sexta-feira, 26 de junho de 2009

O ARTISTA VAI ONDE O POVO ESTA


A Arte não pode estar descolada da sociedade. Qualquer obra, necessita não só falar do universo em que se vive, como ser uma fonte para construir cidadania e preservar tradições de um povo. O artista que não segue este preceito é constantemente levado pelo Deus Mercado e as ilusões do Show Business. Foi por conta desta concepção, que fiz esta Entrevista.


Conheci o Percussionista, formado em Administração de Empresas, Marco Lima, no II FESTIAFRO em 2006, apesar de ser vizinho dele. Não só conheci o maravilhoso som que ele tira de alfaias, tambores, e outros instrumentos, como o seu Projeto que originou a Banda Toc Percussivo.


De forma discreta, se propôs desde 2002, ensinar de graça a arte Africana e Brasileira do Batuque, á crianças pobres da periferia. Tudo isto, sem nenhum apoio institucional ou privado. È um Bandeirante da cultura, toca no mundo alternativo e não da nenhuma bola pro vil metal. Hoje é Presidente da recém criada ACARTE- Associação Cultural dos Artistas e Técnicos de Limeira- uma de suas iniciativas, provando que acredita ser a organização dos trabalhadores, a única forma de conquista de melhores condições de vida. O conteúdo da Entrevista é uma delicia, tenho certeza que os leitores do Blog vão concordar comigo. Marco Lima é destes Heróis anônimos que salvam vidas, sem querer recompensas. Sua arma é a Música.


1. Qual sua satisfação com o Projeto Toc Percussivo?

A grande satisfação não é ver as crianças entrando no Projeto e sim saindo do Projeto. Nosso intuito é ensinar a tocar percussão e vê-los por aí participando em bandas e se dedicando á arte musical. De vez em quando encontro alguns deles pelos festivais de música, convidados por músicos experientes e realizando seus trabalhos com competência. Alguns até já dão aulas. Deste projeto, surgiu a Banda Toc Percussivo na qual hoje participam 3 garotas que começaram com 6 e 8 anos de idade: Fernanda Cordaço 6, Rafaela Cordaço 8 e Laís Andrade 8, que hoje estão com 13 e 15 anos. São meu orgulho! Outro orgulho foi a honra do Toc ter participado da Virada Cultural Paulista 2009.

2. Como ele teve inicio e o que motivou sua criação?

O Projeto Toc Percussivo teve início em 2002 na Igreja São Francisco de Assis, no Jd. Independência. Fui convidado pelo ator Manoel Andrade a dar aulas de música para as crianças desta comunidade. No início éramos: Eu e Isabel Andréa (Professora de musicalização Infantil, hoje trabalhando na Secretaria da Cultura da Praia Grande – S.P.). Começamos com 12 crianças desta comunidade e depois de 06 meses abrimos vagas para mais 15 crianças dos Jardins Morro Branco e Abílio Pedro. Funcionou assim durante 05 anos. Hoje o projeto funciona de forma diferente. Temos feito parcerias com a Secretaria da Educação e de Cultura e levamos este projeto para Escolas Municipais na forma de oficinas de Rítmos para despertar na criançada o gosto pela música regional e folclórica.

3. Quem se apaixonou primeiro, você pela Percussão ou ela por você? Quando este casamento teve inicio e o porque do interesse?

Na verdade eu creio que não foi paixão e nem houve casamento. Somos “Siameses”, nascemos grudados. Creio que já nasci batucando no meu berço (risos). Sempre tive interesse por sons desde que me conheço por gente. Meu pai é músico “tocador de músicas de raiz” e desde criança na minha casa sempre teve visita de músicos. Minha primeira participação em uma Banda foi aos 12 anos de idade. Era uma banda da Comunidade de Jovens da Igreja São Benedito. Já nessa época participávamos de Festivais de músicas pelo Estado de São Paulo. A partir daí não parei mais. Já são 31 anos de música. Nooosssaaa como o tempo passa! (risos)..


4. O que é largar a profissão de Administrador de Empresas, para seguir o caminho da Música?

Bom.. Na verdade eu não abandonei a profissão de Administrador de Empresas. Eu ainda administro várias Empresas: Minha Banda Toc Percussivo, Minha Lutheria de Instrumentos de Percussão, A Associação Cultural dos Artistas e Técnicos de Limeira, o Projeto Toc Percussivo e minhas Oficinas de Artes. Quando comecei, a música era uma atividade paralela, hoje tenho o privilégio de fazer da Arte minha principal atividade.


5. Quais são suas influências Musicais?

Minhas influências musicais são muitas: Primeiro as músicas de raiz que me acompanharam na infância, depois como todo garoto rebelde ouvi muito as grandes Bandas de Rock dos anos 60 a 80. A partir dos nos 80 comecei a tocar MPB, mas as grandes influências que carrego hoje, vieram mesmo das experiências em Festivais de Música. Este meio musical é o celeiro dos maiores músicos do Brasil. Foi nestes Festivais que conheci as músicas regionais e tive a oportunidade de ouvir e de tocar com grandes interpretes e grandes músicos. Hoje a Banda Toc Percussivo é um pouco de tudo isso, além de Antonio Nóbrega, Nação Zumbi, Ânima, Cordel do Fogo Encantado etc.


6. È verdade que você é um artesão? Como é isto? O que você produz?

Sim.. Mas quem te contou ? (risos) Bom... eu crio os meus próprios instrumentos percussivos, faço esculturas com talheres, faço trabalhos com aramados, entre outras coisinhas..Na verdade eu gosto mesmo é de estar produzindo arte. É um vício que tenho! Faço muitas coisas com sucatas e sementes. Dificilmente jogo coisas no lixo. Tenho um espaço na minha casa onde tem de tudo um pouco (risos)... Minha sorte é a minha adorada esposa ainda não ter me jogado no lixo .. (risos)


7. Alem do Toc, onde mais você toca?

Hoje eu me dedico além do Toc Percussivo á Banda Avena, dou aulas de música pela Escola Popular de Música de Limeira, dou aulas particulares, faço Oficinas de Rítmos pela Secretaria do Estado e ás vezes toco na noite com alguns músicos Limeirenses.

8. Toca por prazer ou por sobrevivência?

Sempre toquei por prazer e com muito prazer. É claro que toda arte tem que ter sua recompensa monetária para poder se manter, mas a remuneração é sempre um segundo plano. Sou como o Oswaldo Montenegro conta também em uma entrevista que vi. Não sou muito bom em cobrar pelos meus trabalhos artísticos, vou muito pela emoção de produzir e subir em um palco. Muitos dos meus trabalhos faço de forma gratuita ou cobro o mínimo necessário para a manutenção e se ficarem me devendo, tenho dificuldade em cobrar.

9. Quer ser famoso ou contribuir para tirar uma criança das ruas?

Famoso? Não sei.. Mas ter o trabalho reconhecido é muito bom. É por isso que fazemos ARTE. Não há nada mais prazeroso do que você estar em um palco e receber os aplausos pelo trabalho realizado. Isso é o nosso combustível. Tirar as crianças da rua é uma tarefa que não depende só da nossa vontade. Depende também de apoio financeiro para você manter um Projeto. Ser voluntário é mais do que doar tempo e dedicação. A gente muitas vezes tira dinheiro do bolso pra manter um projeto voluntário. O que já fiz muito! Hoje procuro elaborar projetos em parceria com o Estado e Município para viabilizar esse tipo de atividade.

10. Como você vê as políticas públicas na área Cultural em Limeira?

Nosso grande problema é que a política pública cultural não é constante. Temos grandes épocas de atividades culturais durante os tempos de “vacas gordas”, mas é só o mercado financeiro “balançar” e cadê as atividades culturais? Cadê o investimento nas crianças? A cultura é uma das primeiras a ser afetada no orçamento anual em tempo de crise. Depois de um tempo vem todo mundo correndo atrás do prejuízo, com os discursos: “Vamos acabar com os pichadores!”, “Vamos tirar as crianças da rua!”, “Vamos ensinar música nos presídios!” e etc. etc etc. Como se nós artistas fossemos mágicos ou a fórmula da salvação.

11. O Artista pode ter engajamento político e social?

O artista por si só, mesmo sem saber já é um agente político e social. Muitos não querem assumir um lado politizado, mas isso é extremamente necessário. Ser politizado não quer dizer ser político e sim saber expressar suas idéias e ideais, cobrar pelas necessidades pelas quais acredita, independente de partido político e contribuir para o meio em que vive.

12. Como vê a classe artística na cidade?

A classe artística de Limeira é super dividida. Muitos nem se conhecem e não tem o costume de se unirem. Há três meses, nós artistas de Limeira vimos nos reunindo para discutir o assunto e há um mês fundamos a “ACARTE” Associação Cultural dos Artistas e Técnicos de Limeira na qual fui eleito Presidente. Estamos procurando reverter este quadro e lutar por melhores oportunidades, além de contribuir para a formação e bem estar da classe artística de Limeira.

13. Quais os projetos para o futuro?.

Estou tentando viabilizar alguns projetos Culturais, tentando patrocínio para gravar o CD da Banda Toc Percussivo, buscando espaços para shows, quero também buscar fortalecer a classe artística de Limeira através da ACARTE, pela qual tenho o sonho de uma sede própria com espaço para apresentações culturais e prosseguir com minha luta em prol da cultura.

Para encerrar, gostaria muito de agradecer ao meu grande amigo Janjão, pelo convite, pela oportunidade de poder falar mais um pouco sobre minhas atividades e pelo carinho para com o meu trabalho e do Toc Percussivo.
Grande abraço a todos vocês e até uma próxima oportunidade.

Abaixo a Agenda de atividades deste Fantástico Artista e do Projeto Toc Percussivo:

Agenda de Shows do Toc Percussivo:

Dia 09 de Agosto Participação no Teatro Vitória do Encontro de Artistas Limeirenses.

Dias 20 e 21 de Agosto Show em Cosmópolis

Dia 22 de Agosto na Festa do Morango em Limeira

Agenda Pessoal:

Oficina de Construção de Instrumentos na Praia Grande – S.P. dias 16, 17 e 18
de Julho

Oficina de Sonoplastia Teatral nos dias 13/9 A 18/10 em Mogi Mirim

CONTATOS NA INTERNET

http://www.tocpercussivo.blogger.com.br/
http://www.percussionista.blogger.com.br/
http://www.cajon.blogger.com.br/
http://www.projetoc.blogger.com.br/

SÉRIE: A MÚSICA INSPIRA UM CONTO- II


CARNAVAL


Hoje acordei no horário de costume, as seis da manhã. Já não durmo quando tinha, 20 ou 40 e até 50 anos, minhas noites tem sido encurtadas para o sono. Levanto faço o café, o qual aprendi bem tarde a faze-lo, até pouco, Maria é quem fazia. Alias tudo fazia, eu não sabia nem fritar ovos, quem dera então cozinhar o básico, feijão, arroz e bife. O pão costumo buscar mais tarde na padaria do seu Nico, mesmo porque nesta refeição e nas outras a única companhia que tenho é Marcellus um gato que ganhei de minha neta, Sonia que pouco a vejo. O nome do bichano foi uma de minhas distrações. Busquei no baú velho, as revistas de um semanário dos anos 50, intitulado Cinelândia. Lá comecei a procurar nomes de personagens de fitas da sétima arte. Encontrei em o Manto Sagrado. Era o nome do Centurião Romano, interpretado por Richard Burton. Este filme é um de meus favoritos, o preservo em VHS, uma das cópias que fiz nos anos 90, antes do advento do DVD.

Há anos que minha rotina tem sido, a de após o café e a compra de pães, ir a banca de jornal localizada no farol de cruzamento de duas avenidas, e papear com os “velhinhos”, meus amigos de conversas, sobre o Palmeiras, a falta de dinheiro, a Aposentadoria de fome, as dores físicas e só. Nem sei porque freqüento estas rodas, elas colocam qualquer sujeito no maior baixo astral. Mas prosseguindo a vidinha (que não pedi a Deus). Depois dos papos pra lá de entendiantes, faço um ritual desnecessário. O de ir até o banco onde recebo minha aposentadoria e retiro o extrato da conta. Só um dia do mês ela tem saldo, mas me diverte o fato de nunca ter dinheiro.


Antigamente me revoltava este fato, pois pensava que políticos e patrões ganhavam rios de dinheiro explorando os pobres mortais. Porem me da alivio de consciência, pois tudo o que ganhei e ganho foi com honestidade e muito trabalho. Volto para casa, da mesma forma que fui. Ônibus, graças ao beneficio da gratuidade para os mais de 65 anos de idade. Chego e esquento o que sobrou da janta no único pertence que sobreviveu, após a ida de minha esposa, o microondas.


Assisto esportes do meio dia, fico entristecido com a ignorância de nossos meios de comunicação, que não informam, deformam. Depois, me resta a Sesta, que não dura mais que quinze minutos. Fico mais tempo na cama, mas de olhos bem abertos, pensando o quanto minha vida é interessante. No fim de tarde, recebo uma visita, é a vizinha, que passa minhas roupas. Ela é viúva, conservada e acho que me procura todo dia, para um romance. Finjo que nada vejo. Pra falar a verdade, não me interessa, desde..... A vizinha fica o tempo suficiente, para que eu a dispense com desculpas do tipo, preciso tomar banho(quando é visível que já o fiz), ou vou sair (estou quase sempre de pijamas neste horário). E pra terminar, talvez o único prazer: Ler as obras de Garcia Márquez. Seus escritos principalmente, Amor nos Tempos do Cólera e Memórias de Minhas Putas tristes, falam de recomeço ou um novo começo para o velho.

Estas leituras, não servem para nenhuma lição ou dica de futuro. Mas são nelas que encontram o Nirvana. Chego a ter ereções, ao imaginar a putinha de memórias ou a Fermina do cólera. O ambiente épico e latino Americano de Garcia Marques, contribuiu para um erotismo, desprovido de pornografia, mas cheio de malicia e sacanagem. Isto me faz recordar as noites de caricia e ternura, com minha Maria. A primeira, foi temida e tímida, até apressada. Mas com o tempo, parecíamos dois personagens do Kama Sutra. Ela me completava, ao me deixar entrar dentro, vivíamos uma explosão de cosmos e estrelas. Os suores e o cheiro de porra, davam o perfume de nosso coito. Deixo o livro e termino me masturbando e chorando.

Mas hoje, parece que não to afim de cumprir a jornada diária. Algo me picou.

Faz dez anos, que Maria partiu. Fiquei literalmente encerrado em casa, durante dois anos. Não saia pra nada. Minha filha é quem trazia comida, roupa lavada, a qual não comia e não trocava. Queria morrer, não me matar, sou cristão. Um dia vi que a melhor forma de me juntar a minha amada é viver e não viver. Fazer as coisas mecanicamente, cair na monotonia sem motivo algum. Mas me dou conta neste momento que apesar da tristeza, não estou a morrer. Percebo que ao contrario do que pensei, algo me dá energia para continuar. È como se cada coisa que faço, é o sentido perdido á uma década.

Um fogo sai de minhas entranhas, percorre o sangue em minhas veias. To renascido? Não sei. Só sei que não quero partir, nem espiritualmente, nem tão pouco carnalmente. Sacudir a poeira? Não sei. Fazer algo diferente? Casar? Não sei de nada, ainda. Só sei que quero viver, buscar o caminho das pedras, das montanhas, dos mares. Buscar o caminho da volta, do passado, presente, futuro.

Hoje 23 de Junho, completo Setenta Carnavais e é isto que quero na vida: CARNAVAL.

Começar De Novo
Ivan Lins
Composição: Ivan Lins / Vitor Martins

Começar de novo e contar comigo

Vai valer a pena ter amanhecido

Ter me rebelado, ter me debatido

Ter me machucado, ter sobrevivido

Ter virado a mesa, ter me conhecidoT

er virado o barco, ter me socorrido

Começar de novo e só contar comigo

Vai valer a pena ter amanhecido

Sem as tuas garras sempre tão seguras

Sem o teu fantasma, sem tua moldura

Sem tuas escoras, sem o teu domínio

Sem tuas esporas, sem o teu fascínio

Começar de novo e só contar comigo

Vai valer a pena já ter te esquecido

Começar de novo...

EM TEMPO: Este texto é dedicado ao meu Pai, que fez 70 anos no dia 23 de Junho.