazer um Show de Música aliando Novos Talentos e velhos nomes de Festivais. Só para ficar em três exemplos: Jorge Bem Jor escreveu Dona Culpa Ficou Solteira e Caetano Veloso a defendeu. Gilberto Gil lançou Palco, interpretado por A Cor do Som. Clic e ouça Dona Culpa: http://migre.me/g1UpQ .
Entre os Novos, em um Festival vencido por Fagner com Quem me levará sou Eu, o carioca radicado na época em Brasília Oswaldo Montenegro. Autor de trilhas para teatro e cinema, Oswaldo embalou minha juventude. Bandolins ficou em terceiro lugar e inaugurou um estilo de música de resgate da tradição celta da idade média na obra de Montenegro. Bandolins, mostra pela primeira vez o uso do instrumento em um Festival da canção. A valsa teve a interpretação do autor e de Zé Alexandre, que já esteve em Limeira em nossos Festivais. Uma letra singela fala de dança e de amor. Clic e se delicie: http://migre.me/g1UwQ .

Bandolins
Como fosse um par que
Nessa valsa triste
Se desenvolvesse
Ao som dos bandolins
E como não,
E por que não dizer
Que o mundo respirava mais
Se ela apertava assim?
Seu colo como
Se não fosse um tempo
Em que já fosse impróprio
Se dançar assim
Ela teimou e enfrentou
O mundo
Se rodopiando ao som
Dos bandolins
Como fosse um lar
Seu corpo à valsa triste
Iluminava e à noite
Caminhava assim
E como um par
O vento e a madrugada
Iluminavam à fada
Do meu botequim
Valsando como valsa
Uma criança
Que entra na roda
A noite tá no fim
Ela valsando
Só na madrugada
Se julgando amada
Ao som dos bandolins...
(Repetir a letra 3x)



BANDOLINS

Nunca tinha assistido um Festival de Musica Popular Brasileira do começo ao fim. Os da Era dos Festivais, segundo Zuza Homem de Mello, em livro Homônimo, era muito criança, me lembro de relancem de um Jair cantando Disparada ou Elis o seu Arrastão. O Abertura da Globo em 1975, não assisti nada. Fui ter contato com aqueles tempos de ouro, em discos e mais tarde livros e revistas.

Mas dos Festivais que ocorreram após 1972, data final para o tempo da MPB nestes certames revolucionários, o que mais se aproximou dos primórdios, foi a da extinta TV Tupi, famoso canal 4 UHF. A Tupi, era do conglomerado das Emissoras Associadas, ligada a família de Assis Chateaubriand. Poderoso Chatô, como era conhecido por amigos e inimigos. Alias estes últimos é o que mais colecionou o General das Comunicações no Brasil, entre as décadas de 1940 a 1970.

Enfrentou o Estado Novo de Getúlio, fez depois acordo com o Ditador. Participou ativamente da construção da História da Televisão Brasileira. A Tupi foi a pioneira e este pioneirismo, desencadeou até a sua dissolução, no mesmo ano do Festival. Foi ela que lançou a primeira novela com texto nacional e com um roteiro da atualidade. Ela concentrou os maiores artistas da música, do teatro, do cinema e do Jornalismo. São famosas as produções como Flavio Cavalcanti, Almoço com as estrelas, novelas como Beto Rockfeler, Ídolo de Pano e outras.

Mas o enfrentamento a Ditadura Militar, no caso Globo/Time Life, deu inicio a sua derrocada, aliado a morte de Chatô e a dificuldade dos filhos em se entenderem para administrar a TV e o Império. Problemas constantes com a censura, incêndios criminosos, fuga de anunciantes e dividas, foram aos poucos decretando o fim de uma emissora que fez História. Eu não trocava a Tupi pela Globo.

O Festival de 1979, surgia como uma luz no fim do túnel, uma tentativa de ressuscitar a emissora. A época era propicia, Abertura política, era possível, fazer um Show de Música aliando Novos Talentos e velhos nomes de Festivais. Só para ficar em três exemplos: Jorge Bem Jor escreveu Dona Culpa Ficou Solteira e Caetano Veloso a defendeu. Gilberto Gil lançou Palco, interpretado por A Cor do Som. Clic e ouça Dona Culpa: http://migre.me/g1UpQ .
Entre os Novos, em um Festival vencido por Fagner com Quem me levará sou Eu, o carioca radicado na época em Brasília Oswaldo Montenegro. Autor de trilhas para teatro e cinema, Oswaldo embalou minha juventude. Bandolins ficou em terceiro lugar e inaugurou um estilo de música de resgate da tradição celta da idade média na obra de Montenegro. Bandolins, mostra pela primeira vez o uso do instrumento em um Festival da canção. A valsa teve a interpretação do autor e de Zé Alexandre, que já esteve em Limeira em nossos Festivais. Uma letra singela fala de dança e de amor. Clic e se delicie: http://migre.me/g1UwQ .

Bandolins
Como fosse um par que
Nessa valsa triste
Se desenvolvesse
Ao som dos bandolins
E como não,
E por que não dizer
Que o mundo respirava mais
Se ela apertava assim?
Seu colo como
Se não fosse um tempo
Em que já fosse impróprio
Se dançar assim
Ela teimou e enfrentou
O mundo
Se rodopiando ao som
Dos bandolins
Como fosse um lar
Seu corpo à valsa triste
Iluminava e à noite
Caminhava assim
E como um par
O vento e a madrugada
Iluminavam à fada
Do meu botequim
Valsando como valsa
Uma criança
Que entra na roda
A noite tá no fim
Ela valsando
Só na madrugada
Se julgando amada
Ao som dos bandolins...
(Repetir a letra 3x)


segunda-feira, 9 de setembro de 2013

GALOPE

Não assisti, o filme de qualidade Globo, De Pai para Filho, que foi mini serie da emissora e depois para telona. Não vi por dois motivos: preguiça de ver algo produzido pela globo, quando o tema é uma biografia. Segundo má vontade, com a globo, porque ele distorce Histórias, faz de acordo com seu editorial ideológico. Fez isto, com Olga, com Cazuza e tantos outros. Aí procuro evitar as produções globais, pelo menos no cinema. Nas telenovelas eles são show. Contraditório né, dialético não é fácil.

O fato também, é que Gonzagão e Gonzaguinha, representaram na vida, a negação e ao mesmo tempo a síntese dialética. O Rei do Baião fez escola. Introduziu no sudeste maravilha, o som do Nordeste, o Baião o xote, o forró. Seu som influenciou não só há muitos tocarem sanfona, mas mostraram ao mundo o Nordestino e sua sina, a seca, a fome e os Coronéis.

O filho fruto de um caso do Rei do Baião com uma cantora e dançarina de boates do Rio de Janeiro, também fez escola. O samba, o Baião e a Bossa Nova, misturada a uma linguagem que também denunciava as agruras do Capitalismo e em especial a Ditadura Militar. Mas no que eles divergiam. O primeiro era de Direita, via nos Coronéis os únicos capazes de cuidar dos Sertanejos, queria manter os pobres comendo, mas não libertos, O segundo, de esquerda, queria Revolução, destruir o sistema, queria Liberdade e Paz.

Gosto musicalmente dos dois e não tenho nenhum rancor do velho Lua. Penso que era um equivocado, um humanista. Alguém que não via saída para os pobres, e então melhor o remendo. Gonzaga Jr., um de meus ídolos, iniciou disputando Festivais e sempre com canções de Protesto. Foi perseguido pela Ditadura e sua Censura as Artes. O Dops no calcanhar, tendo que se apresentar constantemente e a Dona Solange, como intitulava Tom Zé a Censura, cortou 54 canções de Gonzaguinha.

Revolucionou o mundo das Artes. Em 1975, dispensou empresário, é um dos fundadores da SOMBRAS, entidade de defesa dos Direitos Autorais e foi um dos primeiros Artistas a serem independentes de grandes gravadoras. Fundou seu próprio selo MOLEQUE. Gravou 18 discos na carreira. Teve vários sucessos seus gravados por Maria Bethânia (Explode Coração), Simone (Sangrando), Elis Regina (Redescobrir), Fagner (Guerreiro Menino) entre tantos.

Galope, encontrei uma fitinha cassete, nos idos de 1977. Era uma coletânea de MPB. A Gravação é do extraordinário MPB4. Mas a canção esta no segundo LP de Gonzaguinha, Luiz Gonzaga Júnior de 1974. Uma música que une o ritmo do sul maravilha com raízes nordestinas. Uma letra em homenagem ao Baião, mas que narra a História de um cabra (Cangaceiro ou sertanejo), linguagem cifrada, uma das primeiras criticas ao regime. Clic aqui e ouça a versão com o MPB4: http://migre.me/g18CY .

Galope
O galope só e bom quando é a beira mar
O galope só é bom quando se pode amar
Esse mote só é bom bem livre de cantar
Falar em morte só e bom quando é pra banda de lá
É sacode a poeira
Imbalança, imbalança, imbalança, imbalança
Casa de ferreiro, espeto de pau
Quem não engole espinha nunca vai se dar mal
Quem não dança minha dança é melhor nem chegar
Se puxou do punhal tem que sangrar
Tem que sangrar tem que sangrar
É sacode a poeira
Imbalança, imbalança, imbalança, imbalança bis
Me dê um cadinho de cachaça...
Me aqueça, me aperte, me abraça...
Depressa, correndo, vem ligeiro
Me dê teu perfume, dê um cheiro
Encoste em meu peito o coração
Vamos mostrar pr´esses cabras como se dança um baião
E quem quiser aprender é melhor prestar atenção
É sacode a poeira
Imbalança, imbalança, imbalança, imbalança bis
Deixa essa criança chorar, deixa essas criança chorar
Não adianta cara feia, nem adianta se zangar
Que ela só vai para quando essa fome passar
... e doutor,uma esmola a um pobre que é são
Ou lhe mata a vergonha, ou vicia o cidadão
É sacode a poeira
Imbalança, imbalança, imbalança, imbalança