sábado, 21 de setembro de 2013

ROMARIA

A ultima vez que estive em Aparecida do Norte, foi em 1984, nunca mais voltei. Fui em uma excursão da Pastoral da Juventude de meu bairro. Confesso que na época, resisti a ir. Vinha despertando para a politica e o senso critico esta mais que aguçado e não é raro exagerar nas conclusões. Um pouco de sectarismo e esquerdismo a flor da pele, odiei a viagem. Fiz a critica pela indústria do consumismo religioso. A fé sendo explorada, para fonte de lucros, de diversas formas. Não prestei á atenção na religiosidade expressa pelo pobres em suas manifestações de credo a mãe preta.

Com o passar dos anos aprimorei a critica, soube condensa-la e dialeticamente concluir com maior justiça. Aparecida e seu santuário, são exatamente a segunda casa, dos sem casa, sem terra, operários, donas de casas, indígenas, quilombolas. Casa do Sertanejo, do Ribeirinho e de todos os excluídos deste País. A identificação dos Pobres com a mãe do Brasil, é algo comovente. Naquele ano entrei na Basílica e lá pude observar nos rostos daquelas pessoas que ali, levavam oferendas (sim oferendas), a Nossa Senhora, só queriam suas bênçãos. Ou a subida das escadarias da Igreja, do Morro do Cruzeiro ou mesmo a trajetória a pé como fazem os Romeiros de Limeira, com o intuito de pagar promessas, sem dúvida nos enche de lágrimas.

Nossa Senhora Aparecida é junto com a Nossa Senhora Cubana, as únicas Negras, não só das Américas, como do mundo. A cor simbolize o que é o continente americano, uma mistura de raças e culturas. Uma mistura que constroem as riquezas, nem sempre distribuídas ao povo.  A Santa Negra é o conforto de um povo que sofre a mais de 500 anos a exploração do Capital. Um povo que busca na mística da Negra, encontrada por um pescador no Rio Paraíba, para enfrentar as mazelas do mundo.

Renato Teixeira, nasceu em Santos, mas desde cedo teve contato com o universo caipira, o que para ele foi o que mais o aproximou das coisas simples da vida e dos simples. Apareceu para Música em Festivais, onde Gal Costa em 1967 defendeu Dadá Maria e Roberto Carlos sua Romântica Madrasta em 1968, no Festival da Record. Mas foi Elis Regina a responsável em apresenta-lo definitivamente. Romaria, uma canção quase manifesto do Sertanejo da roça a procura da proteção de Nossa Senhora é lançada por ela, em 1977, no belo disco Elis. Renato vai gravar a canção um ano depois no quarto disco da carreira, intitulado Romaria.

Romaria é sempre o carro chefe de Renato, por onde vai tem que canta-la. Em 2004, assisti um espetáculo dele no Teatro Vitória em Limeira. A canção foi cantada pelo público inteirinha, formando um enorme coral de vozes. Minha adolescência aprendi a gostar de Romaria com minha mãe uma devota fervorosa da mãezinha preta. Clic e ouça Elis: http://migre.me/gajIq .


Romaria

Elis Regina

É de sonho e de pó
O destino de um só
Feito eu perdido
Em pensamentos
Sobre o meu cavalo
É de laço e de nó
De jibeira o jiló
Dessa vida
Cumprida a só
Sou caipira, pirapora
Nossa Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura e funda
O trem da minha vida (2x)
O meu pai foi peão
Minha mãe solidão
Meus irmãos
Perderam-se na vida
À custa de aventuras
Descasei, joguei
Investi, desisti
Se há sorte
Eu não sei, nunca vi
Sou caipira, Pirapora
Nossa Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura e funda
O trem da minha vida (2x)
Me disseram, porém
Que eu viesse aqui
Prá pedir de
Romaria e prece
Paz nos desaventos
Como eu não sei rezar
Só queria mostrar
Meu olhar, meu olhar
Meu olhar
Sou caipira, pirapora
Nossa Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura e funda
O trem da minha vida (2x)



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